Menos dor: os números do primeiro ano de paz na Colômbia
Bogotá, 22 Nov 2017 (AFP) - Milhares de pessoas deixaram de morrer, ou não precisaram fugir, e centenas foram poupadas de ferimentos e mutilações. A Colômbia sofre menos desde a vigência do pacto firmado há um ano para que a guerrilha das Farc se desarmasse e se tornasse uma força política.
Apesar dos críticos, o acordo assinado em 24 de novembro aliviou um conflito de 53 anos que deixou 220 mil mortos e 60 mil desaparecidos em choques entre guerrilhas, paramilitares, agentes estatais e traficantes de drogas.
Confira abaixo alguns dados do primeiro ano do acordo de paz que começou a ser negociado em 2012, em Cuba, e que levou à transformação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia no partido Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc):
- O que alivia --- MENOS ARMAS
As Farc contavam com 11.816 integrantes - entre combatentes, militantes presos e milicianos (colaboradores nem sempre armados). Quase 7.000 homens entregaram 8.994 fuzis à ONU. "Entregou-se 1,3 arma por desmobilizado", relatou Ariel Ávila, da Fundação Paz e Reconciliação, comparando o sucesso desse processo às 18.000 armas entregues pelos 30.000 paramilitares desmobilizados em 2006 (0,6 per capita).
-- MENOS MORTES
Quando começaram os diálogos, o confronto interno deixava, em média, 3.000 mortos ao ano entre civis e combatentes, segundo a Unidade para as Vítimas (UV). Em 2017, esse número caiu para 78, segundo essa instituição oficial. Em 2002, por exemplo, foram 19.640 vítimas diretas do conflito.
-- MENOS DESLOCAMENTOS
De todas as consequências do conflito, a mais impactante em números é a do deslocamento: 7,4 milhões de vítimas em cinco décadas, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur). Em 2012, havia 233.874 deslocados ao ano e, hoje, são 48.335, uma redução de 79%, segundo a UV.
-- RETIRADA MILITAR E DESARMAMENTO
As Farc operavam em 242 dos 1.122 municípios, o correspondente a 21% do território colombiano. Este ano, concentraram-se em 26 zonas para se desarmar, ou seja, desocuparam militarmente 90% do espaço que ocupavam, segundo o especialista da Paz e Reconciliação.
-- MENOS MINAS
A Colômbia é o segundo país, atrás do Afeganistão, com mais afetados por minas antipessoais. Em 2012, houve 770 vítimas. Este ano, o número de mutilados ou feridos chega a 58 - uma queda de 92%, segundo a UV. Esse tipo de explosivo estaria disseminado em pelo menos 47% do território.
- O que preocupa --- ASSASSINATOS
Ao menos 23 ex-guerrilheiros e 11 familiares de integrantes das Farc foram mortos desde que se firmou o acordo de paz, segundo a Paz e Reconciliação. As pistas apontam para atos de vingança e para grupos armados que tentam recrutar os desmobilizados. Desde 2016, também registraram-se 200 homicídios de líderes sociais e de direitos humanos, segundo a Defensoria do Povo.
-- DISSIDÊNCIAS
Embora grande parte dessa organização tenha dito adeus às armas, a ONG International Crisis Group, especialista em conflito e com sede em Bruxelas, calcula que cerca de 1.000 homens e mulheres continuem em combate, o que equivale a 9% da ex-guerrilha. Segundo o governo, 520 combatentes (4,4%) abandonaram o pacto. Dissidentes para uns, desertores para outros, esses grupos operam em 41 municípios. As autoridades os vinculam diretamente com o tráfico de drogas e com a mineração ilegal.
-- DESENCANTO
Ainda que não sejam obrigados a ficar, cerca de 3.600 ex-guerrilheiros abandonaram as 26 zonas de reincorporação socioeconômica, na maioria dos casos por "perda de confiança" no processo, ou porque decidiram voltar para suas famílias, segundo a Missão de Verificação da ONU. O número representa 45% dos 8.000 ex-guerrilheiros e milicianos que se reuniram para o desarmamento.
-- DESCUMPRIMENTO
Pelo menos 55% dos compromissos assumidos pelo governo como parte do acordo não saíram do papel, segundo o Instituto Kroc da Universidade de Notre-Dame, que acompanha a implementação dos pactos. Além do desarmamento, entre esses pontos estão reformas rurais e políticas, indenização e justiça para as vítimas.
O especialista da Fundação Paz e Reconciliação acrescenta que apenas oito das 27 leis necessárias para "tornar a paz uma realidade" foram aprovadas.
-- ANISTIAS
Como parte do acordo, aprovou-se em dezembro uma anistia que, em tese, deveria favorecer todos os guerrilheiros que não estiveram envolvidos em crimes atrozes. Segundo as Farc, ainda assim, mil de seus membros continuam presos.
-- PLANTAÇÕES DE COCA
No início do processo de paz, a Colômbia tinha 47.000 hectares plantados com folha de coca, matéria-prima da cocaína, mas, com o fim das negociações, os cultivos de coca triplicaram até alcançar 146.000 hectares. As novas rotas do narcotráfico e a valorização do dólar contribuíram para o aumento, segundo especialistas.
O governo espera ter acabado com 100.000 hectares de forma consensual, ou à força, até o fim do ano. No acordo, as Farc se comprometeram a combater o tráfico de drogas.
bur-vel/raa/fj/tt
Apesar dos críticos, o acordo assinado em 24 de novembro aliviou um conflito de 53 anos que deixou 220 mil mortos e 60 mil desaparecidos em choques entre guerrilhas, paramilitares, agentes estatais e traficantes de drogas.
Confira abaixo alguns dados do primeiro ano do acordo de paz que começou a ser negociado em 2012, em Cuba, e que levou à transformação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia no partido Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc):
- O que alivia --- MENOS ARMAS
As Farc contavam com 11.816 integrantes - entre combatentes, militantes presos e milicianos (colaboradores nem sempre armados). Quase 7.000 homens entregaram 8.994 fuzis à ONU. "Entregou-se 1,3 arma por desmobilizado", relatou Ariel Ávila, da Fundação Paz e Reconciliação, comparando o sucesso desse processo às 18.000 armas entregues pelos 30.000 paramilitares desmobilizados em 2006 (0,6 per capita).
-- MENOS MORTES
Quando começaram os diálogos, o confronto interno deixava, em média, 3.000 mortos ao ano entre civis e combatentes, segundo a Unidade para as Vítimas (UV). Em 2017, esse número caiu para 78, segundo essa instituição oficial. Em 2002, por exemplo, foram 19.640 vítimas diretas do conflito.
-- MENOS DESLOCAMENTOS
De todas as consequências do conflito, a mais impactante em números é a do deslocamento: 7,4 milhões de vítimas em cinco décadas, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur). Em 2012, havia 233.874 deslocados ao ano e, hoje, são 48.335, uma redução de 79%, segundo a UV.
-- RETIRADA MILITAR E DESARMAMENTO
As Farc operavam em 242 dos 1.122 municípios, o correspondente a 21% do território colombiano. Este ano, concentraram-se em 26 zonas para se desarmar, ou seja, desocuparam militarmente 90% do espaço que ocupavam, segundo o especialista da Paz e Reconciliação.
-- MENOS MINAS
A Colômbia é o segundo país, atrás do Afeganistão, com mais afetados por minas antipessoais. Em 2012, houve 770 vítimas. Este ano, o número de mutilados ou feridos chega a 58 - uma queda de 92%, segundo a UV. Esse tipo de explosivo estaria disseminado em pelo menos 47% do território.
- O que preocupa --- ASSASSINATOS
Ao menos 23 ex-guerrilheiros e 11 familiares de integrantes das Farc foram mortos desde que se firmou o acordo de paz, segundo a Paz e Reconciliação. As pistas apontam para atos de vingança e para grupos armados que tentam recrutar os desmobilizados. Desde 2016, também registraram-se 200 homicídios de líderes sociais e de direitos humanos, segundo a Defensoria do Povo.
-- DISSIDÊNCIAS
Embora grande parte dessa organização tenha dito adeus às armas, a ONG International Crisis Group, especialista em conflito e com sede em Bruxelas, calcula que cerca de 1.000 homens e mulheres continuem em combate, o que equivale a 9% da ex-guerrilha. Segundo o governo, 520 combatentes (4,4%) abandonaram o pacto. Dissidentes para uns, desertores para outros, esses grupos operam em 41 municípios. As autoridades os vinculam diretamente com o tráfico de drogas e com a mineração ilegal.
-- DESENCANTO
Ainda que não sejam obrigados a ficar, cerca de 3.600 ex-guerrilheiros abandonaram as 26 zonas de reincorporação socioeconômica, na maioria dos casos por "perda de confiança" no processo, ou porque decidiram voltar para suas famílias, segundo a Missão de Verificação da ONU. O número representa 45% dos 8.000 ex-guerrilheiros e milicianos que se reuniram para o desarmamento.
-- DESCUMPRIMENTO
Pelo menos 55% dos compromissos assumidos pelo governo como parte do acordo não saíram do papel, segundo o Instituto Kroc da Universidade de Notre-Dame, que acompanha a implementação dos pactos. Além do desarmamento, entre esses pontos estão reformas rurais e políticas, indenização e justiça para as vítimas.
O especialista da Fundação Paz e Reconciliação acrescenta que apenas oito das 27 leis necessárias para "tornar a paz uma realidade" foram aprovadas.
-- ANISTIAS
Como parte do acordo, aprovou-se em dezembro uma anistia que, em tese, deveria favorecer todos os guerrilheiros que não estiveram envolvidos em crimes atrozes. Segundo as Farc, ainda assim, mil de seus membros continuam presos.
-- PLANTAÇÕES DE COCA
No início do processo de paz, a Colômbia tinha 47.000 hectares plantados com folha de coca, matéria-prima da cocaína, mas, com o fim das negociações, os cultivos de coca triplicaram até alcançar 146.000 hectares. As novas rotas do narcotráfico e a valorização do dólar contribuíram para o aumento, segundo especialistas.
O governo espera ter acabado com 100.000 hectares de forma consensual, ou à força, até o fim do ano. No acordo, as Farc se comprometeram a combater o tráfico de drogas.
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