Trump ameaça fechar a fronteira com o México se caravana de migrantes não for detida
O presidente Donald Trump ameaçou nesta quinta-feira (18) fechar a fronteira Estados Unidos-México se o país vizinho não impedir o fluxo de imigrantes vindos da América Central.
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"Além de interromper todos os pagamentos a esses países, que parecem não ter quase nenhum controle sobre sua população, devo pedir ao México que pare com esse avanço e, se não conseguir, vou chamar os militares e FECHAR NOSSA FRONTEIRA SUL", tuitou.
Esses comentários acontecem num momento em que o secretário de Estado, Mike Pompeo, está se preparando para visitar o Panamá nesta quinta-feira e o México na sexta-feira.
Na quarta, o presidente americano pediu uma atualização das leis de imigração do país.
"É difícil acreditar que, com milhares de pessoas caminhando desimpedidas para a fronteira sul, em grandes caravanas, os democratas não aprovarão leis que permitam a proteção de nosso país", disse no Twitter.
A porta-voz do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Katie Waldman, disse que as notícias da caravana são o resultado dos conhecidos vácuos legais nos mecanismos para deter e em seguida libertar os migrantes.
"Como temos dito e repetido, até que o Congresso aja, vamos continuar tendo fronteiras abertas de fato que garantam futuras 'caravanas' e cifras recorde de famílias que entram ilegalmente no nosso país", afirmou Waldman em um comunicado.
A caravana
No sábado, um grupo de mais de 2.000 hondurenhos começou uma caminhada em San Pedro Sula, 180 quilômetros ao norte de Tegucigalpa, até a fronteira com a Guatemala para chegar aos Estados Unidos, uma rota de 2.000 km cheia de obstáculos e perigos.
Nessa quarta-feira, já na Guatemala, os milhares de imigrantes continuavam sua marcha, exaustos, mas convictos de que chegarão aos Estados Unidos, mesmo em meio às ameaças do presidente Donald Trump de suspender a ajuda aos países centro-americanos se eles não interromperem esse êxodo.
Cansados pela longa viagem, após caminharem por horas sob o sol e a chuva, um primeiro grupo de quase mil hondurenhos encontrou refúgio na Casa del Migrante, administrada pela Igreja Católica no centro da capital guatemalteca.
Seu objetivo é recuperar forças e continuar em direção à fronteira com o México.
Outro grupo semelhante se encontra atualmente no leste da Guatemala, depois de chegar, na segunda-feira à tarde, à cidade fronteiriça de Esquipulas.
Um contingente de 244 policiais federais mexicanos foram enviados a Tapachula (Chiapas, sul) para reforçar a vigilância da cidade fronteiriça com a Guatemala.
Os agentes, equipados para dissolver motins, chegaram em duas aeronaves da corporação ao aeroporto internacional da cidade, e serão enviados para duas pontes fronteiriças: a Suchiate II, no mesmo município, e a Talismán, na localidade vizinha de Tuxtla Chico.
"Esse é o início de uma avalanche que está chegando, porque não suportamos mais tanta violência", disse à AFP Denis Contreras, um dos imigrantes que fugiu de Honduras com a irmã e duas sobrinhas.
O homem, de baixa estatura e olhos claros, vestindo uma camisa da seleção de futebol de Honduras, afirmou que seu objetivo é chegar aos Estados Unidos e não voltar ao seu país, que segundo ele está mergulhado no "caos" pela violência e pela pobreza.
Além disso, retornar a Honduras seria sua sentença de morte porque fugir "é mal visto" pelas gangues.
Os mais de 2.000 imigrantes partiram no último sábado de San Pedro Sula, no norte de Honduras, após uma chamada pelas redes sociais.
Na segunda-feira, um grande contingente da polícia guatemalteca tentou impedir seu avanço, mas depois de horas de tensão, a multidão de imigrantes conseguiu chegar à cidade de Esquipulas e, desde então, marcharam em grupos para a Cidade da Guatemala.
O Observatório para a Proteção dos Defensores dos Direitos Humanos em Honduras denunciou a detenção do jornalista e defensor dos direitos dos imigrantes, Bartolo Fuentes, pela polícia guatemalteca enquanto acompanhava o grupo.
O presidente guatemalteco, Jimmy Morales, disse a jornalistas que este país colaborava na assistência aos imigrantes, concedendo comida e abrigo. Ele também comentou que se comunicou com o hondurenho Juan Orlando Hernández, e com o vice-presidente americano Mike Pence, para discutir os perigos e a proteção especialmente aos mais vulneráveis.
Sonhos e esperanças
Na quadra de esportes do abrigo para imigrantes, transformado em dormitório, Maria Ramos, de 43 anos, tomava café da manhã com sua filha de 15 anos antes de partir para um terminal de ônibus e viajar para a fronteira com o México.
A missão é passar pelo estado mexicano de Chiapas, onde o governador local, Manuel Velasco, anunciou que ajudará os imigrantes, apesar da advertência do governo federal de impedir a entrada de hondurenhos que não cumprirem as leis migratórias.
María, natural da cidade de Ocotepeque, na fronteira com a Guatemala, disse à AFP que tomou a decisão de migrar quando o grupo de imigrantes se aproximava.
"Quando vimos as pessoas chegando, decidimos vir também", contou a mulher, que mal sobrevivia com a plantação de milho e feijão em sua comunidade, constantemente afetada por secas.
O sonho dos imigrantes é obter asilo nos Estados Unidos, trabalhar e ajudar suas famílias que permaneceram em Honduras, acrescentou Sairi Bueso, de 24 anos, com sua filha de 2 anos de idade que sofre de microcefalia.
Bueso chora ao lembrar de seus pais idosos que ficaram em Honduras e espera "trabalhar por cinco anos" nos Estados Unidos e depois voltar para sua cidade natal, El Progreso.
Com uma taxa de homicídios de 43 por 100.000 habitantes, Honduras é considerado um dos países mais violentos do mundo, principalmente pela atuação de facções criminosas e do narcotráfico, uma situação que também prevalece na Guatemala e em El Salvador.
Além disso, 68% dos nove milhões de habitantes de Honduras vive na pobreza.
Ameaças do norte
O novo êxodo de imigrantes ilegais não foi bem aceito em Washington, e o presidente Donald Trump ameaçou os presidentes de Honduras, Guatemala e El Salvador de acabar com a ajuda financeira que Washington lhes concede caso não parem os imigrantes.
"Se eles permitirem que seus cidadãos, ou terceiros, cruzem suas fronteiras e cheguem aos Estados Unidos com a intenção de entrar ilegalmente no país, todos os pagamentos para eles vão TERMINAR (FIM)!", sentenciou Trump no Twitter.
Nesta quarta-feira, o presidente americano aumentou suas ameaças exigindo reformas para "as horrendas, fracas e antiquadas leis de imigração".
O padre católico e ativista Mauro Verzeletti, diretor da Casa del Migrante, disse à AFP que o governo americano "é demagogo" com esses alertas, acusando-o de "nunca apoiar os pobres" e causar a imigração forçada.
A violência na América Central empurrou famílias inteiras, e em muitos casos crianças sozinhas, a fugirem empreendendo a perigosa viagem para os Estados Unidos.
"Uma caravana é uma forma que os migrantes têm de se agrupar para salvaguardar sua própria segurança", explicou à AFP Clara Long, pesquisadora da organização Human Right Watch, destacando que o corredor pela América Central é uma das rotas migratórias mais perigosas do mundo.
Almagro pede respeito a direitos dos migrantes
O governo do México já tinha falado que frearia a passagem dos migrantes que não cumprirem com a legislação.
Mais de 500.000 pessoas cruzam clandestinamente a fronteira sul do México a cada ano em sua tentativa de chegar aos Estados Unidos, de acordo com dados da ONU. A maioria sai da América Central fugindo da violência e da pobreza de seus países.
Na semana passada, o presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, participou junto com seus homólogos de Guatemala e El Salvador da Segunda Conferência sobre Prosperidade e Segurança na América Central em Washington.
No fórum, o vice-presidente americano, Mike Pence, foi contundente ao pedir aos líderes centro-americanos que enviem uma mensagem aos seus cidadãos: "Se não puderem vir aos Estados Unidos legalmente, não venham".
Mediante o acordo chamado "Aliança para a Prosperidade", Washington outorga ajuda financeira para implementar programas que melhorem as condições de segurança e criem oportunidades de desenvolvimento para frear a migração.
Enquanto isso, o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, pediu respeito aos direitos dos migrantes.
"Pedimos respeito aos direitos e à segurança dos integrantes da caravana de migrantes, assim como a investigação do possível envolvimento de traficantes de pessoas", assinalou Almagro.
Neste sentido, Long lembrou que cada um dos países tem a obrigação de dar uma audiência justa às pessoas que pedirem proteção.
Mais de um milhão de hondurenhos moram nos Estados Unidos, a maioria em situação ilegal. No ano passado, injetaram quatro bilhões de dólares em remessas à economia de seu país, equivalentes a 20% do produto interno bruto (PIB).
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