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Zonas cocaleiras da Colômbia têm mais homicídios após paz com Farc, diz estudo

20/02/2018 19h51

Bogotá, 20 Fev 2018 (AFP) - Os homicídios nas zonas cocaleiras da Colômbia aumentaram em 2017, quando o governo e as Farc começaram a implementação do acordo de paz que desarmou e transformou em partido político a ex-guerrilha comunista, segundo um informe divulgado nesta terça-feira (20).

Em média, a taxa de homicídios por cem mil habitantes passou de 35,5 em 2016 para 39,5 em 2017, uma alta de 11%, nos 183 municípios onde há cultivos de folha de coca, matéria-prima da cocaína, revela o estudo intitulado "¿En qué va la sustitución? Balance 2017" (Como anda a substituição? Balanço de 2017), da Fundação Ideias para a Paz (FIP).

Nas 36 localidades em que o governo iniciou no ano passado um plano de substituição dos cultivos ilícitos, que concentram 52% dos 146.000 hectares de narcocultivos do país, os assassinatos tiveram um aumento de 33%, passando de 41,1% para 54,7%.

"A maioria dos municípios que registraram altas nos níveis de homicídios foram impactados pelas disputas e reacomodações dos grupos armados à margem da lei", destacou o informe deste centro de estudos, fundado há quase 20 anos em Bogotá.

A cifra de homicídios na Colômbia, o principal produtor e exportador de cocaína do mundo, vem diminuindo há mais de uma década. Em 2016, a taxa era de 23,66 por 100 mil, a menor em 15 anos. A de 2017 ainda não foi revelada.

A FIP adverte que "o desmonte paulatino das Farc" deixou muitos atores armados "sem nenhum tipo de regulamentação", ao que se soma o agir de outros grupos armados ilegais com interesses no narcotráfico.

Após o desarmamento das Farc, na Colômbia ainda operam o ELN, o último grupo rebelde em atividade no país, bandos de narcotraficantes de origem paramilitar e dissidências da ex-guerrilha.

"A deterioração da segurança não só se expressou na alta dos níveis de homicídios, mas em ameaças e ataques diretos ao processo de substituição", acrescentou o texto.

- Desafios -No pacto de paz, assinado no fim de novembro de 2016, as antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) se comprometeram a ajudar o governo a combater o narcotráfico.

Os rebeldes admitiram ter usado recursos provenientes do tráfico de drogas para financiar seu levante armado contra o Estado.

O governo de Juan Manuel Santos fixou como meta para o ano passado erradicar 50.000 hectares de cultivos de coca e substituir com plantios lícitos outros 50.000 para fazer frente aos históricos narcocultivos.

Santos, que em agosto deixará o poder após dois mandatos de quatro anos, disse no início de fevereiro que no último ano foram erradicados 54.000 hectares e que a meta para 2018 é de erradicar 115.000.

Para a FIP, a resposta estatal nas regiões com mais plantios ilícitos não conta com "um verdadeiro modelo de segurança rural", razão pela qual a substituição e a erradicação geraram "tensões e enfrentamentos" com as comunidades.

Em Tumaco, município com mais cultivos de coca da Colômbia, por exemplo, sete camponeses cocaleiros morreram no fim de dezembro em um confronto com a força pública.

"A ênfase na política antinarcóticos, com metas que privilegiam a destruição de cultivos e laboratórios, não foi acompanhada do restabelecimento da presença do Estado, da proteção das comunidades e da contenção das ameaças", destacou.

A organização adverte que a sustentabilidade do processo contra os narcocultivos entrará em 2018 "em uma etapa de incerteza" devido à mudança de governo, às condições de segurança, às pressões dos grupos armados e à escassa articulação entre as entidades estatais.