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SP: Internações por covid desaceleram e transmissão indica estabilidade

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

07/02/2022 04h00

Após o salto de contaminações causado pela variante ômicron do coronavírus, o cenário da pandemia no estado de São Paulo começa a mudar de curso, segundo levantamento feito pelo Infotracker —plataforma de monitoramento de dados da USP e da Unesp— a pedido do UOL.

A variação de internações por covid-19, apesar de se manter em um patamar alto, apresentou uma desaceleração no mês de fevereiro, na comparação com janeiro. No mesmo período, a taxa de transmissão (Rt) apontou para uma estabilidade.

Os dados apontam que:

  • Até o dia 13 de dezembro do ano passado, a variação de novas internações por covid-19 estava abaixo de 0% (-0,3%);
  • A partir do dia 14 do mesmo mês, o índice subiu para 4,65% e seguiu crescendo;
  • Em 14 de janeiro, taxa de internações atingiu o pico, com 53,6%.

Esse índice foi caindo com o passar do mês de janeiro até ficar abaixo de 0% novamente em 1º de fevereiro. Na quinta-feira (3), estava em -9,4% —nível semelhante ao mês de dezembro do ano passado.

O número total de pessoas internadas por dia também apresentou leve queda nos últimos dias. O pico, por enquanto, foi em 29 de janeiro, com 11.532 pacientes internados. Na última quinta, esse número caiu para 11.210.

A taxa de transmissão (Rt) sinaliza um movimento semelhante de desaceleração. O levantamento aponta que:

  • O índice passou de 1,00 em 8 de janeiro (1,02) e segue em ascensão. Mas, na última semana, em ritmo menor;
  • Entre 1º e 3 de fevereiro, a taxa subiu de 1,85 a 1,87. É como se 100 pessoas infectadas transmitissem a doença para outras 187.

A variação de novas internações mede o ritmo com que as pessoas estão sendo internadas nos últimos 14 dias —a conta é feita comparando o total de internações dos últimos sete dias com o dos sete dias anteriores, deixando os dados mais próximos da realidade, segundo especialistas. Se o resultado é maior que 0%, significa crescimento nas internações. Se está abaixo de 0%, indica uma queda em relação à semana anterior.

A taxa de transmissão envolve um cálculo mais complexo, com auxílio de inteligência artificial a partir dos dados de novos casos, curvas de vacinação, pacientes recuperados e óbitos. Os números são coletados junto às prefeituras do estado paulista.

'Luz no fim do túnel'

Diante do aumento da demanda por atendimentos hospitalares no começo do ano, a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo chegou a remanejar mais 700 leitos exclusivamente a pacientes com covid-19. No estado, até sexta (4), a taxa de ocupação de leitos de UTI para covid estava em 72,2%, de acordo com o governo. Nas enfermarias, era de 68%.

Para o epidemiologista Paulo Menezes, coordenador do Comitê Científico da gestão João Doria (PSDB), o cenário ainda é delicado e as medidas sanitárias devem ser mantidas —como o uso de máscaras e a orientação para evitar aglomerações. Mas ele confirma que os dados indicam que há uma redução a caminho.

"Os indicadores mostram que, a partir do meio de dezembro, temos um ritmo de subida cada vez mais rápido, que atinge o pico no fim de janeiro. Agora, está indicando uma redução", diz o médico.

"Embora a situação sanitária ainda esteja crítica, em algumas regiões é possível visualizar os primeiros sinais de perda de fôlego da doença", diz Wallace Casaca, um dos coordendores do Infotracker. "Isso não significa que a situação esteja sob controle, em vista do elevado patamar em que os contágios e as internações se encontram, similar a janeiro de 2021, mas já é possível observar uma luz no fim do túnel se formando."

O infectologista Benedito Fonseca, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP), avalia que, apesar dos novos casos estarem diminuindo, a pressão no sistema de saúde ainda é grande.

"Aqui em Ribeirão Preto, nossas enfermarias estão lotadas e estamos abrindo novos leitos. Nós esperamos o que observamos em outros países: uma alta taxa de transmissão com aumento do número de casos, mas que tende a ter uma descendência mais rápida", afirma.

Fonseca e outros especialistas defendem que o alto índice de vacinados contribui para que a maior parte dos pacientes não apresente quadros mais graves da doença —80,8% dos paulistas completaram o esquema vacinal, segundo o governo.

Levantamentos feitos em São Paulo e no Rio de Janeiro apontam que a maioria do internados não se vacinou completamente ou sequer tomou uma dose.