Forças sírias avançam em Aleppo, e ONG denuncia 'banho de sangue'
Forças leais ao governo sírio avançaram nesta sexta-feira (30) na cidade sitiada de Aleppo, uma campanha denunciada como um "banho de sangue" pela organização não-governamental Médicos sem Fronteiras (MSF).
O avanço do governo sírio coincidia com a degradação das relações entre Estados Unidos e Rússia, que apoiam oposição e governo, respectivamente. Os entendimentos bilaterais sobre esse conflito estão à beira da ruptura.
Washington ameaça interromper sua cooperação diplomática e Moscou segue determinado a continuar com sua campanha de bombardeios em apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad.
Nesta sexta-feira, Moscou acusou Washington de "proteger" os extremistas da Frente Fateh Al-Sham (ex-facção síria da Al Qaeda).
Em uma entrevista à emissora britânica BBC World News, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou que Washington "não era capaz", ou "não tinha a intenção" de pedir à oposição armada moderada que se distanciasse do grupo extremista.
Em Nova York, a ONU anunciou a criação de uma comissão de investigação que "determinará os fatos" em torno do ataque a um comboio humanitário em 19 de setembro, no norte da Síria. Pelo menos 18 pessoas morreram nessa ofensiva. Washington atribui a responsabilidade a Moscou, que nega.
Mais de uma semana depois de ter anunciado uma grande ofensiva para reconquistar a parte rebelde, o Exército sírio avançava nesta sexta-feira em duas frentes, no norte e no centro da metrópole, ganhando espaço em território rebelde.
O governo tem o objetivo de conquistar a totalidade de Aleppo, dividida desde 2012 em um setor governamental (oeste) e bairros rebeldes (leste).
No norte, "depois de ter recuperado das mãos dos rebeldes o antigo acampamento de refugiados palestinos de Handarat, as forças do regime capturaram, na manhã desta sexta-feira, o antigo hospital Kindi" das mãos dos insurgentes desde 2013, explicou o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.
Segundo a ONG, pelo menos 15 pessoas, entre elas duas crianças, morreram nesta sexta-feira nos bombardeios contra Hellok e outros bairros rebeldes.
Enquanto isso, no centro de Aleppo, eram travados duros combates entre os dois grupos em Suleiman al-Halabi, bairro localizado na linha de demarcação, completou o OSDH.
Segundo a agência oficial de notícias Sana, 15 civis perderam a vida, e 40 ficaram feridos pelos foguetes lançados pelos rebeldes contra a zona governamental.
Desde o início da ofensiva do Exército em 22 de setembro, os bombardeios provocaram a morte de 216 pessoas, entre elas mais de 40 crianças, acrescentou o Observatório.
Mais de 9.300 mortos em um ano de bombardeios da Rússia
Desde 30 de setembro de 2015, os ataques russos deixaram 9.364 mortos, informou o OSDH.
O balanço inclui 3.804 civis, 2.746 combatentes do grupo extremista Estado Islâmico (EI) e 2.814 milicianos dos outros grupos rebeldes e islamitas que lutam contra o regime de Bashar al-Assad.
Além disso, 20.000 civis ficaram feridos nos bombardeios russos, segundo o OSDH, cujo diretor, Rami Abdel Rahman, indicou que esse balanço pode ser mais alto, levando-se em conta o número de pessoas mortas por aviões não identificados.
O Kremlin rejeita essas acusações.
"Não consideramos confiáveis as informações do que ocorre na Síria provenientes de organizações situadas na Grã-Bretanha", disse à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, referindo-se ao OSDH.
Além disso, apesar das pressões internacionais, em especial dos países ocidentais, Peskov disse que a aviação russa manterá "sua operação de apoio à luta antiterrorista das Forças Armadas sírias".
"Todo o leste de Aleppo se converteu em um alvo gigante", denunciou o diretor de operações da MSF, Xisco Villalonga, em um comunicado, no qual exigia que Damasco e seus aliados colocassem fim "aos bombardeios que provocam um banho de sangue entre os civis".
"Todos os serviços de cuidados intensivos estão cheios. Os pacientes precisam esperar que outros morram para obter uma maca", lamentou o médico Abu Wasim, que dirige o hospital apoiado pela MSF no leste de Aleppo.
A ONG Save The Children denunciou que as crianças de Aleppo não têm onde se refugiar dos bombardeios, nem mesmo nas escolas subterrâneas, devido às "bombas antibunker".
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