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Correa: Moreno atrasou Equador em 20 anos nos 6 meses de presidência

23/11/2017 14h33

Bruxelas, 23 Nov 2017 (AFP) - O presidente de Equador, Lenín Moreno, em seis meses, atrasou o país em 20 anos, afirma seu predecessor Rafael Correa em uma entrevista à AFP, dias antes de participar da convenção do partido Alianza País, que quer "expulsar" o atual chefe de Estado.

"Vamos expulsar as pessoas que traíram o programa de de governo da Alianza País", disse Correa em Bruxelas, afirmando que o primeiro a ser expulso deve ser Moreno, "o maior traidor", que "está governando com a direita, com os banqueiros".

Correa, de 54 anos, viajou à Bélgica após deixar a presidência (2007-2017) e, apesar de ser um "dilema muito grande" deixar sua família no país europeu, diz que se sentiria um "traidor" se não estiver com seus "companheiros de luta nesta batalha tão importante".

A convenção do governante Alianza País, prevista para 3 de dezembro em Esmeraldas (noroeste), será o cenário da batalha travada pelo ex-presidente contra seu sucessor. O partido tentou destituí-lo do maior cargo do país, mas a decisão não é reconhecida pelo poder eleitoral.

"Na convenção, será tomada a decisão (...) de expulsar Lenín Moreno", diz Correa, garantindo que conta com a maioria das bases e que "tem mais que motivos suficientes (...) para expulsá-lo" do movimento de esquerda, no poder desde 2007, e cujo programa não é respeitado.

Moreno, apoiado pelo próprio Correa, chegou ao poder em 24 de maio de 2017 e, "em seis meses, atrasou o país em 20 anos", lamenta. "Sentimos seis meses de desgoverno, seis meses de uma operação milimétrica de destruição dos 10 anos de revolução cidadã".

- Volta ao poder? - Diante de uma xícara de café, numa quinta-feira fria de outono em Bruxelas, o ex-mandatário equatoriano garante que sua formação vai mirar no futuro nesta convenção - "Nós não queremos ser uma bela lembrança do passado" - e defende sua gestão durante uma década de "redução da pobreza", "construção de infraestruturas" e "acesso à educação, à saúde".

Questionado sobre planos de voltar a concorrer à presidência do Equador, Correa garante que sua intenção era se aposentar da política, mas deixa a porta aberta para um retorno. A próxima eleição presidencial está prevista para 2021.

"Com tudo o que aconteceu, muito provavelmente terei que voltar em 2021, se não me inabilitarem", opinou, referindo-se à consulta popular convocada por Moreno para eliminar a reeleição indefinida aprovada em seu mandato e que Correa considera um "dano à República", pela proposta de demitir os membros do Conselho de Participação Cidadã.

As tensões entre Moreno e Correa se elevaram, entretanto, quando o primeiro tirou as funções do vice-presidente Jorge Glas, um aliado do ex-mandatário, que está detido e enfrenta um julgamento por associação ilícita no âmbito do escândalo de corrupção da Odebrecht.

O ex-presidente critica a instrumentalização desse caso, que se deu em vários países, para atacar seu governo e de Glas, contra quem "não há uma única prova" e que está preso acusado de crimes que não requerem prisão preventiva. "Há um inocente detido. O Equador já tem presos políticos".

- Asilo de Assange em risco -"A revolução acabou em 24 de maio. Temos uma verdadeira contrarrevolução das nossas entranhas, com um pacto descarado com os poderes de sempre", lamentou o líder de esquerda, para quem "o embaixador dos Estados Unidos novamente assumiu o papel de vice-rei, ocupando o lugar de dizer o que precisa ser feito".

Como exemplo dessa contrarrevolução, citou o exemplo de Julian Assange, fundador do Wikileaks, refugiado na embaixada equatoriana, a quem o governo do Equador pediu que evite fazer declarações que possam afetar as relações internacionais do país latino.

Para Correa, "na primeira pressão dos Estados Unidos, acaba o asilo de Julian Assange", para quem "não o mantém ali por convicção, mas apenas por estratégia, porque não é conveniente agora tirá-lo". "Mas, cedo ou tarde, esse momento chegará".

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