Eleições sem adversário: Maduro deslegitimado ou oposição enfraquecida?
Caracas, 22 Fev 2018 (AFP) - O boicote da oposição às eleições presidenciais de 22 de abril pode deslegitimar a reeleição de Nicolás Maduro, mas também enfraquece ainda mais a oposição, segundo analistas consultados pela AFP.
- O que a oposição ganha em não disputar as presidenciais? -Ao se negar a participar das eleições antecipadas, os principais partidos da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) tentam tirar de Maduro a "legitimidade de origem" à sua possível reeleição por mais seis anos.
"Se Maduro ficar brigando com uma sombra, não ficará confortável e entrará em uma deriva de legitimidade", destacou o cientista político Édgard Gutiérrez, diretor do instituto de pesquisas Venebarómetro.
No entanto, marginalizar-se só é eficaz se a oposição articular um movimento de luta para desprestigiar as eleições e conseguir as condições para uma disputa competitiva no futuro, afirmam especialistas.
Sem "um plano claro para a reativação da sociedade e a geração de mais pressão, então (retirar-se) é uma decisão péssima" que enfraquecerá a oposição, advertiu Félix Seijas, diretor da empresa Delphos.
A MUD, consequentemente, deve esclarecer se sua postura é de "abstenção passiva ou ativa, se leva a um novo aumento dos protestos de rua ou da conflitividade com o governo", afirmou o consultor político Oswaldo Ramírez.
A "abstenção ativa" parece ser a opção: a MUD anunciou a criação de uma ampla frente nacional, com forças sociais e políticas, para "alcançar este ano eleições limpas".
Mas para isto tem o grande desafio de reanimar seus seguidores, decepcionados após mais de quatro meses de duros protestos que deixaram 125 mortos em 2017, sem alcançar o objetivo de tirar Maduro do poder.
- O que acontece se Maduro tiver um oponente? -A oposição deixou na quarta-feira uma janela aberta e desafiou Maduro a que "se meça perante o povo em eleições de verdade". Se o governo der condições eleitorais, afirma, disputará as eleições.
"É a via adequada: propõe condições para que a eleição seja legítima e reconhecida", disse à AFP Luis Vicente León, diretor da Datanálisis. A MUD exige, entre várias demandas, observação internacional, auditorias e um poder eleitoral "equilibrado".
Mas mesmo se o governo não ceder, grupos minoritários opositores provavelmente competirão nas presidenciais, avaliou Ramírez. Trata-se do partido Avançada Progressista, do ex-governador dissidente do chavismo Henri Falcón, e de grupos que o apoiam como Copei e MAS (inclusive da MUD).
"Provavelmente inscreva sua candidatura e aguarde para tentar conseguir condições", considerou o consultor político.
Falcón mencionou na terça-feira passada que há conversas para alcançar garantias, como postergar a data. "Nicolás, vou te derrotar com tudo e suas armadilhas", tuitou na quinta-feira o político, membro da MUD.
O cientista político Nicmer Evans - dissidente do chavismo e forte crítico de Maduro - opinou que a participação de Falcón e do pastor evangélico Javier Bertucci servirá ao governo para legitimar o processo.
"Permitiria a ele encontrar uma desculpa internacional para justificar sua eleição", sustentou.
No entanto, Gutiérrez considera que, ainda que Falcón se inscreva, a comunidade internacional "entenderá que a eleição continua sendo ilegítima" porque foi convocada de forma adiantada pela governista Assembleia Constituinte, desconhecida por vários países e pela oposição.
León não descarta que Falcón consiga certas garantias e dispute. "Ao governo interessa a participação de um opositor. Com a oposição fissurada, pode ceder em mudanças, pois seu risco é controlado", apontou.
- Como o governo fica após a decisão da MUD? -Maduro, disputando sozinho, enfrentará os riscos de uma implosão nas fileiras do chavismo, de acordo com o analista Luis Vicente León.
"Pela primeira vez em 20 anos, os chavistas - fora da cúpula - terão que decidir se continuam apoiando Maduro em uma eleição que, longe de ajudar, deslegitima-os mais" e pode gerar sanções de vários países contra funcionários, indicou.
Mas Evans acredita que Maduro não se preocupa com a pressão internacional. "Não há um governo totalitário que consiga sê-lo isolar sem se isolar. O que realmente lhe interessa é construir uma oposição à sua medida e isso será alcançado se um setor participar", acrescentou.
- O que a oposição ganha em não disputar as presidenciais? -Ao se negar a participar das eleições antecipadas, os principais partidos da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) tentam tirar de Maduro a "legitimidade de origem" à sua possível reeleição por mais seis anos.
"Se Maduro ficar brigando com uma sombra, não ficará confortável e entrará em uma deriva de legitimidade", destacou o cientista político Édgard Gutiérrez, diretor do instituto de pesquisas Venebarómetro.
No entanto, marginalizar-se só é eficaz se a oposição articular um movimento de luta para desprestigiar as eleições e conseguir as condições para uma disputa competitiva no futuro, afirmam especialistas.
Sem "um plano claro para a reativação da sociedade e a geração de mais pressão, então (retirar-se) é uma decisão péssima" que enfraquecerá a oposição, advertiu Félix Seijas, diretor da empresa Delphos.
A MUD, consequentemente, deve esclarecer se sua postura é de "abstenção passiva ou ativa, se leva a um novo aumento dos protestos de rua ou da conflitividade com o governo", afirmou o consultor político Oswaldo Ramírez.
A "abstenção ativa" parece ser a opção: a MUD anunciou a criação de uma ampla frente nacional, com forças sociais e políticas, para "alcançar este ano eleições limpas".
Mas para isto tem o grande desafio de reanimar seus seguidores, decepcionados após mais de quatro meses de duros protestos que deixaram 125 mortos em 2017, sem alcançar o objetivo de tirar Maduro do poder.
- O que acontece se Maduro tiver um oponente? -A oposição deixou na quarta-feira uma janela aberta e desafiou Maduro a que "se meça perante o povo em eleições de verdade". Se o governo der condições eleitorais, afirma, disputará as eleições.
"É a via adequada: propõe condições para que a eleição seja legítima e reconhecida", disse à AFP Luis Vicente León, diretor da Datanálisis. A MUD exige, entre várias demandas, observação internacional, auditorias e um poder eleitoral "equilibrado".
Mas mesmo se o governo não ceder, grupos minoritários opositores provavelmente competirão nas presidenciais, avaliou Ramírez. Trata-se do partido Avançada Progressista, do ex-governador dissidente do chavismo Henri Falcón, e de grupos que o apoiam como Copei e MAS (inclusive da MUD).
"Provavelmente inscreva sua candidatura e aguarde para tentar conseguir condições", considerou o consultor político.
Falcón mencionou na terça-feira passada que há conversas para alcançar garantias, como postergar a data. "Nicolás, vou te derrotar com tudo e suas armadilhas", tuitou na quinta-feira o político, membro da MUD.
O cientista político Nicmer Evans - dissidente do chavismo e forte crítico de Maduro - opinou que a participação de Falcón e do pastor evangélico Javier Bertucci servirá ao governo para legitimar o processo.
"Permitiria a ele encontrar uma desculpa internacional para justificar sua eleição", sustentou.
No entanto, Gutiérrez considera que, ainda que Falcón se inscreva, a comunidade internacional "entenderá que a eleição continua sendo ilegítima" porque foi convocada de forma adiantada pela governista Assembleia Constituinte, desconhecida por vários países e pela oposição.
León não descarta que Falcón consiga certas garantias e dispute. "Ao governo interessa a participação de um opositor. Com a oposição fissurada, pode ceder em mudanças, pois seu risco é controlado", apontou.
- Como o governo fica após a decisão da MUD? -Maduro, disputando sozinho, enfrentará os riscos de uma implosão nas fileiras do chavismo, de acordo com o analista Luis Vicente León.
"Pela primeira vez em 20 anos, os chavistas - fora da cúpula - terão que decidir se continuam apoiando Maduro em uma eleição que, longe de ajudar, deslegitima-os mais" e pode gerar sanções de vários países contra funcionários, indicou.
Mas Evans acredita que Maduro não se preocupa com a pressão internacional. "Não há um governo totalitário que consiga sê-lo isolar sem se isolar. O que realmente lhe interessa é construir uma oposição à sua medida e isso será alcançado se um setor participar", acrescentou.
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