'Zé Gotinha é o c...': como mascote herói da vacinação virou meme político
Aquele Zé Gotinha que servia como um amigo para encorajar as crianças na hora da picadinha da vacina virou figura política entre os adultos. O mascote já era usado como meme para dar recado aos negacionistas da covid-19 e agora virou provocação contra Jair Bolsonaro e seus aliados.
O ex-presidente, que afirma que nunca se vacinou, enfrenta suspeitas de falsificação em seu cartão de vacinação, que mostrava que ele teria sido imunizado. Nas redes sociais, muitos comemoraram a "vingança" do personagem, após anos de falta de apoio do governo às campanhas tão amadas por Zé — ou "senhor José Gota", para os menos íntimos.
O mascote foi homenageado até pelo Governo Federal, que usou o Zé Gotinha para falar da importância da vacinação em viagens ao exterior — coincidentemente (ou não) horas depois da operação da PF contra Bolsonaro e seus aliados, que sempre apoiaram teorias da conspiração sobre os imunizantes.
Ele também ganhou status de "craque do jogo" na operação da Polícia Federal, que começou com a luta dos investigados contra o propósito de Zé Gotinha, entre outros memes.
A história do mascote
Zé Gotinha foi criado como uma tentativa de estimular a vacinação infantil. A criação do mascote foi ideia do artista plástico mineiro Darlan Rosa, que foi convidado pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Unicef, para desenvolver um personagem que estampasse as campanhas de vacinação de crianças.
O personagem fez sua estreia em 1986, como símbolo da campanha de erradicação da poliomielite. A doença é causada por um vírus e a vacina chegou ao Brasil em 1955. Mas, décadas depois, a resistência da população ao imunizante era contínua. Darlan acompanhou a vacinação no Nordeste por alguns meses e concluiu que era necessário retirar o "estigma" em torno do assunto, investindo em uma abordagem mais lúdica.
Zé Gotinha enfrentou resistência do próprio ministério, que o considerava lúdico demais, mas acabou incluído em cartazes e faixas sobre a vacinação. As informações foram confirmadas pelo criador do mascote em entrevista à FioCruz.
Seu nome foi escolhido por sugestão de crianças. Elas enviaram propostas via Correios após serem "convocadas" por uma propaganda de TV.
O Brasil erradicou a pólio em 1994. Com o sucesso, o Zé Gotinha ganhou uma promoção e virou ícone de todo o Programa Nacional de Imunização.
Quando chegavam, as mães escondiam as crianças debaixo das camas, com medo de que a vacina traria alguma forma de doença. Isso estava errado. A erradicação (da pólio) deveria ser uma festa da qual a criança participava.
Darlan Rosa, criador do Zé Gotinha, ao Museu da Uberlândia em 2016
* Com informações da matéria "Como o Zé Gotinha e as campanhas de vacinação mudaram o Brasil", publicada em 5/12/2020, em TAB UOL
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