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'Zé Gotinha é o c...': como mascote herói da vacinação virou meme político

27.02.23 - Com Zé Gotinha, o presidente Lula é vacinado contra a covid-19 pelo vice-presidente Geraldo Alckmin em um posto de saúde do Guará (DF) - Ricardo Stuckert
27.02.23 - Com Zé Gotinha, o presidente Lula é vacinado contra a covid-19 pelo vice-presidente Geraldo Alckmin em um posto de saúde do Guará (DF) Imagem: Ricardo Stuckert

Do UOL, em São Paulo*

04/05/2023 12h10Atualizada em 04/05/2023 19h04

Aquele Zé Gotinha que servia como um amigo para encorajar as crianças na hora da picadinha da vacina virou figura política entre os adultos. O mascote já era usado como meme para dar recado aos negacionistas da covid-19 e agora virou provocação contra Jair Bolsonaro e seus aliados.

O ex-presidente, que afirma que nunca se vacinou, enfrenta suspeitas de falsificação em seu cartão de vacinação, que mostrava que ele teria sido imunizado. Nas redes sociais, muitos comemoraram a "vingança" do personagem, após anos de falta de apoio do governo às campanhas tão amadas por Zé — ou "senhor José Gota", para os menos íntimos.

O mascote foi homenageado até pelo Governo Federal, que usou o Zé Gotinha para falar da importância da vacinação em viagens ao exterior — coincidentemente (ou não) horas depois da operação da PF contra Bolsonaro e seus aliados, que sempre apoiaram teorias da conspiração sobre os imunizantes.

Ele também ganhou status de "craque do jogo" na operação da Polícia Federal, que começou com a luta dos investigados contra o propósito de Zé Gotinha, entre outros memes.

A história do mascote

Zé Gotinha foi criado como uma tentativa de estimular a vacinação infantil. A criação do mascote foi ideia do artista plástico mineiro Darlan Rosa, que foi convidado pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Unicef, para desenvolver um personagem que estampasse as campanhas de vacinação de crianças.

O personagem fez sua estreia em 1986, como símbolo da campanha de erradicação da poliomielite. A doença é causada por um vírus e a vacina chegou ao Brasil em 1955. Mas, décadas depois, a resistência da população ao imunizante era contínua. Darlan acompanhou a vacinação no Nordeste por alguns meses e concluiu que era necessário retirar o "estigma" em torno do assunto, investindo em uma abordagem mais lúdica.

Zé Gotinha enfrentou resistência do próprio ministério, que o considerava lúdico demais, mas acabou incluído em cartazes e faixas sobre a vacinação. As informações foram confirmadas pelo criador do mascote em entrevista à FioCruz.

Seu nome foi escolhido por sugestão de crianças. Elas enviaram propostas via Correios após serem "convocadas" por uma propaganda de TV.

O Brasil erradicou a pólio em 1994. Com o sucesso, o Zé Gotinha ganhou uma promoção e virou ícone de todo o Programa Nacional de Imunização.

Quando chegavam, as mães escondiam as crianças debaixo das camas, com medo de que a vacina traria alguma forma de doença. Isso estava errado. A erradicação (da pólio) deveria ser uma festa da qual a criança participava.
Darlan Rosa, criador do Zé Gotinha, ao Museu da Uberlândia em 2016

* Com informações da matéria "Como o Zé Gotinha e as campanhas de vacinação mudaram o Brasil", publicada em 5/12/2020, em TAB UOL