Ativistas, governadores e procuradores se unem para barrar agenda de Trump
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Kamala Harris, em seu discurso admitindo a derrota, usou quase 20 vezes a palavra "luta". E é isso que movimentos progressistas, governadores democratas e procuradores decidiram fazer para tentar barrar as propostas de Donald Trump.
O republicano chega ao poder com uma vitória do voto popular e dos delegados, retoma o controle do Senado, pode ter a maioria na Suprema Corte ao longo de seu mandato e deve ainda ver a Câmara de Deputados sair do domínio dos democratas.
Mas a ordem pelo país é a de não desistir de fazer resistência, ainda que ela não ocorra em Washington. Ao longo dos últimos meses, lideranças democratas e movimentos sociais já começaram a se preparar para o que mais temiam: um segundo mandato de Trump.
Em conversas com entidades de defesa de direitos humanos, a reportagem constatou que a vitória de Trump, desta vez, ocorre diante de uma organização diferente daquela de 2016. "Naquele momento, o mundo foi pego de surpresa. Ninguém poderia imaginar que ele seria eleito e que faria o que fez", contou uma ativista, pedindo anonimato diante dos temores de ser identificada. "Agora, nos preparamos para agir se ele fosse eleito", explicou.
Em diferentes estados, linhas de atendimento foram abertas por entidades da sociedade civil à comunidade LGBTQI+, afroamericanos e outros grupos que podem estar passando por momentos de angústia diante do temor das consequências das políticas anunciadas.
Aqui em Nova York, participei nesta semana de uma coletiva de imprensa na qual a operadora Kathy Hochul anunciou a criação de um grupo de trabalho - a Empire State Freedom Initiative— para "desenvolver estratégias para proteger os nova-iorquinos de uma variedade de ameaças políticas e regulatórias que poderiam surgir durante o governo do presidente eleito Trump".
Ao lado da procuradora-geral do estado Letitia James, ela explicou que a meta é criar barreiras contra possíveis ameaças legais federais à liberdade reprodutiva e leis de segurança de armas. Nova York já tomou medidas para proteger o acesso a abortos seguros e legais, incluindo a aprovação de uma proposta que consagra as liberdades reprodutivas na Constituição Estadual.
Já James afirmou que está "pronta para fazer tudo o que estiver ao meu alcance para garantir que nosso estado e nação não retrocedam". "Durante seu primeiro mandato, defendemos o estado de direito e nos defendemos contra abusos de poder e esforços federais para prejudicar os nova-iorquinos. Juntamente com a Governadora Hochul, nossos parceiros nos governos estaduais e locais e meus colegas procuradores-gerais de todo o país, trabalharemos todos os dias para defender os americanos, independentemente do que esse novo governo nos impuser. Estamos prontos para revidar novamente", disse.
Além disso, o orçamento promulgado para o ano fiscal de 2025 tornou permanente o Fundo de Apoio aos Provedores de Aborto, que forneceu US$ 100 milhões em recursos estatais para apoiar os provedores de aborto em todo o estado.
O estado ainda reforçou sua participação na Aliança para a Liberdade Reprodutiva - uma coalizão de 23 governadores que trabalham juntos para defender e expandir a liberdade reprodutiva.
Outro setor de atuação será na questão climática, um dos pontos sob a ameaça no governo Trump. "Como copresidente da Aliança Climática dos EUA, a governadora Hochul trabalhará com a coalizão bipartidária de 24 governadores da Aliança - que representa cerca de 60% da economia do país - para continuar a promover um futuro de corte de emissões", diz a iniciativa.
"O Estado de Nova York e a Aliança Climática dos EUA enfrentarão quaisquer ameaças futuras à ação climática, mantendo o foco no avanço de seus principais compromissos políticos, incluindo as metas de redução das emissões líquidas coletivas de gases de efeito estufa em alinhamento com o Acordo de Paris, promovendo a implantação de energia limpa, criando bons empregos e acompanhando e relatando dados importantes sobre o progresso climático", prometem.
Nova York não é a única a agir. O governador de Nova Jersey, Phil Murphy, anunciou uma "operação de guerra" para frear as acoes de uma segunda presidência de Trump. "Se for contrário aos nossos valores, lutaremos até a morte", disse.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberJá o governador da Califórnia, Gavin Newsom, pediu que os deputados estaduais convocassem uma sessão especial para aprovar novos recursos jurídicos do estado para proteger os direitos civis, a liberdade reprodutiva, a ação climática e as famílias de imigrantes.
"As liberdades que prezamos na Califórnia estão sendo atacadas - e não ficaremos parados", disse Newsom.
Num estado em que Trump perdeu, o governador garante que a deportação em massa anunciada pelo presidente eleito terá "dificuldades" para ocorrer.
O procurador-geral da California, Rob Bonta, explicou ainda que sua equipe passou meses analisando mais de 120 ações judiciais que o estado moveu durante o primeiro mandato de Trump em preparação para novas ações federais.
Agora, a meta é se aliar a procuradores-gerais democratas pelos EUA para preparar planos de reação às políticas de Trump.
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