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Potências europeias dão ultimato a Maduro antes de reconhecer Guaidó

26/01/2019 13h44

Madri, 26 Jan 2019 (AFP) - As potências europeias deram neste sábado um ultimato de oito dias ao presidente venezuelano Nicolás Maduro para convocar eleições, pois, em caso contrário, devem reconhecer o líder parlamentar opositor Juan Guaidó como "presidente" interino, enquanto no Conselho de Segurança da ONU a Rússia acusou o governo dos Estados Unidos de "orquestrar um golpe de Estado".

Espanha, França, Alemanha e Reino Unido divulgaram uma advertência praticamente idêntica sobre sua postura a repeito da crise no país sul-americano.

"Se no prazo de oito dias não acontecer uma convocação de eleições justas, livres e transparentes na Venezuela, a Espanha reconhecerá Juan Guaidó como presidente da Venezuela", afirmou o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez.

"O governo da Espanha dá oito dias a Nicolás Maduro para convocar eleições", disse o chefe de Governo espanhol. "Se isto não acontecer, reitero, se não acontecer isto, a Espanha reconhecerá Guaidó como presidente encarregado de organizar as eleições".

"Nós não buscamos colocar ou remover governos na Venezuela. Queremos democracia e eleições livres na Venezuela", insistiu.

O ultimato foi seguido por França e Alemanha com poucos minutos de intervalo. Algumas horas depois, o Reino Unido também se uniu ao movimento de pressão.

Em seguida, a União Europeia (UE) afirmou que "tomará medidas" caso não sejam convocadas eleições "nos próximos dias", em uma declaração a chefe da diplomacia do bloco, Federica Mogherini.

Ela citou a "questão do reconhecimento da liderança no país, de acordo com o artigo 233 da Constituição venezuelana".

O presidente francês Emmanuel Macron divulgou uma mensagem em sua conta no Twitter.

"O povo venezuelano deve poder decidir livremente seu futuro. Sem eleições anunciadas dentro de oito dias, estamos prontos para reconhecer Juan Guaidó como 'presidente encarregado' da Venezuela" para implementar tal processo político", escreveu.

Na mesma rede social, a porta-voz do governo alemão, Martinha Fietz, seguiu a mesma linha: "O povo venezuelano tem que poder decidir livremente e em total segurança o seu futuro. Caso não sejam anunciadas eleições em um prazo de oito dias, estamos dispostos a reconhecer Juan Guaidó, para que inicie este processo político, como presidente interino".

Algumas horas depois, o chanceler britânico Jeremy Hunt aumentou a pressão.

"Juan Guaidó é a pessoa necessária para fazer com que a Venezuela avance", tuitou Hunt. "Se não forem anunciadas novas eleições imparciais em oito dias, o Reino Unido o reconhecerá como presidente interino para fazer com que avence o processo político em favor da democracia".

Este são os pronunciamentos mais explícitos de Estados-membros da União Europeia (UE) desde a autoproclamação, na quarta-feira passada, do líder opositor de 35 anos como presidente interino do país sul-americano.

"Segue avançando na União Europeia para o reconhecimento e apoio pleno de nossa luta legítima e constitucional", escreveu Guaidó, de 35 anos, no Twitter.

Na quarta-feira, Guaidó foi reconhecido rapidamente por Estados Unidos, Brasil, Argentina e Colômbia.

A advertência do países europeus aconteceu após dias de negociações para estabelecer uma posição comum na UE que pressionasse Maduro a convocar eleições.

Os países-membros, no entanto, não conseguiram um acordo na sexta-feira para uma declaração tão explícita.

Depois de alguns dias de silêncio e pressionado pela oposição de direita na Espanha para reconhecer Guaidó, Sánchez, que conversou por telefone na quinta-feira com o o líder opositor venezuelano, deu um passo adiante neste sábado.

"A todo momento, a Espanha liderou a posição da União Europeia favorável à democracia e à liberdade. E nós fazemos isso em coerência com o nosso relacionamento especial e com a nossa responsabilidade como membro da comunidade ibero-americana", declarou.

"Guaidó é a pessoa que encarna, em nossa visão, a máxima representação da Assembleia Nacional ao ostentar sua presidência e, em consequência, é a pessoa que deve liderar esta transição para eleições livres", afirmou Sánchez.

Na sexta-feira, durante uma entrevista coletiva, Maduro atacou o governo espanhol.

"Se eles querem eleições, que façam eleições na Espanha", disse, em referência ao fato de Sánchez não ter sido eleito nas urnas, e sim como resultado de uma moção de censura ao governo anterior.

"Não tem moral para dar lições à Venezuela nem para apresentar um ultimato", disse Maduro na véspera da advertência de Sánchez.

- Disputa no Conselho de Segurança -A Rússia acusou neste sábado na ONU o governo dos Estados Unidos de querer "orquestrar um golpe de Estado" na Venezuela, mas Washington afirmou que o presidente Nicolás Maduro lidera um "Estado mafioso ilegítimo" e pediu a união de todos países às "forças liberdade" em apoio ao opositor Juan Guaidó.

"A Venezuela não representa uma ameaça à paz e à segurança. (...) é uma tentativa de Washington de orquestrar um golpe de Estado", afirmou o embaixador da Rússia, Vassily Nebenzia, na sessão.

Mas o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, declarou, na sede das Nações Unidas, que Maduro lidera "um Estado mafioso e ilegítimo" e "que muitos venezuelanos estão morrendo de fome" devido a "um experimento socialista que provocou um colapso da economia".

"Agora é a hora de cada nação escolher de que lado estão. Sem mais atrasos, sem mais jogos. Ou está com as forças da liberdade, ou está na liga de Maduro e seu caos", afirmou Pompeo.

"Chegou a hora de apoiar o povo venezuelano, reconhecer o novo governo liderado pelo presidente interino (Juan) Guaidó e terminar com esse pesadelo. Sem desculpas", insistiu.

Pompeo também alertou Maduro sobre a proteção aos diplomatas americanos na Venezuela - cujo prazo para deixar o país estabelecido por Maduro vence amanhã.

"Deixem-me ser 100% claro: o presidente (Donald) Trumo e eu esperamos que nossos diplomatas continuem recebendo as proteções previstas pela Convenção de Viena", disse. "Não ponham à prova os Estados Unidos em sua resolução de proteger nosso povo".

Um projeto americano de declaração do Conselho de Segurança sobre Venezuela que pedia "apoio pleno" à Assembleia Nacional dirigida por Guaidó foi bloqueado nesta manhã por China e Rússia.

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