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Morto em atentado, Abu Mehdi Al Muhandis era o homem do Irã em Bagdá

Chefe paramilitar iraquiano Abu Mehdi Al Muhandis, que também foi morto durante um atentado comandado pelos EUA no aeroporto de Bagdá, no Iraque - HAIDAR MOHAMMED ALI/AFP
Chefe paramilitar iraquiano Abu Mehdi Al Muhandis, que também foi morto durante um atentado comandado pelos EUA no aeroporto de Bagdá, no Iraque Imagem: HAIDAR MOHAMMED ALI/AFP

03/01/2020 07h56

O chefe paramilitar iraquiano Abu Mehdi Al Muhandis, que morreu nesta sexta-feira em um ataque americano em Bagdá, era o homem do Irã no Iraque e o inimigo número um dos Estados Unidos naquele país há décadas.

Em plena madrugada, ele morreu com seu amigo, o poderoso general iraniano Qasem Soleimani, responsável pelas questões iraquianas dentro da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do Irã.

Jamal Jaafar Ibrahimi, seu nome verdadeiro, era o número dois da Hashd Al Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-iraniana que faz parte do aparato estatal iraquiano.

Era conhecido pelo nome de Al Muhandis (engenheiro em árabe).

A última vez que foi visto em público foi na terça-feira passada, no funeral de 25 combatentes pró-iranianos que morreram em um ataque aéreo americano.

Então o cortejo seguiu para a embaixada americana em Bagdá, que foi vandalizada.

Abu Mehdi Al Muhandis era conhecido por suas violentas críticas aos Estados Unidos muito antes da invasão de 2003 e subsequente ocupação do Iraque pelos americanos.

"É o exemplo perfeito de como o Irã criou uma rede de tenentes no Iraque", disse à AFP Phillip Smyth, especialista em grupos xiitas armados.

"Está relacionado às principais redes do Irã no Iraque. Não há equivalente, personifica perfeitamente" essas relações, explicou o especialista.

"Inimigo empedernido"

O homem, de barba branca, costumava aparecer em público em uniforme militar. Nasceu em 1953 em Basra, imensa cidade rica em petróleo do sul do Iraque, na fronteira com o Irã.

Nos anos 1980, Al Muhandis, que tem dupla nacionalidade iraquiana e iraniana e fala farsi, lutou contra o ditador Sadam Hussein a partir do outro lado da fronteira.

Era na época um alto comandante das brigadas Badr, unidades de combate iraquianas formadas no Irã para combates na guerra contra o Iraque (1980-1988).

Foi acusado de envolvimento nos atentados de 1983 no Kuwait contra as embaixadas da França e dos Estados Unidos, chegando a ser condenado à morte por essas explosões.

Em 2005 foi deputado no Parlamento do Iraque no âmbito do novo sistema imposto pelos Estados Unidos após a morte de Saddam Hussein.

Logo contribuiu para a criação no Iraque das brigadas Kataeb Hezbollah, uma facção da Hashd al Shaabi que Washington considera responsável por uma série de ataque recentes com foguetes contra interesses americanos no Iraque.

Os Estados Unidos acusaram o comandante iraquiano de manter redes de tráfico de armas e de ter participado em atentados contra embaixadas ocidentais e tentativas de assassinatos na região.

Segundo o especialista Michael Knights, é "o inimigo mais empedernido dos Estados Unidos", muito mais que o resto das demais facções pró-iranianas no Iraque.

Apesar de ser oficialmente o número dois, atuava como chefe de operação da coalizão e "trabalhou assiduamente para converter a Hashd Al Shaabi em uma organização que nunca esteve totalmente controlada pelo primeiro-ministro ou sob a liderança das forças regulares", segundo o especialista.

Al Muhandis podia contar com a lealdade dos combatentes da Hashd, bem como importantes recursos provenientes principalmente do trafico no Iraque após a queda do grupo terrorista Estado Islâmico (EI).

Segundo Knigths, Abu Mehdi Al Muhandis era "o sistema nervoso central" da Guarda Revolucionária.

Mas também era um homem discreto. Rompeu o silêncio há poucos meses para acusar os Estados Unidos e Israel de serem responsáveis de ataques aéreos contra várias bases da Hashd.