Topo

O que acontece com a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã?

9.mai.2018 - O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, é recebido pelo oficial norte-coreano Kim Yong-chul ao desembarcar em Pyongyang para uma visita de 13 horas na Coreia do Norte - AFP PHOTO / POOL / Matthew LEE
9.mai.2018 - O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, é recebido pelo oficial norte-coreano Kim Yong-chul ao desembarcar em Pyongyang para uma visita de 13 horas na Coreia do Norte Imagem: AFP PHOTO / POOL / Matthew LEE

09/05/2018 16h44

A decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear iraniano não apenas arruína a credibilidade diplomática de Washington, como complica as negociações com a Coreia do Norte sobre seu arsenal nuclear, avaliaram os especialistas.

O presidente americano tem previsto se reunir nas próximas semanas com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, para discutir a questão nuclear, como novo reflexo da distensão histórica na península coreana.

Entretanto, Trump acaba de anunciar a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, alcançado em 2015, fruto de longas negociações internacionais para evitar que Teerã desenvolvesse a bomba atômica.

A decisão foi tomada enquanto outras as partes signatárias do acordo defenderam até o final o texto, que qualificaram de "histórico", e destacaram que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) certificou com regularidade que Teerã estava cumprindo com suas obrigações.

Veja também:

O secretário de Estado adjunto do governo de Barack Obama, Antony Blinken, considerou que esta mudança de Washington complica o tema norte-coreano.

"Por que Kim (...) deveria acreditar nos compromissos do presidente Trump se ele rompe arbitrariamente um acordo que a outra parte respeita?", questionou-se no Twitter.

E esta é uma opinião compartilhada por Vipin Narang, professor no prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). "Hoje, o mundo se lembra que os acordos são reversíveis e podem ter data de validade, e que as armas nucleares podem ser um seguro de vida".

'Loucura'

A Coreia do Norte, tecnicamente em guerra por falta de um tratado de paz, sempre justificou o desenvolvimento de programas nucleares e balísticos pela ameaça representada pelos Estados Unidos à sobrevivência de seu regime.

O conselheiro americano de Segurança Nacional, John Bolton, afirmou no final de abril que os Estados Unidos estavam pensando no "modelo líbio de 2003, 2004" para a desnuclearização da Coreia do Norte.

Muammar Kadhafi, que então comandava a Líbia, anunciou em dezembro de 2003 que renunciava a todo o seu programa de desenvolvimento de armas de destruição em massa (ADM), após nove meses de negociações secretas com os Estados Unidos e o Reino Unido.

Mas Kadhafi foi deposto em 2011 por uma rebelião apoiada pelos bombardeios aéreos ocidentais e depois foi assassinado.

Pyongyang citou este exemplo várias vezes, assim como o trágico destino do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein, para justificar seus programas militares proibidos.

Segundo o ex-chefe da CIA John Brennan, a "loucura" de Trump "minou a confiança global nos compromissos que os Estados Unidos assumem, alienou os aliados mais próximos, fortaleceu os falcões iranianos e deu à Coreia do Norte mais razões para manter suas bombas nucleares".

Aliado chinês

A imprevisibilidade de Trump gera preocupação na Coreia do Sul. Neste contexto, quão importantes são os esforços de paz do presidente sul-coreano, Moon Jae-in?

De acordo com especialistas, as duas viagens de Kim Jong-un à China mostram que ele busca o apoio de seu tradicional aliado chinês.

Kim se reuniu com o presidente chinês, Xi Jinping, nesta semana pela segunda vez em pouco mais de um mês.

"A Coreia do Norte está plenamente ciente dos riscos de os Estados Unidos renunciarem a qualquer acordo em caso de mudança de governo", disse à AFP Koh Yu-hwan, da Universidade Dongguk.

"Para se proteger contra essa possibilidade, Kim Jong-un se reuniu duas vezes com Xi Jinping para ter garantias de da China em matéria de segurança antes de entrar em negociações com os Estados Unidos".