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Coreia do Norte se proclama um Estado nuclear capaz de atacar os EUA

29/11/2017 18h13

Seul, 29 Nov 2017 (AFP) - O dirigente norte-coreano, Kim Jong-Un, anunciou nesta quarta-feira (29) que seu país é um Estado nuclear de pleno direito, depois de ter testado durante a madrugada um míssil balístico capaz de atacar qualquer lugar dos Estados Unidos.

Este disparo, o primeiro efetuado pela Coreia do Norte desde 15 de setembro, acaba com as esperanças de que a trégua observada de fato por este país tivesse o objetivo de abrir uma porta para a solução negociada da crise provocada por seus programas nuclear e balístico.

Também constitui um novo desafio para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prometeu impedir que a Coreia do Norte chegasse a ser uma potência nuclear.

"Acabo de falar com o presidente da China, Xi Jinping, sobre as ações provocadoras da Coreia do Norte", anunciou Trump no Twitter.

"Serão impostas importantes sanções adicionais à Coreia do Norte hoje. Esta situação será gerenciada!", acrescentou.

Sobre sua conversa com Xi, a Casa Branca afirmou que Trump pediu à China para usar "todas as possibilidades disponíveis" para pressionar a Coreia do Norte.

Trump, que na semana passada anunciou novas sanções à Coreia do Norte e voltou a colocar este país na lista americana de facilitadores do terrorismo, foi pouco claro em sua primeira reação à ação norte-coreana, ao afirmar "cuidaremos disso", ao mesmo tempo em que o Conselho de Segurança acordava em se reunir em uma sessão de emergência para tratar do caso.

A TV estatal norte-coreana recorreu à sua apresentadora estrela aposentada, Ri Chun-Hee, para anunciar o novo feito.

"Kim Jong-Un declarou com orgulho que realizamos a grande causa histórica de completar a força nuclear de Estado, com o objetivo de construir um foguete potente", disse.

"O grande êxito do teste do Hwasong-15 é uma vitória que não tem preço, conquistada pelo grande povo heroico", acrescentou a apresentadora.

"O Hwasong-15 é um míssil balístico intercontinental (ICBM) com uma ogiva pesada de tamanho capaz de atingir todo o território continental dos Estados Unidos", reportou a agência KCNA.

Segundo Pyongyang, o projétil atingiu uma altitude de 4.475 quilômetros antes de cair a 950 km do local do lançamento.

David Wright, especialista da União de Cientistas Preocupados, afirmou que os parâmetros de voo apontam que o míssil "teria um raio de ação amplamente suficiente para atingir Washington e de fato qualquer outra parte dos Estados Unidos continentais".

O míssil foi disparado na madrugada de quarta-feira, horário local norte-coreano, de Sain-ni, perto de Pyongyang. O Pentágono informou que o foguete, que caiu em frente à costa japonesa, não representou um perigo nem para os Estados Unidos, nem para seus aliados.

- Festa em Pyongyang -Na capital norte-coreana, estreitamente controlada, viram-se cenas de alegria em frente a telões instalados nas ruas.

Jang Kwang Hyok, um morador de 32 anos, tinha uma pergunta para o presidente americano.

"Só quero pedir a Trump: o senhor vai se atrever a ainda ser hostil com o nosso país? Vai continuar sendo quando o Hwasong-15 for disparado contra o território americano?", perguntou.

Pyongyang ainda deve demonstrar que domina a tecnologia de reentrada controlada das ogivas na atmosfera do espaço. Mas os especialistas acreditam que a Coreia do Norte está ao menos a ponto de desenvolver uma capacidade de ataque intercontinental operacional.

- Porta de saída? -Em seu comunicado oficial, a Coreia do Norte insiste em que é uma potência nuclear de pleno direito e utiliza termos que remetem à doutrina de "não atacar primeiro" da arma atômica.

O armamento norte-coreano "não representará nenhuma ameaça a nenhum país ou região enquanto não se questionarem os interesses da Coreia do Norte. É nossa declaração solene", destacam os veículos oficiais.

O comunicado norte-coreano oferece a possibilidade de uma saída para a crise com os Estados Unidos, avaliou por sua vez Melissa Hanham, especialista do Instituto Middlebury.

"Talvez seja uma porta de saída", escreveu no Twitter. "Uma forma de dizer que tiveram o que queriam, enquanto os tratamos como querem que os tratemos".

Ela fez um apelo à comunidade internacional para aproveitar a oportunidade. "Em diplomacia merece correr o risco de um fracasso, não tratar com eles seria dar-lhes tempo para se reforçar".

A China expressou nesta quarta-feira sua "grande preocupação" e pediu que a Coreia do Norte e os Estados Unidos retomem as negociações, reiterando sua proposta de uma "dupla moratória", que consiste na suspensão dos testes norte-coreanos e das manobras militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.

O Kremlin, por sua vez, qualificou de uma "provocação" este novo disparo e pediu as todas as partes para "manter a calma".

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