Venezuela na encruzilhada após suspensão do referendo contra Maduro
Caracas, 24 Out 2016 (AFP) - A oposição venezuelana insistirá nesta semana em uma saída antecipada do presidente Nicolás Maduro, após a suspensão do referendo revogatório, mas o governo ameaça responder energicamente para conservar o poder, enquanto o presidente era recebido em audiência privada pelo papa Francisco no Vaticano.
Depois que a Assembleia Nacional, de maioria opositora, declarou no domingo que a paralisação do referendo consumou um "golpe de Estado", a Mesa da Unidade Democrática (MUD) prepara uma série de ações para o que chama de "restituição da ordem constitucional".
"Apenas as ditaduras despojam seus cidadãos de direitos. Vem luta e mais luta, com serenidade e firmeza. Hoje iniciamos uma semana completamente complexa", disse nesta segunda-feira o secretário-executivo da MUD, Jesús Torrealba, que lembrou a convocação a um protesto nacional na próxima quarta-feira chamado de "Tomada da Venezuela".
Em um encontro surpresa, após concluir uma visita ao Oriente Médio, Maduro foi recebido nesta segunda pelo papa, no âmbito da "preocupante situação de crise política, social e econômica que atravessa" o país sul-americano, informou a Santa Sé em um comunicado.
Durante a audiência privada, o papa, que enviou um emissário a Caracas, solicitou "o diálogo sincero e construtivo" entre o governo e a oposição a fim de "aliviar o sofrimento" do povo, acrescentou a nota.
O chefe do Parlamento de maioria opositora, Henry Ramos Allup, informou que no domingo porta-vozes da Mesa de Unidade Democrática (MUD) se reunieram com o emissário do papa, o núncio apostólico e ex-presidentes de uma missão mediadora da Unasul.
"Ou vemos como organizamos as coisas ou vamos acabar nos matando", afirmou Ramos Allup em uma sessão tensa na Assembleia Nacional, que declarou no domingo que a suspensão do referendo consumou um "golpe de Estado".
O Parlamento, sob controle opositor pela primeira vez em 17 anos de hegemonia chavista, se reunirá na terça-feira para debater "a situação constitucional do presidente", a quem responsabiliza pela "ruptura da democracia".
"A declaração de golpe de Estado legitima as próximas decisões da Assembleia, mas os próximos passos dependerão do que for decidido na terça-feira", disse à AFP o constitucionalista José Ignacio Hernández, para quem o país está "diante de uma complexa situação que pode evoluir rapidamente".
O líder da bancada opositora, Julio Borges, propôs inclusive a possibilidade de iniciar um "julgamento político" contra Maduro, a quem a oposição também acusa de ter dupla nacionalidade, venezuelana e colombiana, que o inabilitaria para o cargo.
Batalha políticaA suspensão do referendo deixou ainda mais tenso o clima político em um país que sofre com uma severa escassez de alimentos e remédios, assim como uma inflação que o FMI calcula em 475% para este ano.
A oposição sustenta que a solução para a crise é a saída do poder de Maduro, cuja impopularidade chega a 76,5% e a quem mais de 60% da população quer revogar, segundo a empresa Datanálisis.
O conflito venezuelano entrou em uma nova fase depois que o poder eleitoral adiou na quinta-feira, indefinidamente, a coleta das quatro milhões de assinaturas necessárias para convocar o referendo, que estava prevista para quarta, quinta e sexta-feira desta semana.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela MUD de ser controlado pelo governo, assim como a justiça, argumentou que a suspensão obedecia a decisões judiciais que anularam por fraude em cinco Estados uma primeira coleta de assinaturas que abriu o processo.
"A batalha institucional está perdida, portanto a Assembleia estabeleceu as diretrizes do que será sua batalha política: o protesto popular, a demonstração de maioria, o chamado à pressão internacional", declarou à AFP o analista Luis Vicente León.
Mas os analistas advertem que o grande desafio da MUD é mobilizar os venezuelanos maciçamente, o que foi difícil, com exceção de 1º de setembro.
"O governo escolheu o custo político menor porque a coleta de assinaturas mostraria a maioria contundente que o rejeita, e por sua vez despojou a oposição do motor que mobiliza as pessoas, o voto. Agora será mais difícil levá-la às ruas", explicou León.
No front internacional, a MUD enviará uma comissão para pedir em Washington que a Organização dos Estados Americanos (OEA) aplique a Carta Democrática à Venezuela, que prevê sanções em casos de ruptura da ordem democrática.
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) exortou à OEA a pressionar o governo para que permita ajuda internacional diante do que considera uma "crise humanitária".
Uma fase obscuraOs analistas preveem uma radicalização do conflito. Os governistas já ameaçaram com o levantamento da imunidade parlamentar e a ilegalização da MUD como partido político.
Para León, a Venezuela entra em uma "fase obscura" na qual podem ocorrer repressões seletivas de líderes políticos, sem descartar na sociedade venezuelana "os dois cenários perversos: a violência ou a apatia".
O ex-candidato presidencial Henrique Capriles não descartou que a "Tomada da Venezuela" na quarta-feira inclua uma marcha ao Palácio Presidencial de Miraflores, o que pode gerar violência.
"Sem dúvida estamos em uma grande encruzilhada, grave. O meio termo, a participação ativa, pacífica, inteligente, permanente, é uma linha muito complicada de conseguir, é um processo longo, que inclui a negociação política", disse León.
Depois que a Assembleia Nacional, de maioria opositora, declarou no domingo que a paralisação do referendo consumou um "golpe de Estado", a Mesa da Unidade Democrática (MUD) prepara uma série de ações para o que chama de "restituição da ordem constitucional".
"Apenas as ditaduras despojam seus cidadãos de direitos. Vem luta e mais luta, com serenidade e firmeza. Hoje iniciamos uma semana completamente complexa", disse nesta segunda-feira o secretário-executivo da MUD, Jesús Torrealba, que lembrou a convocação a um protesto nacional na próxima quarta-feira chamado de "Tomada da Venezuela".
Em um encontro surpresa, após concluir uma visita ao Oriente Médio, Maduro foi recebido nesta segunda pelo papa, no âmbito da "preocupante situação de crise política, social e econômica que atravessa" o país sul-americano, informou a Santa Sé em um comunicado.
Durante a audiência privada, o papa, que enviou um emissário a Caracas, solicitou "o diálogo sincero e construtivo" entre o governo e a oposição a fim de "aliviar o sofrimento" do povo, acrescentou a nota.
O chefe do Parlamento de maioria opositora, Henry Ramos Allup, informou que no domingo porta-vozes da Mesa de Unidade Democrática (MUD) se reunieram com o emissário do papa, o núncio apostólico e ex-presidentes de uma missão mediadora da Unasul.
"Ou vemos como organizamos as coisas ou vamos acabar nos matando", afirmou Ramos Allup em uma sessão tensa na Assembleia Nacional, que declarou no domingo que a suspensão do referendo consumou um "golpe de Estado".
O Parlamento, sob controle opositor pela primeira vez em 17 anos de hegemonia chavista, se reunirá na terça-feira para debater "a situação constitucional do presidente", a quem responsabiliza pela "ruptura da democracia".
"A declaração de golpe de Estado legitima as próximas decisões da Assembleia, mas os próximos passos dependerão do que for decidido na terça-feira", disse à AFP o constitucionalista José Ignacio Hernández, para quem o país está "diante de uma complexa situação que pode evoluir rapidamente".
O líder da bancada opositora, Julio Borges, propôs inclusive a possibilidade de iniciar um "julgamento político" contra Maduro, a quem a oposição também acusa de ter dupla nacionalidade, venezuelana e colombiana, que o inabilitaria para o cargo.
Batalha políticaA suspensão do referendo deixou ainda mais tenso o clima político em um país que sofre com uma severa escassez de alimentos e remédios, assim como uma inflação que o FMI calcula em 475% para este ano.
A oposição sustenta que a solução para a crise é a saída do poder de Maduro, cuja impopularidade chega a 76,5% e a quem mais de 60% da população quer revogar, segundo a empresa Datanálisis.
O conflito venezuelano entrou em uma nova fase depois que o poder eleitoral adiou na quinta-feira, indefinidamente, a coleta das quatro milhões de assinaturas necessárias para convocar o referendo, que estava prevista para quarta, quinta e sexta-feira desta semana.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela MUD de ser controlado pelo governo, assim como a justiça, argumentou que a suspensão obedecia a decisões judiciais que anularam por fraude em cinco Estados uma primeira coleta de assinaturas que abriu o processo.
"A batalha institucional está perdida, portanto a Assembleia estabeleceu as diretrizes do que será sua batalha política: o protesto popular, a demonstração de maioria, o chamado à pressão internacional", declarou à AFP o analista Luis Vicente León.
Mas os analistas advertem que o grande desafio da MUD é mobilizar os venezuelanos maciçamente, o que foi difícil, com exceção de 1º de setembro.
"O governo escolheu o custo político menor porque a coleta de assinaturas mostraria a maioria contundente que o rejeita, e por sua vez despojou a oposição do motor que mobiliza as pessoas, o voto. Agora será mais difícil levá-la às ruas", explicou León.
No front internacional, a MUD enviará uma comissão para pedir em Washington que a Organização dos Estados Americanos (OEA) aplique a Carta Democrática à Venezuela, que prevê sanções em casos de ruptura da ordem democrática.
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) exortou à OEA a pressionar o governo para que permita ajuda internacional diante do que considera uma "crise humanitária".
Uma fase obscuraOs analistas preveem uma radicalização do conflito. Os governistas já ameaçaram com o levantamento da imunidade parlamentar e a ilegalização da MUD como partido político.
Para León, a Venezuela entra em uma "fase obscura" na qual podem ocorrer repressões seletivas de líderes políticos, sem descartar na sociedade venezuelana "os dois cenários perversos: a violência ou a apatia".
O ex-candidato presidencial Henrique Capriles não descartou que a "Tomada da Venezuela" na quarta-feira inclua uma marcha ao Palácio Presidencial de Miraflores, o que pode gerar violência.
"Sem dúvida estamos em uma grande encruzilhada, grave. O meio termo, a participação ativa, pacífica, inteligente, permanente, é uma linha muito complicada de conseguir, é um processo longo, que inclui a negociação política", disse León.
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