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Irã: 'assistimos ao princípio de um grande movimento', diz Nobel da Paz

31/12/2017 12h50

Roma, 31 dez 2017 (AFP) - As manifestações no Irã são apenas "o princípio de um grande movimento" que pode ser mais amplo do que o de 2009 - considerou a Prêmio Nobel da Paz iraniana Shirin Ebadi, em entrevista publicada neste domingo (31) no jornal italiano "La Repubblica".

"Acredito que as manifestações não vão acabar logo. Me parece que assistimos ao princípio de um grande movimento de protesto que pode ir muito além da onda verde de 2009. Não estranharia se se tornasse algo maior", declarou Ebadi, que vive exilada em Londres.

Nas últimas horas, o Irã registrou novas manifestações contra o governo, durante as quais duas pessoas morreram, dezenas foram detidas, e prédios públicos foram atacados.

São as manifestações mais significativas registradas na República Islâmica desde o movimento de protesto contra a reeleição do ex-presidente ultraconservador Mahmud Ahmadineyad em 2009. Na época, o movimento foi violentamente reprimido.

Agora, as raízes da revolta são, sobretudo, econômicas e sociais: "No Irã, e isso não é novo, há uma crise econômica muito grave. A corrupção em todo país atingiu níveis espantosos. O fim de algumas sanções ligadas ao acordo nuclear com Europa e Estados Unidos em 2015 não trouxe benefícios reais para a população, ao contrário do que muitos esperavam", disse Ebadi.

"A isso se soma o fato de que o Irã tem um gasto militar muito elevado. As pessoas não toleram ver que se gasta tanto dinheiro com isso", acrescentou a advogada iraniana.

"Os jovens são os mais decepcionados", advertiu ela, mencionando o alto índice de desemprego, que os afeta diretamente, a corrupção e "o clima de censura que se respira nas ruas".

E, se entre os manifestantes também há mulheres, é porque "o movimento atual não é um assunto de gênero", apontou.

"A situação econômica e a distância aterradora entre ricos e pobres, entre os que gozam do bem-estar e os que não, estão na base do protesto. As diferenças sociais apenas aumentaram nos últimos anos, e esse é um dos elementos-chave para entender o que está acontecendo", completou a Prêmio Nobel de 2003.