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Trump deixa Hanói com um fracasso nas negociações com Kim Jong Un

28/02/2019 23h39

Hanói, 1 Mar 2019 (AFP) - Os Estados Unidos e a Coreia do Norte ofereceram nesta quinta-feira (28) versões diferentes sobre o fim abrupto e o fracasso da cúpula em Hanói entre Donald Trump e Kim Jong Un, mas asseguraram que o diálogo não se rompeu.

O objetivo da cúpula era concretizar os resultados de sua primeira reunião histórica de junho em Singapura, mas Kim e Trump não conseguiram fechar a declaração conjunta, prevista inicialmente.

Kim e Trump "acordaram continuar com as conversas produtivas sobre a desnuclearização da península coreana e a melhora das relações entre os Estados Unidos e Coreia do Norte", destacou a agência de notícias norte-coreana KCNA, sem mencionar a ausência de resultado da cúpula de dois dias no Vietnã.

"Às vezes é preciso partir e esta é dessas vezes", declarou à imprensa um Trump incomumente pessimista ao final da reunião. "Basicamente queriam a suspensão de todas as sanções e não podíamos fazê-lo".

Em uma incomum coletiva em Hanói, o chanceler norte-coreano Ri Yong Ho assegurou que Pyongyang ofereceu "desmontar permanente e completamente todas as plantas de produção nuclear" de seu complexo de Yongbyon se Washington retirasse as sanções.

- Terceira cúpula descartada por enquanto -Apesar de tudo, Trump disse que Kim prometeu não retomar os testes de mísseis balísticos ou nucleares, mas informou que por enquanto não está prevista uma terceira cúpula com o líder norte-coreano, apesar da "cordialidade" que, segundo ele, existe entre ambos.

O presidente americano falou com os chefes de Estado japonês e sul-coreano, Shinzo Abe e Moon Jae-in, enquanto viajava de volta a Washington no avião presidencial Air Force One.

"Dou-lhes uma atualização sobre a reunião", disse a porta-voz Sarah Sanders aos jornalistas que viajam com Trump.

"Digo-lhes que o diálogo vai continuar", acrescentou, detalhando que Trump falou por 15 minutos com cada um dos mandatários.

O resultado de Hanói ficou muito longe das expectativas prévias à reunião, após uma primeira cúpula que segundo seus críticos foi formal e vaga em conteúdo.

E isso apesar disso, Kim assegurou estar disposto a eliminar as armas nucleares. "Se não estivesse, não estaria aqui", respondeu a um jornalista que lhe perguntou a respeito, no que se acredita ser a primeira vez que responde a um repórter estrangeiro.

- Indignação por causa do estudante torturado -A polêmica nos Estados Unidos se concentrou nas declarações de Trump dando por certa a versão de Kim Jong Un de que não sabia nada sobre as torturas ao estudante americano Otto Warmbier, que morreu ao voltar da Coreia do Norte em 2017.

Um juiz americano determinou em 2018 a Pyongyang pagar uma indenização de 501 milhões de dólares pela morte de Warmbier, libertado pela Coreia do Norte em coma e morto dias depois nos Estados Unidos, ao considerar que o estudante universitário provavelmente foi objeto de torturas.

"Conhecia o caso muito bem, mas soube mais tarde", disse Trump sobre Kim ao concluir sua cúpula nuclear em Hanói, acrescentando que quando Warmbier esteve detido o sucederam "algumas coisas horríveis".

Kim "me disse que não sabia nada disso, e eu acredito na sua palavra", disse o presidente, que se desenvolveu uma estreita relação com Kim no âmbito de seu diálogo sobre a desnuclearização da península coreana.

Seus comentários sobre Warmbier geraram uma onda de críticas entre os congressistas democratas, que vêm no gesto o último exemplo de um presidente de que aceita o que lhe dizem líderes autocráticos como o russo Vladimir Putin ou o príncipe saudita Mohamed bin Salman.