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Com mais violência e imigração, fronteiras serão desafio para novo presidente da Colômbia

14.abril.2018 - Soldados da Marinha colombiana patrulham as águas de Tumaco, próximo à fronteira da Colômbia com o Equador - Raul Arboleda/AFP
14.abril.2018 - Soldados da Marinha colombiana patrulham as águas de Tumaco, próximo à fronteira da Colômbia com o Equador Imagem: Raul Arboleda/AFP

Bogotá

24/05/2018 04h02

Tráfico de drogas, desigualdade social e uma migração que cresce em número e desespero. Muito longe de Bogotá, nas fronteiras com Venezuela e Equador, ganha força um conflito com várias pontas.

E essa violência não ameaça apenas a segurança regional, mas a perspectiva de que a Colômbia consolide a segurança e o acordo de paz no próximo governo.

Com visões opostas sobre o combate às drogas e sobre a diplomacia com os vizinhos, a direita dura e a esquerda radical disputam o voto antes do primeiro turno da eleição presidencial de domingo.

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"O tráfico de drogas irrompe no pós-conflito (com as Farc) quase de forma inesperada", e as "fronteiras voltam a ganhar importância porque são retaguardas", diz à AFP o general reformado Jairo Delgado, analista e ex-chefe policial de Inteligência.

Grupos armados disputam territórios que são chave para o tráfico de drogas.

15.abril.2018 - Militares da marinha colombiana ficam de guarda no rio Mira, em Tumaco, perto da fronteira com o Equador - Raul Arboleda/AFP - Raul Arboleda/AFP
Militares da marinha colombiana ficam de guarda no rio Mira, em Tumaco, perto da fronteira com o Equador
Imagem: Raul Arboleda/AFP

Nos limites com Venezuela (nordeste) e Equador (sudoeste), mais de 20.000 soldados tentam conter esse fenômeno que surgiu, ou que se fortaleceu após a paz com a agora ex-guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Além desses países, a Colômbia faz fronteira por terra com Brasil, Panamá e Peru.

"O grande desafio é que essas ameaças são transnacionais, de tipo fronteiriço", observa Irene Cabrera, pesquisadora da Universidad Externado. E a cooperação para enfrentá-las se coloca como um desafio.

Colômbia e Venezuela

Separados por 2.219 km de deserto, selva, rios, passagens clandestinas e pontos densamente povoados, Colômbia e Venezuela se afastam diplomaticamente. Bogotá lidera a pressão externa contra o governo reeleito de Nicolás Maduro.

O problema está, porém, na fronteira, uma das mais ativas da América Latina, segundo Ronal  Rodríguez, do Observatório de Venezuela da Universidad  del  Rosario.

Cidadãos venezuelanos em Cucuta, na Colômbia, depois de cruzarem a ponte Simon Bolívar na fronteira com a Venezuela  - Luis Acosta/AFP - Luis Acosta/AFP
Venezuelanos em Cucuta, na Colômbia, depois de cruzarem a ponte Simon Bolívar na fronteira com a Venezuela
Imagem: Luis Acosta/AFP

"Antes eram os venezuelanos que se queixavam de que o conflito colombiano podia contaminar a Venezuela. Agora, é a instabilidade política, econômica e a crise humanitária (em seu país) que contagiam a Colômbia", afirma.

Nunca antes este país - que, por conta do conflito, tem 311.000 refugiados no exterior, ou em trâmite de sê-lo - havia recebido uma migração semelhante.

Nos últimos dois anos, chegaram 762.000 venezuelanos, e 518.000 deles pretendem se instalar na Colômbia, segundo o governo.

Apesar dos esforços para oferecer condições à diáspora venezuelana, muitos estão se envolvendo com grupos armados, advertem Rodríguez e o general Delgado.

Na fronteira, tem contrabando de mercadorias e de gasolina subsidiada da Venezuela, substância usada na fabricação de cocaína. Até 2016, no lado colombiano, concentravam-se 15% dos 146.000 hectares de folhas de coca plantados na Colômbia.

Venezuelanos atravessam a ponte internacional Simon Bolívar de San Antonio del Tachira, na Venezuela, rumo à Cucuta, na Colômbia - Luis Acosta/AFP - Luis Acosta/AFP
Venezuelanos atravessam a ponte internacional Simon Bolívar de San Antonio del Tachira, na Venezuela, rumo à Cucuta, na Colômbia
Imagem: Luis Acosta/AFP

Pela Venezuela, saem toneladas de cocaína para Europa e África, concordam especialistas e autoridades.

Quando as Farc se dissolveram, o Estado não ocupou imediatamente as zonas deixadas pelos rebeldes. Os insurgentes do ELN - em diálogos de paz - e os Pelusos - remanescentes da extinta guerrilha maoísta do EPL - disputam essas áreas.

A população, que sofre o confinamento imposto por essa luta, sente como um fracasso o plano oficial que lhes prometia dinheiro e obras para que substituíssem os plantios ilegais.

"Aqui se vive no abandono, as vias de acesso são nulas (...) E a isso se soma a presença militar, que foi a única resposta do Estado", disse Robinson Salazar, líder social da região fronteiriça do Catatumbo.

A realidade com Equador

Com o Equador, a Colômbia compartilha sua segunda fronteira mais ativa. São 600 quilômetros de vias, manguezais e selva tropical, onde se assentam populações historicamente abandonadas pelos Estados. A maioria é formada por negros, indígenas e colonos.

Os migrantes venezuelanos também estão cruzando a ponte Rumichaca da Colômbia, para seguir na direção do Equador e de outros destinos.

Este ano, o sequestro e assassinato de uma equipe de repórteres de Quito, em um ponto limítrofe, expôs o poder da máfia mexicana. Segundo militares, ela estaria por trás dos dissidentes das Farc que mataram os três equatorianos, capturaram outros dois e atacaram a força pública do Equador.

18.abril.2018 - Membros da força equatoriana patrulham uma área rural perto de Tumaco, em Narino, Colômbia, perto da fronteira com o Equador - Juan Restrepo/AFP - Juan Restrepo/AFP
Membros da força equatoriana patrulham uma área rural perto de Tumaco, em Nariño, Colômbia, perto da fronteira com o Equador
Imagem: Juan Restrepo/AFP

Tumaco é epicentro desse conflito. Com 23.148 hectares (16% do total), é o município com mais coca cultivada no mundo e faz parte da rota do Pacífico, por onde sai a maior quantidade de droga para os Estados Unidos. Pelo menos 12 grupos se enfrentam ali pelo controle territorial.

"Essas organizações operam em círculos muito pequenos, com funções muito específicas, e isso ajuda em sua camuflagem", disse a pesquisadora Irene Cabrera.

E o mais grave: contam com um potencial exército de jovens dispostos a morrer em troca de deixar a miséria.

"Eles querem aproveitar uns cinco anos, sabem que vão morrer. É a mentalidade da falta de oportunidade", diz o padre de Tumaco, Arnulfo Mina.

Apesar do receio do Equador, a Colômbia pode consolidar "uma cooperação muito mais eficiente, para desenvolver operações conjuntas que são as que permitem um verdadeiro controle bilateral", acrescenta o general Delgado.

Uma alternativa que está praticamente descartada com a Venezuela.