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Governo ucraniano e separatistas pró-russos trocam prisioneiros

27/12/2017 13h26

Gorlivka, Ucrânia, 27 dez 2017 (AFP) - As autoridades ucranianas e os separatistas pró-russos que controlam parte do leste do país trocaram centenas de prisioneiros, nesta quarta-feira (27), em uma das maiores operações desse tipo em quase quatro anos de conflito.

Fruto de negociações envolvendo Vladimir Putin, esta troca, que acontece antes do Ano Novo e do Natal ortodoxo, em 7 de janeiro, deve incluir 74 prisioneiros detidos nas duas "repúblicas" autoproclamadas pelos rebeldes e 306 presos pelas autoridades de Kiev.

Serão beneficiadas 380 pessoas, um total inédito desde o início do conflito em abril de 2014 e uma das poucas operações do tipo desde a assinatura dos acordos de paz de Minsk, em fevereiro de 2015.

O número final pode acabar sendo inferior, porém, ao de uma troca realizada em dezembro de 2014 (367), uma vez que - segundo a imprensa - alguns detentos de ambos os lados se recusam a participar do processo.

A primeira troca de prisioneiros ocorreu no front perto da cidade de Gorlivka, a cerca de 40 quilômetros da "capital" separatista de Donetsk.

Um primeiro grupo de 16 presos ucranianos transportados por ônibus chegou no final da tarde ao território controlado por Kiev, constatou um jornalista da AFP no local.

Esses prisioneiros foram detidos pelas autoridades da autoproclamada República de Lugansk, uma das duas fortalezas dos separatistas no leste da Ucrânia, segundo a vice-presidente do Parlamento ucraniano, Iryna Guerashchenko.

Em troca, os rebeldes de Lugansk receberam 73 pessoas detidas em Kiev, enquanto duas se recusaram a participar, de acordo com a agência separatista DAN.

"Estou mais ou menos bem. Permaneci preso por dois anos", declarou à AFP Igor Kozlovski, de 63 anos, enquanto aguardava ser entregue às autoridades ucranianas.

"Não fui torturada fisicamente, mas a pressão moral é muito grande", relatou Valentyna Boutchok.

O conflito no leste da Ucrânia, que já deixou 10 mil mortos desde abril de 2014, opõem as forças do governo contra os separatistas apoiados pela Rússia, segundo Kiev e os ocidentais.

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, "cumprimentou pessoalmente por telefone os primeiros detentos libertados pelos separatistas", escreveu seu porta-voz, Sviatoslav Tsegolko, no Twitter.

Em meados de novembro, o político ucraniano Viktor Medvedchuk, considerado um colaborador de Putin e um dos representantes de Kiev para as negociações com os rebeldes, pediu ao presidente russo para interceder junto aos líderes separatistas para concretizar a ideia de uma troca de prisioneiros.

Pouco depois, Putin conversou com os líderes separatistas por telefone - a primeira vez, desde o início da guerra - para discutir essa proposta.

Na segunda-feira (25), a Igreja Ortodoxa russa anunciou um acordo entre Kiev e os rebeldes, após um encontro entre o patriarca Kirill, líderes separatistas e Medvedchuk.

A operação desta quarta-feira é um primeiro passo de uma troca global de todos os prisioneiros detidos por ambos os lados. Sua soltura é um ponto-chave dos acordos de paz de Minsk para encerrar o conflito.

Esses acordos e a introdução de várias tréguas levaram a uma diminuição dos combates, mas a parte política permanece letra morta.

Na frente diplomática, a tensão aumentou nos últimos dias, depois da decisão de Washington de reforçar sua ajuda à Ucrânia, para que Kiev possa garantir a "soberania" de seu território. Moscou acusou os Estados Unidos de quererem incentivar um "banho de sangue".

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