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Escândalo derruba coalizão de conservadores e extrema direita na Áustria

16.dez.2017 - Heinz-Christian Strache é do Partido da Liberdade da Áustria, de extrema-direita - Ronald Zak/ AP
16.dez.2017 - Heinz-Christian Strache é do Partido da Liberdade da Áustria, de extrema-direita Imagem: Ronald Zak/ AP

20/05/2019 15h45

A coalizão governamental de conservadores e extrema-direita chegou a seu fim nesta segunda-feira (21) na Áustria, com a saída de todos os ministros do partido FPÖ, em função do vídeo em que seu líder, Heinz-Christian Strache, aparece negociando contratos públicos com uma pessoa da Rússia em troca de apoio financeiro.

Os ministros do Partido da Liberdade Austríaca (FPÖ) que ainda estavam no cargo renunciaram nesta segunda depois que o ministro do Interior, Herbert Kickl, foi deposto pelo chanceler conservador Sebastian Kurz.

Esta decisão, adotada antes das eleições legislativas marcadas para setembro, está em consonância com o anúncio feito pelo ministro dos Transportes, Norbert Hofer, novo chefe do partido FPÖ, disse um porta-voz desta formação à agência austríaca APA.

Depois do escândalo conhecido como "Ibizagate", que durante o fim de semana causou a queda do número dois do governo e líder da extrema direita, Heinz-Christian Strache, houve uma nova crise em torno de Kickl, cérebro do FPÖ e polêmico líder político.

O primeiro-ministro Kurz considerou a permanência de Kickl incompatível com o desenvolvimento da investigação sobre o vídeo feito secretamente em uma mansão em Ibiza em 2017, o que deixava Strache em uma situação muito ruim.

"Está claro que Kickl não pode investigar a si mesmo", afirmou o chanceler.

Durante os 18 meses em que durou a coalizão no poder, o ministro do Interior esteve no centro de muitas polêmicas.

Quando assumiu o cargo, provocou um escândalo em nível nacional ao ordenar que se revistasse a sede dos Serviços de Segurança Interna (BVT), onde foram apreendidos inúmeros documentos confidenciais.

O FPÖ tinha cinco pastas, as do Interior, Relações Exteriores, Defesa, Transportes, Infraestruturas e Trabalho e Saúde.

Lição a aprender

Nesta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores, Kurz, pediu a todos os partidos da oposição, incluindo a extrema direita, que "garantam a estabilidade" do país, abalados pelo colapso da coalizão. Esta crise levou à convocação de eleições antecipadas.

A direita conservadora de Kurz e a direita nacionalista, de tendência eurofóbica, incorporada pelo FPÖ, aliado desde 2017, mantêm uma linha dura em termos de imigração.

Os líderes de ambos os partidos apresentaram o seu acordo como um modelo em toda a União Europeia (UE), em que as formações nacionalistas multiplicaram seu sucesso eleitoral nos últimos anos, e esperavam se fortalecer no Parlamento Europeu após as eleições que terão lugar entre 23 e 26 de maio.

Mas com a crise política provocada pelo "Ibizagate", os líderes políticos europeus pediram que não se vote na extrema direita nessas eleições, consideradas fundamentais para o futuro da Europa.

O chefe dos conservadores europeus, o alemão Manfred Weber, insistiu que se deve aprender "claramente a lição: não devemos dar a estes radicais a menor influência na nossa Europa".

A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu para que os eleitores resistam aos "políticos que estão à venda", em uma referência indireta ao escândalo austríaco.

Ibizagate

O "Ibizagate" veio à tona quando a revista alemã "Der Spiegel" e o jornal "Suddeutsche Zeitung" publicaram na sexta-feira em seus sites trechos de uma gravação com câmera oculta de uma reunião que teria acontecido meses antes das eleições parlamentares de 2017 na Áustria.

Foi quando o FPÖ chegou ao poder.

Nas imagens, aparecem o vice-chanceler Strache e Johann Gudenus, líder da bancada parlamentar do FPÖ, conversando com uma mulher que diz ser sobrinha de um oligarca russo.

Os três falam sobre como investir dinheiro na Áustria, especificamente para controlar o jornal de maior tiragem do país, o "Krone Zeitung".

A conversa envolve, principalmente, a participação acionária no poderoso jornal austríaco.

Strache sugere que, sob uma nova direção, o Krone poderia ajudar o FPÖ em sua campanha eleitoral. Também diz à mulher que seu grupo poderá ter acesso a contratos públicos.

Strache afirma que não haverá resistência na redação do "Kronen Zeitung", porque "os jornalistas são os maiores prostituídos do planeta".