Brasil receberá satélite francês e reavalia investimentos na Defesa, diz Jungmann
O ministro da Defesa, Raúl Jungmann, receberá na quinta-feira (1º), na França, o primeiro dos três satélites de Comunicação e Defesa previstos em um acordo com a empresa Thalès, que espera lançá-lo ao espaço em 21 de março de 2017.
Mas, enquanto o país atravessa sua pior recessão em mais de um século e o Congresso discute um pacote de austeridade fiscal, muitos projetos estão sendo reavaliados e ajustados às restrições orçamentárias de tempos de crise.
Jungmann deu uma entrevista à "AFP" na sexta-feira (25), pouco tempo antes de viajar para Cannes, onde receberá o dispositivo de quase seis toneladas e de R$ 2,1 bilhões, que logo será levado à base de Kourou, na Guiana Francesa.
A crise permite pensar que haverá novos projetos de Defesa?
Raul Jungmann: Sabemos que vamos passar a um novo regime fiscal, chamado teto de gastos (que congela os gastos públicos por 20 anos). E sabemos que vamos ter que racionalizar, cortar projetos.
Alguns estão em um grau de maturação que não tem volta, como o submarino atômico, ou os quatro submarinos convencionais também desenvolvidos com a França, dos quais três já estão em construção. O satélite está concluído e, no caso dos Gripen [caças comprados da Suécia], o acordo financeiro é suficientemente elástico. Há outros que vamos ter que reavaliar.
A situação nos levou a fazer certos ajustes, que são sempre difíceis mas que são reais e, como disse ao presidente da DCNS [grupo do setor naval de Defesa francês, de propriedade do Estado e do grupo Thalès], a decisão deste governo é manter a sociedade com a França.
Agora, teremos que nos adequar à nossa realidade orçamentária e ao novo regime fiscal que está sendo votado no Congresso.
Por que um programa de satélite?
É um projeto estratégico para a Defesa brasileira, para o governo, e representa um salto tecnológico das Comunicações. Permite a nós uma aquisição e uma transferência de tecnologia essencial para que, no futuro, possamos alcançar um padrão tecnológico que hoje não temos.
Vai estar estacionado sobre o Equador, e seu primeiro foco será toda a América do Sul, incluindo o Atlântico Sul e chegando até a costa ocidental da África - o que chamamos o entorno estratégico do Brasil.
Que mudanças vai trazer?
Permitirá uma grande expansão da banda larga, sua universalização, o que é um enorme avanço para toda a sociedade. Vai permitir que chegue a lugares remotos, como a Amazônia, por exemplo. Significará um enorme avanço em termos de comunicação, rapidez e fluxo. Dará suporte (...) ao sistema de informações segregada e segura de toda a Defesa brasileira.
Passaremos a controlá-lo em território brasileiro (e) todas as comunicações governamentais também serão realizadas através do satélite.
Por onde passam as principais preocupações hoje?
Nossa principal preocupação é a segurança. Estamos passando por um momento difícil, especificamente no Rio de Janeiro, mas também em todo o Brasil, e isso tem relação com as fronteiras.
O Brasil tem a terceira maior fronteira terrestre do mundo, com 17.000 km e a Marinha é a maior do Atlântico Sul: tem 7.500 km. São um ponto crítico, porque alguns dos nossos vizinhos são grandes produtores de drogas, e o Brasil e tornou, infelizmente, sobretudo nos centros metropolitanos, um consumidor de drogas.
Gerou-se um mercado integrado, tanto em drogas quanto em armas.
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