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Polícia catalã enfrenta dilema de fechar seções para impedir referendo

27/09/2017 17h59

Barcelona, 27 Set 2017 (AFP) - A Polícia regional da Catalunha se mostrou reticente nesta quarta-feira diante da ordem de isolar os centros de votação para impedir o referendo de independência de domingo, proibido pela Justiça espanhola, e alertou sobre o risco de distúrbios.

Apesar da disponibilização do corpo policial e da proibição do Tribunal Constitucional, os líderes separatistas mantêm como podem a organização da votação nesta região mediterrânea com 7,5 milhões de habitantes divididos sobre a secessão.

Após desmantelar grande parte da operação eleitoral, deter funcionários de cargos de alto escalão do governo e confiscar grande quantidade de material de votação, a Procuradoria pediu à Polícia regional catalã o isolamento dos espaços designados para votar.

Esta decisão, diante da possível mobilização de cidadãos que querem votar, pode "implicar em consequências indesejadas", advertiu a Polícia regional, os Mossos d'Esquadra, em sua conta no Twitter.

"Essas consequências fazem referência à segurança dos cidadãos e ao mais que previsível risco de alterações da ordem pública que podem derivar", acrescentou.

No entanto, a ordem foi confirmada nesta quarta-feira à tarde por uma juíza de instrução que investiga o governo regional presidido por Carles Puigdemont de desobediência, prevaricação e malversação pela convocação deste referendo desconsiderando a suspensão judicial.

Esta juíza ordenou a todos os policiais do país - Mossos, Guarda Civil e Polícia Nacional - que atuem "em conjunto" para "impedir até 1º de outubro a utilização de locais (...) para a preparação do referendo".

Também pediu à Procuradoria que "encerre as diligências, atuações e instruções" dadas até agora para frear a votação, criticada pelos líderes separatistas por extrapolar suas funções.

- Possíveis distúrbios e mobilizações -A missão é delicada para a Polícia regional, com 16.800 agentes, dada a sua proximidade com a população desta região. Antecipando as suas reticências, o Ministério espanhol do Interior enviou um amplo reforço policial de cerca de 10.000 agentes para a Catalunha, segundo o jornal El País.

"O que provavelmente farão é evitar o voto nas grandes cidades", reduzindo ao máximo o número de eleitores para que o referendo tenha menos legitimidade, assinalava à AFP uma fonte judicial de alto escalão.

"Factível pode ser, o problema está nos distúrbios que pode gerar", apontava o porta-voz da associação Juízes pela Democracia, Ignacio González.

A ideia do governo catalão é habilitar as mesmas seções que nas últimas eleições regionais, ou seja, 2.700. Um número muito elevado de centros ao qual se acrescenta outra dificuldade: sua possível ocupação e as mobilizações para dificultar o seu fechamento por parte da Polícia.

Os sindicatos de estudantes estão em pé de guerra, e nesta quarta-feira iniciaram uma greve em um colégio e na quinta-feira se estenderá a todas as idades, incluindo universitários.

"Estamos pensando em ocupar a nossa escola porque no domingo devem votar lá", dizia à AFP Martí Blanco, um estudante de 16 anos.

Uma associação agrícola com cerca de 100 camponeses prometeu estacionar seus tratores "perto das zonas eleitorais e em caso de tentarem fechá-la, impedir ou tentar dificultar ao máximo a sua atuação. Simplesmente deixando-os ali, sem ir para frente".

O pequeno sindicato anarquista CGT convocou uma greve geral na Catalunha em 3 de outubro, mas os dois maiores sindicatos, Comissões Operárias e UGT, não se juntaram.

Esta tensão permanece entre os eleitores, que se mostram preocupados ante o que pode acontecer no domingo.

"Vendo todos os policias sendo enviados para cá, os helicópteros (que sobrevoam constantemente Barcelona), impõem respeito", dizia Marga Millet, livreira de Barcelona de 67 anos convencida a votar.

- Críticas a Rajoy -À espera do que irá acontecer no domingo, o chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, recebeu novas críticas por sua gestão da crise catalã.

Em um editorial, o jornal El País denunciou "a ausência do governo" e uma atitude que "beira o irresponsável", deixando a solução do problema nas mãos da Justiça.

Um dos mais conhecidos escritores espanhóis, o catalão Eduardo Mendoza, escreveu uma coluna onde critica os recursos intelectuais "limitados" do governo.

A vice-presidente do governo, Soraya Sáenz de Santamaría, lamentou no Congresso este "momento histórico sem precedentes" provocado pelo "empenho de alguns separatistas de negar séculos de história compartilhada".

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