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Bloqueios de caminhoneiros persistem no Brasil, apesar de concessões de Temer

28/05/2018 12h12

Rio de Janeiro, 28 Mai 2018 (AFP) - Os caminhoneiros prosseguiam nesta segunda-feira (28) com vários bloqueios em todo o país, embora o abastecimento de alimentos e combustíveis tenha começado a ser realizado em várias cidades, após as concessões governamentais anunciadas no domingo.

"A avaliação é que, no dia de hoje, essas manifestações cessem, e os caminhoneiros voltem a trabalhar. Ainda existem alguns pontos de bloqueio, mas a greve reivindicatória foi resolvida", afirmou o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, à rádio CBN.

"Nós temos as mais absolutas convicções de que as reivindicações foram atendidas. A partir de agora, é um movimento de radicalização anárquica que nós entendemos que não vai prosperar", afirmou.

Esta manhã, bloqueios foram relatados em 20 estados do país; oito aeroportos estavam sem combustível, e os supermercados, praticamente sem alimentos frescos. Além disso, algumas universidades suspenderam as aulas, como a Universidade de São Paulo (USP).

No porto de Santos, o maior da América Latina, os caminhoneiros autônomos que bloqueavam a entrada de cargas há oito dias se pronunciaram a favor da continuação do movimento, informou um repórter da AFP.

Ao mesmo tempo, caminhões-tanque com gasolina, ou gás, começaram a circular gradualmente em cidades como Brasília.

Em um movimento sem líderes claros, os dirigentes de transportadoras afirmaram no domingo que estavam dispostos a suspender os bloqueios, que pretendiam obter a redução do preço do diesel, após o presidente Michel Temer anunciar medidas para atender as suas demandas.

As medidas foram publicadas no final do domingo em uma edição extra do Diário Oficial da União, conforme exigido pelos caminhoneiros, como garantia de que as promessas seriam cumpridas.

Temer ordenou na sexta-feira a mobilização das Forças Armadas para frear a greve, mas a medida controversa não teve efeito.

Entre as medidas anunciadas no domingo, estão a redução de 46 centavos por litro de diesel por 60 dias e uma reavaliação mensal dos preços, e não diária, como fazia a Petrobras até a semana passada, quando a explodiu a crise.

Além disso, o presidente ordenou a suspensão da cobrança de pedágio para os eixos vazios dos caminhões em rodovias federais, estaduais e municipais e uma tabela mínima de preços de fretes.

O retorno à normalidade é tão esperado quanto incerto no país: especialistas acreditam que a regularização da oferta pode levar até dois meses.

A Associação Brasileira de Proteína Animal informou que cerca de 64 milhões de pintinhos e aves morreram por falta de comida e pelo menos um milhão estariam em perigo, além de 20 milhões de suínos.

A normalização do fornecimento de rações pode levar até dois meses, de acordo com estimativas de especialistas.

A Associação Nacional de Hospitais Privados indicou que, a partir desta segunda-feira, muitos estabelecimentos "não poderão garantir a continuidade do atendimento de pacientes que necessitam de tratamento, se não forem tomadas medidas imediatas".

Paralelamente a esta situação, os sindicatos petroleiros anunciaram uma greve de "advertência" de 72 horas a partir de quarta-feira.

A crise acontece em plena pré-campanha para as eleições de outubro, na qual nenhum candidato que apoia as políticas de ajuste fiscal preconizadas pelo governo aparece entre os favoritos à presidência.

Neste contexto, as ações da Petrobras caíam cerca de 8% na Bolsa de Valores de São Paulo nesta segunda-feira.

Às 11h10, as ações preferenciais da estatal petroleira perdiam 7,58%, e as ordinárias, 7,47%, após ter superado a barreira dos 8%, enquanto o índice Ibovespa caía 2,77%. Na semana passada, as ações da Petrobras já haviam caído 14%.

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, tentou acalmar a reação negativa do mercado, garantindo que a medida anunciada por Temer "não irá causar qualquer prejuízo" para a empresa e que "não há um congelamento de preços", mas "apenas uma mudança na periodicidade" da revisão.