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Brexit marca a disputa pela sucessão do premiê britânico David Cameron

29/06/2016 09h16

Londres, 29 Jun 2016 (AFP) - O Partido Conservador britânico abre nesta quarta-feira o processo para suceder David Cameron como primeiro-ministro, com Boris Johnson como principal favorito, enquanto segue viva a revolta contra o líder trabalhista Jeremy Corbyn.

O objetivo é que o novo líder conservador, e automaticamente primeiro-ministro, esteja no cargo no início de setembro para começar a negociar o quanto antes a saída da União Europeia que os britânicos pediram no referendo de 23 de junho.

Entre quarta-feira e quinta-feira, os deputados conservadores que quiserem assumir o cargo poderão apresentar sua candidatura.

No caso de apenas um candidato, ele será automaticamente eleito. Caso outros se apresentem, os 330 deputados conservadores escolherão dois e os submeterão ao voto da militância.

A ministra do Interior, Theresa May, é a mais bem posicionada para enfrentar Johnson, como parte de uma operação batizada pela imprensa como "Qualquer um, menos Boris".

Uma parte do Partido Conservador não perdoa Johnson por ter se desvinculado de David Cameron e liderado a campanha do Brexit, que carecia até sua chegada de uma figura de tanto peso.

Nem May, nem Johnson, anunciaram sua intenção de disputar o posto, mas a candidatura é tida como certa. Apenas o ministro do Emprego, Stephen Crabb, comunicou oficialmente que buscará a vaga.

Em seu último artigo no Daily Telegraph, o ex-prefeito de Londres afirmou que esperava "responder às expectativas dos 17 milhões de britânicos que votaram a favor de que o Reino Unido abandone a UE".

O pai de Johnson, Stanley, que foi eurodeputado conservador e defendeu a permanência na UE, disse que "Boris é o mais bem colocado para alcançar um novo acordo com a União Europeia, um acordo que reflita a visão otimista e aberta ao mundo deste país".

"Embora tenhamos feito campanha em grupos opostos durante o referendo, Boris tem meu pleno apoio", disse o pai.

Revolta no Partido TrabalhistaNesta quarta-feira, o Parlamento se reuniu na sessão semanal de perguntas ao primeiro-ministro, com o destino de Cameron já definido e o do líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, pendurado por um fio.

Em sua alocução, Cameron pediu a Corbyn, que renuncie ao cargo, unindo-se à revolta trabalhista, em um gesto e tom de voz pouco comuns.

"Deveria ser do interesse de meu partido que ele ficasse, mas não é do interesse nacional, por isso devo dizer: pelo amor de Deus, homem, vá embora!", afirmou Cameron a Corbyn, em tom irritado, durante a sessão parlamentar de perguntas ao primeiro-ministro.

Na véspera, o líder opositor afirmou que não renunciará ao cargo, apesar de ter perdido uma moção de censura por 172 votos contra e 40 a favor por causa do resultado do referendo do Brexit.

A moção não obriga Corbyn, de 69 anos, a abandonar o cargo, já que deve ser ratificada pelos afiliados do partido.

Mas coloca em uma situação muito difícil o experiente político socialista, acusado de falta de liderança durante a campanha do referendo.

"Fui eleito democraticamente líder do nosso partido para uma nova forma de fazer política, por 60% dos membros trabalhistas e seus partidários, e não vou traí-los mediante uma renúncia. A votação dos deputado não tem qualquer legitimidade", afirmou Corbyn em um comunicado.

Neste momento crucial, Corbyn parece desfrutar do apoio dos líderes sindicais.

O líder trabalhista é criticado por ser incapaz de seduzir o eleitorado, depois que 37% dos trabalhistas de todo o país votaram contra a linha oficial do partido e optaram pela saída do Reino Unido da União Europeia, alinhando-se com a ala mais direitista do Partido Conservador e com o partido anti-imigrantes UKIP.

Corbyn perdeu, assim, sua primeira grande disputa desde que foi eleito, em setembro de 2015. Já foi abandonado por mais da metade de seus "ministros à sombra", como são conhecidos os porta-vozes das diferentes áreas da oposição.