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Steve Bannon, ex-assessor de Trump, promove a cultura ocidental na Itália

22/05/2019 09h06

Trisulti, Italia, 22 Mai 2019 (AFP) - Em um antigo mosteiro italiano construído em 1204, o ex-assessor de Donald Trump, Steve Bannon, ideólogo da extrema direita, promove a criação de uma "escola de gladiadores" para defender a cultura judaico-cristã ocidental.

No entanto, o silêncio que reina entre os muros seculares do lugar testemunha a limitada repercussão que o estrategista americano encontra no Velho Continente.

O templo cartujo de de Trisulti, no sopé dos Abruzzos, a 100 km de Roma, foi convertido em mosteiro em 1947, mas foi posteriormente abandonado por falta de vocações.

No ano passado, o ministério da Cultura italiano concedeu sua utilização, por 19 anos e mediante a quantia de 100.000 euros anuais, ao Instituto Católico Dignitatis Humanae (DHI), um centro de estudos dirigido pelo ultraconservador britânico Benjamin Harnwell, ligado a Bannon.

Nos claustros austeros do mosteiro, Harnwell pretende formar os futuros líderes soberanistas, convertendo-os em verdadeiros "guerreiros culturais" para que lutem contra o secularismo, o jihadismo, a imigração ilegal e a exploração do povo por parte de poderosa elite.

Trata-se de uma espécie de retiro espiritual para "tirar do homem tudo que não é importante, e que se possa realmente trabalhar com tudo que é bom", explicou.

Steve Bannon prometeu doar um milhão de dólares para financiar o projeto, mas, por ora, parece ser o único que realmente está disposto a isso.

O ideólogo americano encontrou um terreno fértil na Itália desde que, em junho de 2018, assumiu o governo de coalizão entre a Liga, de extrema direita, e a formação antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E).

Para Bannon, se essa experiência der certo, a política poderá "mudar em nível global".

- O sonho de Steve -"O sonho de Steve é misturar uma espécie de populismo de esquerda com uma espécie de nacionalismo de direita e criar uma entidade coesa, e a aliança Liga-M5E é o melhor exemplo disso em nível mundial", diz Harnwell.

Por enquanto, essa aliança favoreceu a Liga de Matteo Salvini, que passou de 17% dos votos obtidos nas eleições parlamentares de março de 2018 para 32%, segundo pesquisas divulgadas para as eleições europeias de 26 de maio.

A Liga ficaria com seis a 26 eurodeputados. É por isso que Salvini propôs no início de abril uma aliança de partidos soberanos de direita para se tornar a maior força do Parlamento Europeu.

A francesa Marine Le Pen, o húngaro Viktor Orban e o holandês Geerts Wilders fariam parte dessa aliança.

Uma federação de partidos nacionalistas europeus é também o grande projeto de Steve Bannon.

Depois de deixar a Casa Branca, ele fundou "O Movimento" em Bruxelas, uma espécie de Internacional da nova direita mundial.

Mas, com exceção de Salvini, a ideia de Bannon não atrai tanto os ultraconservadores europeus.

O euroceticismo e uma mão forte contra os imigrantes não são suficientes para superar as diferenças profundas que existem entre eles.

- Disputas entre a Liga e o M5E -A campanha eleitoral de Salvini foi marcada nas últimas semanas por acusações de corrupção contra um secretário de Estado da Liga, que gerou um duro confronto com o M5E, que pede sua renúncia.

Essas divergências também podem afetar o projeto Bannon.

No entanto, Harnwell espera receber um grupo de estudantes este ano para um treinamento de três semanas a um custo de 1.000 euros por pessoa. O objetivo é atingir 250 alunos.

Enquanto mostra as instalações e depois de se ajoelhar inúmeras vezes diante de imagens religiosas e afrescos da capela barroca, Bannon afirma que mil estudantes interessados entraram em contato com ele.

Mas apenas 20% são da Europa. A maioria é anglo-saxônica: britânica, americana, canadense e australiana.

Mas primeiro é preciso reformar os telhados e encanamentos do mosteiro instalar banheiros e internet, admite o estrategista americano.

Como é um monumento antigo, superar a burocracia italiana e suas diretrizes será um desafio.

O Ministério da Cultura, atualmente liderado pelo M5E, também pode vir questionar a concessão.

Uma possibilidade que não foi descartada pela entidade, que antecipou para a AFP que abrirá uma investigação sobre o assunto.

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