Replanejar a forma de trabalhar, a tarefa do século no Japão
Tóquio, 24 Out 2016 (AFP) - "Contratado por toda a vida e explorado à vontade". Este é o acordo tácito entre os empresários japoneses e seus assalariados fixos, um sistema pouco produtivo e que parece ter chegado ao limite, mas que nenhum governo conseguiu reformar.
Replanejar o modo de trabalhar, como preconiza o primeiro-ministro Shinzo Abe, é ir contra o estatuto de "salaryman", o clássico trabalhador japonês vestido com terno escuro e camisa branca que dedica muito mais tempo à sua empresa do que à família e aos amigos.
"Os trabalhadores são pagos em função das horas que passam no trabalho", explica Shigeyuki Jo, consultor de recursos humanos e ex-assalariado do grupo Fujitsu.
O respeito à hierarquia é tanto que um funcionário "dificilmente pode ir para casa se o seu superior direto ainda estiver no escritório", sem contar que as horas extras lhe dão um adicional bem-vindo em seu salário.
"A missão conferida a cada um (trabalhador) é mal definida e, quando terminam uma tarefa, outra é pedida. É interminável. O contrato é um cheque em branco para os empregadores", afirma Naohiro Yashiro, da Universidade Showa.
- Trituradora -Desde a geração do pós-guerra, o valor de um "salaryman" é proporcional à sua capacidade de permanecer longas horas no posto de trabalho, tendo como contrapartida a garantia do emprego.
Sendo quase impossível demiti-los em épocas de escassa atividade - já que a lei é bastante rígida nesse sentido -, os assalariados fixos têm essa proteção, mas são bastantes explorados, como forma de limitar novas contratações, explica Yashiro.
A duração do trabalho prevista em lei no Japão é de 40 horas semanais, às quais podem se somar até 45 horas extras ou mais quando há acordo com a empresa.
"É possível fazer um assalariado trabalhar sete dias por semana, dia e noite, sem infringir a lei", assegura Shigeyuki Jo. Segundo ele, "60% das empresas que operam na Bolsa têm assalariados sob risco de morte por excesso de trabalho".
Além disso, os trabalhadores costuma tirar menos da metade do período de férias remuneradas.
Quando uma jovem funcionária da agência de publicidade Dentsu se suicidou no ano passado depois de ter feito até 130 horas extras mensais, um professor universitário não hesitou em classificar de "penoso" o que considerou como uma falta de resistência ao esforço.
- Patronais e sindicatos concordam -"O cálculo 'tempo de presença = qualidade do trabalho' resultou em concentrar a mão de obra em homens com o mesmo perfil, capazes de trabalhar duro sem titubear", disse recentemente em uma conferência Yoshie Komuro, presidente-executivo da empresa Work Life Balance, que assessora diversas organizações.
"É um sistema centrado no macho forte; e a mulher dona de casa é o complemento essencial para o equilíbrio familiar", mais importante que o bem-estar individual, confirma Jo.
Embora o número de trabalhadores submetidos a um estatuto precário esteja crescendo, também perdura o esquema tradicional da contratação maciça de recém-formados com o mesmo salário inicial que aumenta gradualmente com a antiguidade. Tudo isso sob os auspícios da patronal Keidanren, que define as datas das "campanhas de contratação", disputadíssimas.
Apesar de ter que se doar de corpo e alma, ser selecionado por uma empresa de primeiro escalão continua sendo o sonho de muitos, como Hiroki G., de 23 anos, estudante na prestigiada Universidade de Tóquio, o melhor trampolim para conquistar esse tipo de emprego.
"Quero colocar em prática o que eu aprendo", conta este jovem, vestido com o terno exigido.
Atualmente, como a mão de obra está escassa e a imigração não é a opção privilegiada, o governo apela às mulheres. Mas, para que elas possam aceitar, é preciso mudar a forma como os homens trabalham", resume Shinzo Abe.
"Até agora, no entanto, a patronal e os sindicatos (que se ocupam quase exclusivamente de negociar salários e bônus aos trabalhadores fixos) estão totalmente de acordo com a preservação do esquema atual", lamentou Jo.
kap/anb/uh/ra/eg/cc
FUJITSU
DENTSU
KEIO
Replanejar o modo de trabalhar, como preconiza o primeiro-ministro Shinzo Abe, é ir contra o estatuto de "salaryman", o clássico trabalhador japonês vestido com terno escuro e camisa branca que dedica muito mais tempo à sua empresa do que à família e aos amigos.
"Os trabalhadores são pagos em função das horas que passam no trabalho", explica Shigeyuki Jo, consultor de recursos humanos e ex-assalariado do grupo Fujitsu.
O respeito à hierarquia é tanto que um funcionário "dificilmente pode ir para casa se o seu superior direto ainda estiver no escritório", sem contar que as horas extras lhe dão um adicional bem-vindo em seu salário.
"A missão conferida a cada um (trabalhador) é mal definida e, quando terminam uma tarefa, outra é pedida. É interminável. O contrato é um cheque em branco para os empregadores", afirma Naohiro Yashiro, da Universidade Showa.
- Trituradora -Desde a geração do pós-guerra, o valor de um "salaryman" é proporcional à sua capacidade de permanecer longas horas no posto de trabalho, tendo como contrapartida a garantia do emprego.
Sendo quase impossível demiti-los em épocas de escassa atividade - já que a lei é bastante rígida nesse sentido -, os assalariados fixos têm essa proteção, mas são bastantes explorados, como forma de limitar novas contratações, explica Yashiro.
A duração do trabalho prevista em lei no Japão é de 40 horas semanais, às quais podem se somar até 45 horas extras ou mais quando há acordo com a empresa.
"É possível fazer um assalariado trabalhar sete dias por semana, dia e noite, sem infringir a lei", assegura Shigeyuki Jo. Segundo ele, "60% das empresas que operam na Bolsa têm assalariados sob risco de morte por excesso de trabalho".
Além disso, os trabalhadores costuma tirar menos da metade do período de férias remuneradas.
Quando uma jovem funcionária da agência de publicidade Dentsu se suicidou no ano passado depois de ter feito até 130 horas extras mensais, um professor universitário não hesitou em classificar de "penoso" o que considerou como uma falta de resistência ao esforço.
- Patronais e sindicatos concordam -"O cálculo 'tempo de presença = qualidade do trabalho' resultou em concentrar a mão de obra em homens com o mesmo perfil, capazes de trabalhar duro sem titubear", disse recentemente em uma conferência Yoshie Komuro, presidente-executivo da empresa Work Life Balance, que assessora diversas organizações.
"É um sistema centrado no macho forte; e a mulher dona de casa é o complemento essencial para o equilíbrio familiar", mais importante que o bem-estar individual, confirma Jo.
Embora o número de trabalhadores submetidos a um estatuto precário esteja crescendo, também perdura o esquema tradicional da contratação maciça de recém-formados com o mesmo salário inicial que aumenta gradualmente com a antiguidade. Tudo isso sob os auspícios da patronal Keidanren, que define as datas das "campanhas de contratação", disputadíssimas.
Apesar de ter que se doar de corpo e alma, ser selecionado por uma empresa de primeiro escalão continua sendo o sonho de muitos, como Hiroki G., de 23 anos, estudante na prestigiada Universidade de Tóquio, o melhor trampolim para conquistar esse tipo de emprego.
"Quero colocar em prática o que eu aprendo", conta este jovem, vestido com o terno exigido.
Atualmente, como a mão de obra está escassa e a imigração não é a opção privilegiada, o governo apela às mulheres. Mas, para que elas possam aceitar, é preciso mudar a forma como os homens trabalham", resume Shinzo Abe.
"Até agora, no entanto, a patronal e os sindicatos (que se ocupam quase exclusivamente de negociar salários e bônus aos trabalhadores fixos) estão totalmente de acordo com a preservação do esquema atual", lamentou Jo.
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