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Governador de Porto Rico enfrenta maior protesto contra sua gestão

22/07/2019 18h55

San Juan, 22 Jul 2019 (AFP) - Centenas de milhares de pessoas marcharam nesta segunda-feira (22) para pedir a renúncia do governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló, no décimo dia de protestos incentivados por artistas como Ricky Martin, Bad Bunny e Residente, em função do escândalo chamado "chatgate".

Os manifestantes ocuparam desde a manhã a via expressa Las Américas - principal avenida de San Juan -, na maior manifestação contra Rosselló desde que começaram os protestos há dez dias, alguns dos quais terminaram em confrontos com a Polícia.

Sob um forte calor, os manifestantes agitavam as bandeiras porto-riquenhas e cantavam palavras de ordem como "Ricky não está aqui, Ricky está vendendo o que resta do país".

"Eu não entendo como o governador não escuta o clamor do povo, é uma falta de maturidade, de caráter moral. A mensagem é clara!", disse à AFP Melissa Mark Viverito, uma política democrata que viajou de Nova York para participar.

Rosselló disse que não vai renunciar, mas cedeu parcialmente no domingo ao anunciar que não vai mais tentar a reeleição em novembro de 2020 e que aceita um julgamento político.

"Eu os tenho escutado e os escuto hoje (...) Cometi erros e me desculpei", disse o governador deste território americano no Caribe, que defende a anexação da ilha como 51º estado.

Mas isso não foi suficiente para os manifestantes, descontentes desde o vazamento, há duas semanas, um chat no Telegram, no qual Rosselló e 11 homens de seu entorno trocaram comentários debochados sobre as vítimas do furacão Maria.

"Não é suficiente. Deve entregar o poder a novos líderes", afirmou Isham Rodríguez, de 36 anos, batendo em uma panela durante a passeata.

O presidente americano, Donald Trump, aproveitou a oportunidade de criticar o governador, com quem já tinha se confrontado verbalmente porque questionava a gestão dos recursos federais disponibilizados por Washington para a recuperação do furacão.

"Eu sou o melhor que ocorreu a Porto Rico porque fizemos um grande trabalho", disse Trump na Casa Branca. "É um governador terrível".

- Artistas porto-riquenhos presentes -Os artistas porto-riquenhos que lideram o movimento - os cantores Ricky Martin, Benito Martínez (Bad Bunny) e René Pérez (Residente) - chegaram à marcha em um caminhão de carga.

Também compareceram os cantores Olga Tañón, Kany García e Tommy Torres, entre outros. Martin agitava uma bandeira do movimento do orgulho gay.

O cantor de "Livin' la vida loca" é uma das personalidades ridicularizadas no chat por sua orientação sexual, que tornou pública em 2010.

"O povo te pede, você brincou com os sentimentos, brincou com a saúde mental do povo", disse o artista na plataforma do caminhão, dirigindo-se a Rosselló debaixo da chuva forte que surpreendeu os manifestantes depois de uma manhã quente.

Residente, ex-integrante do grupo Calle 13, acrescentou que a mensagem de Rosselló era "uma falta de respeito com o povo de Porto Rico".

"Continuamos amanhã e vamos continuar até que saia, porque o Porto Rico se respeita, porra!", prometeu Residente à multidão.

O cantor Bad Bunny, que faz turnê na Europa, decidiu dar um tempo à sua carreira e chegou nesta segunda-feira a San Juan. "Você não vai sair? Nós tampouco! Porto Rico se respeita! Charlatão!", escreveu no Twitter.

Também aderiram ao movimento o dramaturgo Lin-Manuel Miranda, a modelo Zuleyka Rivera (protagonista do vídeo "Despacito"), o ator Benicio del Toro e os músicos Marc Anthony, Gilberto Santa Rosa, La India, Daddy Yankee e Luis Fonsi.

- "Que puxem seus pés" -No sábado, 13 de julho, o Centro de Jornalismo Investigativo publicou na íntegra um chat no Telegram no qual Rosselló e outros 11 homens de seu entorno próximo trocaram mensagens consideradas ofensivas, homofóbicas e misóginas por seus críticos.

Em uma delas, um dos colaboradores de Rosselló debochava de Ricky Martin por sua homossexualidade.

Em outro, faz um comentário irônico sobre os corpos que se amontoavam no necrotério após a passagem do furacão Maria, que deixou quase três mil mortos, segundo o balanço oficial, e mais de 4.600, segundo um estudo independente da Universidade de Harvard.

A isso se soma que, em 10 de julho a procuradoria determinou a detenção de seis funcionários públicos, acusados de desviar 15 milhões de dólares de recursos federais para a recuperação após o pior furacão em um século, que deixou boa parte da população da ilha sem luz por quase um ano.

Uma manifestante exibia nesta segunda-feira um cartaz que dizia "Tomara que os nossos 4.645 mortos puxem seus pés #RickyRenuncia".

Antes do furacão, Porto Rico já padecia de uma grave crise fiscal, que precipitou sua bancarrota em maio de 2017.

Os cortes orçamentários - entre eles o questionado fechamento de escolas - já tinham provocado o êxodo de porto-riquenhos rumo ao território continental americano. Somando a diáspora provocada pelo furacão Maria, Porto Rico perdeu 4% da população, hoje de 3,2 milhões de habitantes.