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Papa pede ao mundo medidas decisivas na crise dos rohingyas

30/11/2017 13h21

Dacca, 30 Nov 2017 (AFP) - O papa Francisco pediu, no início de sua visita a Bangladesh nesta quinta-feira (30), que medidas decisivas sejam tomadas pela comunidade internacional em relação à crise dos refugiados rohingyas.

Foi no país vizinho que mais de 600 mil membros dessa minoria muçulmana encontraram abrigo, fugindo da violência em seu estado nativo de Rakhine, em Mianmar.

"É imperativo que a comunidade internacional tome medidas decisivas para essa grave crise, não apenas trabalhando para resolver as questões políticas que levaram ao deslocamento em massa desse povo, como também oferecendo assistência material imediata a Bangladesh em seu esforço de responder eficientemente às urgentes necessidades humanas", declarou o Papa em seu discurso.

"Nenhum de nós pode ignorar a gravidade da situação, o imenso sofrimento humano envolvido e as condições de vida precárias de tantos irmãos e irmãs, a maioria mulheres e crianças, amontoados nos campos de refugiados", convocou o Papa.

O sumo pontífice fez essas afirmações logo depois de chegar de Mianmar. Ele elogiou Bangladesh por acolher os refugiados que atravessaram a fronteira, destacando seu sacrifício e o "espírito de generosidade e de solidariedade" de seu povo.

Em Daca, vai-se reunir com alguns refugiados rohingyas e fará uma missa para a minoria católica bengali.

Com 160 milhões de habitantes, Bangladesh é um dos países mais pobres do mundo e um dos mais expostos à mudança climático. Há cerca de três meses, o país tenta administrar, também, o êxodo em massa dos rohingyas.

Uma das mais graves do século XXI, essa crise humanitária é o pano de fundo da visita do papa.

- Católicos bengalis ameaçadosPrimeiro papa a ir a Bangladesh em 31 anos, desde a visita de João Paulo II em 1986, Francisco passará três dias nesse país de maioria muçulmana. Na sexta-feira, conduzirá uma missa em Daca, na qual são esperadas mais de 100 mil pessoas.

Topoti Doris, uma fiel da igreja do Santo Rosário de Daca, construída por missionários agostinos no século XVII, disse estar "atônita" com a ida do papa à sua paróquia no sábado.

"Não posso explicar com palavras. É algo que você sente no fundo do seu ser", disse à AFP.

"O papa não vem apenas para os católicos, mas para toda nação. Para todo o mundo neste país, sem importar sua fé, suas crenças e sua cultura", declarou o arcebispo de Daca, cardeal Patrick D'Rozario, antes da chegada de Francisco.

Menos de 0,5% da população bengali (cerca de 380 mil pessoas), os católicos viveram durante séculos em relativa harmonia com seus vizinhos muçulmanos. Agora, o país enfrenta o avanço do extremismo islâmico, do qual católicos já foram atacados por sua fé. Estrangeiros e figuras seculares também têm sido escolhidos como alvo.

A visita papal acontece dias depois do desaparecimento de um padre católico na mesma cidade onde supostos extremistas islâmicos teriam assassinado um católico no ano passado.

Desde 2015, pelo menos três cristãos, incluindo dois convertidos ao Islã, foram mortos em ataques que teriam sido cometidos pelo grupo militante Jamayetul Mujahideen Bangladesh (JMB).

- Dilema -O governo de Mianmar nega que os rohingyas sejam um grupo étnico, insistindo em que são imigrantes "bengalis", sem direito à cidadania.

Preferindo o caminho mais diplomático em Mianmar, o sumo pontífice evitou usar a palavra rohingya, referindo-se apenas aos "refugiados do estado de Rakhine".

O papa optou por não se referir ao nome em Mianmar para não provocar a ala radical budista e, assim, correr o risco de tornar a comunidade católica do país alvo de ataques.

O Vaticano rejeitou as insinuações de que as reticências do papa em relação à crise rohingya representam um fracasso de liderança moral.

"Não se pode esperar que a gente resolva problemas impossíveis", justificou ontem o porta-voz do papa, Greg Burke, em resposta às críticas ao Vaticano, negando que o sumo pontífice tenha perdido sua "autoridade moral".

"Ele pareceu compreender o dilema que tinha diante de si", disse, por sua vez, o analista David Mathieson, que vive em Yangun, elogiando a destreza diplomática do líder católico em um país onde o Exército mantém grande poder.

"Ele é o papa, não um pugilista... Ele estava lá para ajudar o país a passar por essa terrível crise humanitária e ouvir tanto as lideranças civis quanto militares", completou o especialista.

Francisco foi calorosamente recebido pelos católicos de Mianmar, que correspondem a perto de 1% da população.

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