Topo

Covid: Vacinação ameniza nova onda, mas variantes ainda preocupam médicos

iStock
Imagem: iStock

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

04/06/2022 04h00

A vacinação de 83% da população brasileira com ao menos uma dose contra a covid-19 ameniza a possibilidade de uma nova onda de transmissão da doença como a observada entre o fim do ano passado e o início deste ano, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

Apesar da tendência de alta dos casos conhecidos registrada desde o início de maio, a perspectiva é que não há, neste momento, risco de lidar novamente com hospitais e cemitérios lotados, como em outros momentos da pandemia. No entanto, infectologistas e autoridades alertam que a postura recomendada ainda é de atenção, principalmente por causa do surgimento de novas variantes do Sars-CoV-2.

"É importante a manutenção de medidas restritivas. O racional e correto é se usar máscara em ambientes fechados e em aglomeração, por exemplo", diz Vera Magalhães, infectologista e professora da pós-graduação em Medicina Tropical da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Na última semana, o governo de São Paulo voltou a recomendar — de forma não obrigatória — o uso de máscaras em ambientes fechados. O Distrito Federal anunciou a mesma ação.

Monitoramento da transmissão

O dado usado para medir a taxa de contaminação é chamado de Rt. O teto considerado pelos cientistas para essa taxa é 1. Quando o Rt fica acima de 1, indica alta nas infecções.

De acordo com dados do Info Tracker, a plataforma de monitoramento da pandemia da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade Estadual Paulista), é possível visualizar como os novos casos hoje aumentam, mas em menor proporção que no final de janeiro e o começo de fevereiro, quando a variante ômicron se espalhou pelo país.

No começo de fevereiro, o Rt chegou ao patamar mais elevado até hoje: 2,1. Isso significa que cada 100 pessoas contaminadas estavam infectando outras 210 pessoas.

O índice caiu ao longo de fevereiro e no meio de março, quando começou a subir e ainda não parou. No dia 1º de junho, chegou a 1,48. A taxa só está abaixo de 1 nas regiões Norte (0,86) e Nordeste (0,99). O Sudeste registra 1,52; o Sul, 1,46; e o Centro-Oeste, 1,67.

Os dados de novas infecções, com números coletados do Ministério da Saúde pelo InfoTracker, apontam um movimento semelhante. Houve alto número de casos conhecidos no começo do ano e, agora, um novo crescimento, mas em menor proporção.

O aumento do número de casos conhecidos reflete no número de pessoas que desenvolvem casos mais graves e se internam nos hospitais. Levantamento do Info Tracker, no estado de São Paulo também aponta que a média móvel de novas internações aumentou 74% em três semanas.

"Onda silenciosa"

A epidemiologista Ana Maria de Brito, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Pernambuco, diz que essa "onda silenciosa" de covid se dá pela combinação entre o fim das restrições de circulação e um período de surgimento de subvariantes da ômicron.

"Assistimos a um recrudescimento da pandemia com a variante BA.1 e, neste momento, temos a subvariante da ômicron [BA.2], que tem como principal característica o aumento da transmissibilidade", afirma a cientista.

Ela ressalta que o monitoramento da doença também deixa a desejar, o que dificulta o entendimento da gravidade do cenário da covid-19 no país. "O número de testes realizados não é maior, não aumentou. Os testes rápidos não são computados, há uma progressiva redução da ação pública no enfrentamento da covid. E também é preciso desenvolvimento de atualizações das vacinas e medicamentos contra a doença".

No Brasil, os autotestes, mesmo com resultado positivo, não são computados pelas autoridades. Isso implica subnotificação dos casos.

A infectologia Vera Magalhães reforça a fala da colega. "Nós vamos precisar conviver com o vírus, mas temos de conviver de forma responsável e consciente. Não é possível ignorá-lo. É importante novas versões da vacina, mais eficientes com as novas variantes, para reduzir a transmissão viral", diz.

Mais uma dose?

O aumento dos casos tem gerado dúvidas em parte da população em torno da aplicação da quarta dose da vacina ainda neste ano. A resposta, por enquanto, é inconclusiva.

"O que recomendamos é a necessidade de reforçar que as pessoas tomem as doses de reforço. Ainda há um número grande de pessoas de todas as faixas etárias que ainda não tomou todas as doses. Até agora, não temos evidências suficientes para dizer que a quarta dose seja necessária para todas as idades", explica a infectologista Vera Magalhães.

Paulo Menezes, coordenador do Comitê Científico do governo de São Paulo, chama atenção para disponibilidade de vacinas. "Não adianta apenas recomendar e não ter as vacinas necessárias para aplicar no público. Mas, de qualquer forma, até agora, não temos evidências suficientes para fazer com que quarta dose seja necessária para todas as idades".

Hoje, a quarta dose (ou segunda dose de reforço) está liberada para pessoas acima de 60 anos e imunossuprimidos em todo o Brasil. Mas o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, promete ampliar a faixa para 50 anos.