Os obstáculos no caminho de Guaidó para destituir Maduro na Venezuela
Caracas, 13 Abr 2019 (AFP) - Fechamento de hotéis onde se hospeda, prisão de colaboradores, confisco de equipamentos de som usados em seus atos: o governo não para de criar obstáculos para o venezuelano Juan Guaidó, que ameaça retirar o presidente Nicolás Maduro do poder.
De palcos pomposos que ocupavam avenidas principais, ele passou a discursar do alto de pequenos caminhões. "Acabaram os grandes palcos e mobilizações", comentou um colaborador de Guaidó, reconhecido como presidente interino da nação por mais de 50 países depois que o parlamento, de maioria opositora, declarou a "usurpação" do cargo de Maduro.
Para o opositor, complicou-se a logística de suas aparições públicas, paralelamente a medidas como a sua inabilitação para ocupar cargos públicos e a suspensão de sua imunidade parlamentar, que, segundo ele, buscam neutralizá-lo.
O episódio mais recente foi o lançamento da "operação liberdade", como chama uma mobilização em massa com a qual pretende chegar ao palácio presidencial de Miraflores. "Sequestraram nosso som pensando que iriam nos intimidar. Fizeram circular guardas e motos, achando que iriam nos meter medo. Isso acabou!", bradou para apoiadores.
No dia seguinte, a ONG Foro Penal confirmou a prisão do motorista de um caminhão e três técnicos, libertados pouco depois com medidas cautelares, acusados de obstrução de vias públicas, perturbação da ordem pública e associação para delinquir.
"Isso causou medo e temos tido problemas para conseguir ajuda. Guaidó tenta evitar que se ponha em risco a segurança de seus colaboradores", assinalou a fonte, que solicitou anonimato.
Fatos semelhantes obrigaram sua equipe a mudar os planos envolvendo a marcha, e a improvisar soluções. Agora é comum, por exemplo, ver Guaidó discursar com um megafone. Em certas ocasiões, foram chavistas que o atrapalharam, com vaias ou bloqueando a sua presença em bairros populares, como Petare e El Valle, em Caracas.
O órgão tributário venezuelano, Seniat, fechou um hotel conhecido de Caracas em que Guaidó de hospedou a partir de 7 de março, quando um apagão em massa paralisou o país. No local, o opositor realizava reuniões e organizava a sua agenda. Os hóspedes foram removidos por causa da sanção, que levou ao fechamento do hotel por 27 dias.
O número dois do governismo e presidente da Assembleia Constituinte, Diosdado Cabello, negou que a medida estivesse relacionada à presença de Guaidó. "Ele foi fechado porque não tinha livros de contabilidade, RIF (registro fiscal), nem nada parecido. O Seniat chegou como entra em qualquer hotel. O fechamento se deu porque não tem documentação de nenhuma natureza", justificou Cabello.
Ao inabilitar Guaidó por não declarar seu patrimônio, nem a origem do seu dinheiro, o controlador geral da Venezuela havia ordenado a fiscalização das contas de todos os hotéis do país onde o opositor havia se hospedado.
A sombra da prisão paira sobre Guaidó, um engenheiro de 35 anos, desde que a Constituinte autorizou o Superior Tribunal de Justiça, acusado de servir a Maduro, a julgá-lo por "usurpar" funções presidenciais.
A prisão de Guaidó poderia desencadear uma reação dura dos Estados Unidos, país que é seu aliado mais fervoroso, ou uma resposta popular imprevisível.
Cabello insiste em que se deve dar tempo à Justiça para fazer seu trabalho contra o chefe do parlamento. "Às vezes a lei demora, mas, neste caso, irá chegar. Não nos desesperemos, aos poucos se chega longe", assinalou.
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