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Premiê britânica adverte UE contra 'ameaça russa' após ataque a ex-espião

22/03/2018 16h01

Bruxelas, 22 Mar 2018 (AFP) - A primeira-ministra britânica, Theresa May, advertiu nesta quinta-feira (22) contra a "ameaça russa" em sua chegada a uma cúpula com seus contrapartes europeus, a quem pedirá apoio contra Moscou por seu suposto envolvimento no envenenamento de um ex-espião russo em solo britânico.

"A ameaça russa não respeita fronteiras", advertiu May em Bruxelas, onde advogará a favor de uma posição firme da União Europeia (UE) na condenação ao ataque em Salisbury, sul da Inglaterra, no qual foi usado um agente neurotóxico fabricado durante a era soviética.

Este ataque "faz parte de um padrão de agressão russa contra a Europa e seus vizinhos próximos", declarou à imprensa.

Desde o ataque de 4 de março contra Serguei Skripal e sua filha, Yulia, considerado o primeiro uso de um agente neurotóxico nas ruas da Europa desde a Segunda Guerra Mundial, Londres e Moscou travam uma dura guerra de declarações.

O último episódio foi protagonizado pelo ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, que comparou a Copa do Mundo da Rússia-2018 aos Jogos Olímpicos de Berlim-1936, que estava sob o comando de Adolf Hitler, um paralelo tachado pela Rússia de "asqueroso".

Os torcedores ingleses estarão "seguros" na Rússia apesar da crise latente entre Londres e Moscou, assegurou o embaixador russo em Londres, Alexander Yakovenko, em uma tentativa de acalmar os ânimos.

Nesta escalada de tensões, ambas as capitais também procederam à expulsão de 23 diplomatas, e a primeira-ministra britânica chegou a anunciar a interrupção de contatos bilaterais.

- Divisão -A tarefa de Theresa May em Bruxelas não será fácil, já que as capitais europeias estão divididas a respeito da posição a ser adotada diante de Moscou.

Enquanto Alemanha e França compartilham a conclusão britânica de que a Rússia é a única responsável pelo ataque, outros países como Itália, Grécia e Áustria, que não querem tensionar mais a relação com Moscou, pedem provas do envolvimento russo.

O projeto de declaração dos 28 preparado para a cúpula europeia reflete as "diferentes posições" dos Estados europeus, assinalaram diplomatas em Bruxelas.

Segundo o rascunho obtido pela AFP antes do início da cúpula, os líderes se limitarão a expressar que levam "muito a sério a avaliação do governo britânico, segundo a qual é muito provável que a Federação da Rússia seja responsável", mas não mencionam eventuais sanções.

"Devemos expressar nossa solidariedade com o Reino Unido, mas ao mesmo tempo devemos investigar, devemos ser muito responsáveis na gestão desse caso", declarou o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ao chegar à reunião.

Theresa May se reunirá nesta quinta-feira à noite com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, Emmanuel Macron, para coordenar posições, antes de abordar o tema russo com os 25 outros países durante o jantar de trabalho.

A França estaria disposta, se May desejar, a ser mais explícita em seu apoio ao Reino Unido e, inclusive, a adotar eventuais medidas em coordenação com outros países europeus, indicou uma fonte do Eliseu, sem detalhar que ações poderiam ser tomadas.

Enquanto isso, em Moscou, o presidente Vladimir Putin reuniu nesta quinta o seu conselho de Segurança e abordou "a política pouco amistosa e provocadora do Reino Unido com a Rússia", segundo um comunicado do Kremlin.

A Rússia, que já é alvo de sanções econômicas por seu envolvimento no conflito na Ucrânia, nega estar envolvida no envenenamento do ex-espião e de sua filha - que estão em estado crítico - e chegou a insinuar que o ataque foi uma "encenação" das autoridades britânicas.

Nesta quinta-feira, um juiz britânico autorizou que os médicos tirassem sangue para que este fosse analisado por especialistas em armas químicas.

- Isenção de taxas para UE? -Além do caso de Salisbury, os líderes europeus abordarão durante a cúpula de dois dias a disputa comercial com os Estados Unidos por conta da decisão de Donald Trump de impor pesadas taxas às importações de aço (25%) e de alumínio (10%).

A União Europeia espera a confirmação de Donald Trump de que exonera o bloco comunitário dessas taxas, como afirmou nesta quinta-feira seu representante de Comércio, Robert Lighthizer.

Os líderes também discutirão o escândalo do uso de dados pessoais do Facebook por uma empresa de análise de dados britânica contratada pela equipe de campanha de Trump em 2016.

E na sexta-feira, já sem May, será abordada a futura relação, inclusive a comercial, com o Reino Unido depois do Brexit, previsto para 29 de março de 2019.