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Dilma Rousseff na fase final de seu dramático julgamento de impeachment

25/08/2016 14h25

Brasília, 25 Ago 2016 (AFP) - Sob um clima de alta tensão, o Senado iniciou nesta quinta-feira a última etapa do julgamento de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff que, segundo todas as previsões, terminará por afastá-la definitivamente do poder.

"Qual é a moral desse Senado para julgar a presidente Dilma?", questionou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

"Sim, temos moral e vamos a cumprir com nossa missão", respondeu o senador Lasier Martins (PDT-RS), que já se pronunciou a favor do impeachment.

O final desse dramático julgamento político ocorre após meses de acusações, que dividiram um país imerso em recessão galopante, desemprego crescente (mais de 11 milhões de pessoas) e um enorme escândalo de corrupção envolvendo toda a classe política.

Mais da metade dos 81 senadores que decidem o futuro político da chefe de Estado afastada são citados ou investigados em casos de corrupção.

Especialistas concordam que apenas um milagre pode devolver o poder à ex-guerrilheira, acusada de maquiar as contas públicas.

Nesse caso o mandato de Dilma Rousseff será completado até 2018 por Michel Temer, no governo desde maio, quando Dilma foi afastada do poder.

As pesquisas indicam uma tendência praticamente irreversível em favor da destituição, que requer uma maioria especial de 54 votos (dois terços) dos 81 senadores. A votação final, na qual será definido se seu mandato será ou não impugnado, está prevista para o início da próxima semana.

Estou muito preocupada porque esse processo é um trauma, uma situação muito complexa para o Brasil", disse à AFP Mara Campos, de 50 anos, funcionária pública em Brasília.

Um final inesperadoA destituição de Dilma também é um final inesperado de governo para o emblemático Partido dos Trabalhadores, a gigantesca força de esquerda de Lula e Dilma que assumiu as rédeas do poder há 13 anos.

Dilma recebeu um país com o legado de uma economia em expansão deixado por seu padrinho político, galgada por programas sociais, como o Bolsa Família, reconhecidos internacionalmente.

Nos primeiros anos de glória do PT, o país foi escolhido para celebrar a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos, os primeiros da América do Sul.

Mas este "boom" econômico, que foi motor de crescimento para a região, começou a cambalear durante o primeiro governo de Dilma. E atualmente já ficou para trás.

O descontentamento social cresceu, as mobilizações ao som de "Fora Dilma!" se multiplicaram e a popularidade da presidente desabou. Dilma não conseguiu dar a guinada que o país precisava para fazer sua economia voltar aos trilhos.

A tempestade perfeita aconteceu com as revelações de grandes escândalos de corrupção. O maior e mais noticiado foi a gigantesca trama de desvio de dinheiro na Petrobras que custou mais de 2 bilhões de dólares à empresa.

As acusações atingiram em cheio o PT e chegaram ao próprio Lula (2003-2010).

"Golpe de Estado"Caso seja sentenciada, Dilma ficará impedida de ocupar cargos públicos por oito anos. Se for absolvida, ela retorna imediatamente ao comando do país.

Dilma insiste que é "inocente" e denuncia ser vítima de um "golpe de Estado" orquestrado por Temer, do PMDB.

Isolada, a presidente viveu uma espécie de exílio no Palácio da Alvorada, a residência oficial.

A suspensão temporária, em maio, de Dilma Rousseff no governo melhorou levemente a confiança no país, sob o governo interino de Temer.

Recuperar a economia, com prováveis medidas de austeridade, é apenas um dos desafios enfrentados por Temer, caso ele permaneça no cargo. E tudo isso com uma popularidade de apenas 13% e sem a legitimidade das urnas.

Com o desemprego em níveis recorde, a inflação se aproximando dos dois dígitos e um enorme déficit fiscal, a economia brasileira se contrairia 3,27% neste ano, segundo o último relatório do Banco Central.