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Chile: repressores de Pinochet pedem perdão por seus crimes pela primeira vez

23/12/2016 15h39

Santiago, 23 dez 2016 (AFP) - Um grupo de repressores da ditadura de Augusto Pinochet pediram nesta sexta-feira pela primeira vez perdão por seus crimes, um gesto duramente rejeitado pelos familiares das vítimas que classificaram essa medida como um "show midiático".

Em uma celebração religiosa no interior do presídio de Punta Peuco, onde centenas de agentes da ditadura cumprem condenações, nove dos internos, entre eles Raúl Iturriaga, um dos hierarcas da temida polícia política do regime, pediram perdão por seus crimes.

"Deus está fazendo algo extraordinário neste país. Isso não seria possível há pouco tempo", disse a jornalistas o pastor anglicano Pablo Alvarez ao final da cerimônia, à qual a imprensa não teve acesso.

Do lado de fora, cerca de 50 familiares de vítimas da ditadura protestaram desde cedo contra o que classificaram de "show mediático" destinado a conseguir uma redução das penas ou anistia, por idade avançada.

"Temos o direito e a moral de estar aqui para não permitir este show midiático", disse Alicia Lira, do Agrupamento de familiares de executados políticos.

"Ninguém que eu escutei pediu redução da pena ou anistia", afirmou o sacerdote católico Fernando Montes, também presente na cerimônia.

Em Punta Peuco, prisão especial para condenados por delitos de crime contra a humanidade e onde os internos contam com melhores condições em comparação ao restante da população penal, uma centena de ex-militares e agentes civis cumprem condenações por sequestros, torturas e assassinatos. O regime militar chileno tem um saldo de 3.200 mortos e desaparecidos e cerca de 28.000 torturados.

"Estamos falando de homens cometeram crimes horríveis", lembrou Lira, que reivindicou que os repressores forneçam toda a informação que ainda não entregaram para encontrar os cerca de 1.000 desaparecidos.

A justiça chilena mantém abertos 1.184 processos penais por crimes contra os direitos humanos, de acordo com um informe anual da Universidade Diego Portales.

Os grupos de vítimas afirmam que apenas 5% dos casos foram solucionados.

pa-msa/cd/cc