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Temer, o eterno vice que assumiu a presidência

31/08/2016 18h40

São Paulo, 31 Ago 2016 (AFP) - No crepúsculo de uma vida política que parecia destinada aos bastidores do poder, o então vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) mudou de planos. Não queria as sombras, mas governar o Brasil. Acabou conseguindo nesta quarta (31), com o impeachment de Dilma Rousseff, cuja queda ele mesmo precipitou.

Culminada a queda no Senado daquela que foi sua aliada por meia década, esse estrategista de 75 anos tomou posse hoje como presidente, prometendo uma "nova era" no Brasil.

Agora, todos os holofotes se voltam para ele, que deve deve permanecer no cargo até o final de 2018.

Há 15 anos presidente do PMDB, fiel da balança de todas as maiorias de governo desde 1994, Temer acumulou rancores em cinco anos de um casamento de conveniência com Dilma.

Em dezembro de 2015, esse conciliador pouco afeito a rompantes e gestos imprevistos surpreendeu, ao expor sua mágoa e condenar Dilma por tê-lo desprezado, tratando-o como um "vice-presidente decorativo".

Velha raposa da política, Temer orquestrou no final de março o desembarque do PMDB de um governo agonizante. Esse golpe de misericórdia acabaria levando ao afastamento de Dilma por parte do Senado, em 12 de maio, e ao acesso ainda "provisório" de Temer à Presidência.

Agravada pelo escândalo de corrupção que varreu a Petrobras e por uma recessão econômica histórica, a crise política no país atingiu um ponto sem volta.

TurbulênciasNo início de seu governo interino, a foto de seu gabinete ministerial formado exclusivamente por homens de meia-idade, brancos e conservadores gerou protestos, amplificados rapidamente pela renúncia de três ministros, citados no escândalo da Petrobras.

Seu discurso de unidade nacional ainda não convenceu, e uma grande parcela dos brasileiros questiona sua legitimidade. Em uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no mês passado, sua aprovação chegava a 14%, apenas um ponto acima da popularidade de Dilma antes de ser afastada.

Assim, tão impopular quanto Dilma, Michel Temer foi copiosamente vaiado na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio-2016, no início de agosto, diante de centenas de milhões de telespectadores do mundo todo.

Manifestações espontâneas, pedindo #ForaTemer, foram vistas nos estádios e arenas nas duas semanas de competições. Não à toa, o ainda presidente interino decidiu não comparecer à festa de encerramento.

Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em São Paulo, em 1940. Cresceu em uma chácara do interior paulista, sendo o mais novo de oito irmãos de uma família de imigrantes libaneses católicos, que havia chegado ao país 15 anos antes.

Em São Paulo, tornou-se um prestigioso advogado constitucionalista, iniciando a carreira que o levou a ser três vezes presidente da Câmara dos Deputados durante seus seis mandatos como legislador pelo PMDB.

Teve cinco filhos de três casamentos em quatro décadas. Sua mulher atual, a ex-miss Marcela, 43 anos mais jovem do que ele, é mãe do caçula Michelzinho e está grávida.

Esse político que se diz de "fala suave", ao contrário do tom "agressivo" de Dilma Rousseff, segundo ele, está se beneficiando por enquanto da "benevolência" dos mercados, mais tranquilos com suas posições mais liberais.

Preocupados com a degradação econômica do país, os mercados agora comemoram suas medidas impopulares que ainda não saíram do papel: ajuste e restrição orçamentária e reformas estruturais na Previdência e na legislação trabalhista.

Assim como Dilma, Temer terá de compor seu governo com um Congresso fragmentado, onde os apoios são negociados de diferentes formas, entre elas a distribuição de polpudas verbas e de milhares de cargos de confiança na máquina pública.

Também não ajuda ter seu partido envolvido nos escândalos de corrupção da Petrobras. A tempestade política já engoliu o peemedebista Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados, o qual deu o pontapé para o processo de impeachment de Dilma. O próprio Temer foi citado por outros acusados, mas segue blindado, sem ser até agora incomodado pela Justiça. Ele também nega qualquer envolvimento com atos ilícitos.

Para acalmar seus novos aliados conservadores, Temer garante que não será candidato à Presidência em 2018 - do mesmo modo, talvez, como um dia jurou fidelidade à Dilma.

De qualquer modo, Temer corre o risco de não poder se candidatar em 2018 por ter feito doações a campanhas eleitorais em 2014 por um valor mais alto do que a lei permite.

Agora, com Dilma definitivamente fora do jogo, os versos de um de seus poemas, "Embarque", ganham ares premonitórios:

"Embarquei na tua nau / Sem rumo. Eu e tu. / Tu, porque não sabias / Para onde querias ir. / Eu, porque já tomei muitos rumos / Sem chegar a lugar nenhum".

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