Plano de paz dos EUA para o Oriente Médio recebe críticas palestinas
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou ontem seu plano de paz para o Oriente Médio com base em uma solução de "dois Estados", no qual ele atribui a Israel uma série de garantias, que provocaram duras críticas palestinas.
"Minha visão apresenta (...) uma solução realista de dois Estados", disse Trump, dando garantias sem precedentes ao seu "amigo", o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que disse que este era "um dia histórico".
Otimista, o presidente americano avaliou que sua iniciativa permitiria dar "um grande passo rumo à paz".
Mas o movimento Hamas, o primeiro a reagir no campo palestino, o repudiou de imediato.
"Não passará", disse o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, após reunião em Ramallah entre as facções palestinas, incluindo o Hamas. Abbas já havia considerado a proposta "morta" antes de conhecê-la.
Pelo menos treze palestinos ficaram feridos em confrontos com as forças israelenses durante os protestos na Cisjordânia contra o plano de paz de Trump.
Trump enfatizou sua convicção de que os palestinos merecem "uma vida melhor", mas dirigiu a eles uma advertência.
Disse que havia enviado uma carta ao presidente Mahmud Abbas, exortando-o a aproveitar "uma oportunidade histórica", talvez "a última", para conseguir um Estado independente.
"Expliquei-lhe que o território atribuído ao seu novo Estado permanecerá aberto e sem desenvolver (com colônias israelenses) por um período de quatro anos", disse.
Fronteiras
O futuro Estado palestino só verá a luz do dia sob várias "condições", incluindo "um claro repúdio ao terrorismo", destacou Trump ao explicar seu plano "muito detalhado" de 80 páginas.
A Casa Branca informou que o plano propõe um Estado palestino "desmilitarizado".
Publicou, ainda, um mapa com as futuras fronteiras que contém 15 assentamentos israelenses, ligados à área da Faixa de Gaza por um único túnel. Isto tecnicamente cumpriria com a promessa de Trump de um Estado palestino contíguo.
Jerusalém continuaria sendo "a capital indivisível de Israel", afirmou, embora também tenha proposto criar uma capital do Estado palestino em Jerusalém oriental, sem explicar como as duas coisas serão conciliadas.
Os palestinos querem fazer de Jerusalém oriental, parte da cidade ocupada desde 1967 por Israel e em seguida anexada, a capital do futuro Estado a que aspiram.
Após tomar conhecimento do projeto, a ONU anunciou sua adesão às resoluções que já adotou e aos acordos bilaterais sobre a criação de dois estados, Israel e Palestina ", que convivam em paz e segurança dentro das fronteiras reconhecidas, com base nas linhas definidas. em 1967 ".
O primeiro-ministro israelense, por sua vez, enfatizou que o plano da Casa Branca daria a Israel soberania sobre o Vale do Jordão, uma vasta área estratégica da Cisjordânia ocupada, onde o exército israelense acaba de fortalecer sua presença.
De fato, ele pedirá no domingo aos ministros no que aprovem a anexação de partes da Cisjordânia ocupada, disseram autoridades israelenses à AFP.
A União Europeia (UE) reafirmou sua disposição de trabalhar por uma solução de dois estados e disse que a iniciativa dos americanos "oferece a oportunidade de relançar os esforços urgentemente necessários para alcançar uma solução negociada e viável para o conflito israelense-palestino", declarou a chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Já a Rússia pediu a israelenses e palestinos a iniciar "negociações diretas".
Os Emirados Árabes Unidos, enquanto isso, chamaram o plano de "um importante ponto de partida", enquanto o Irã o considerou "a traição do século".
"Apoio inquebrantável" saudita
O rei Salman, da Arábia Saudita, afirmou seu apoio "inquebrantável" aos direitos dos palestinos durante uma entrevista por telefone com o presidente palestino, Mahmud Abbas, informou nesta quarta a agência pública saudita (SPA).
O rei está do lado dos palestinos e apoia "suas escolhas e o que representa suas esperanças e aspirações", destacou a SPA.
Mais cedo, o ministério saudita das Relações Exteriores informou que a Arábia Saudita apreciava os esforços dos Estados Unidos para consolidar um plano de paz no Oriente Médio, e pediu negociações diretas entre israelenses e palestinos.
Qualquer desavença com o plano americano deve ser resolvida mediante a negociação "para avançar no processo de paz com vistas a lançar um acordo que reconheça os direitos legítimos do povo palestino", destacou o ministério em um comunicado.
"O reino aprecia os esforços da administração do presidente Trump para trabalhar por um plano de paz completo entre as partes palestina e israelense", escreveu o ministério em um comunicado publicado pela imprensa pública.
Boicote palestino
Trump, um bilionário do setor imobiliário de Nova York que se vangloria de ser um negociador incomum, confiou há três anos ao seu genro e assessor, Jared Kushner, um novato na política, a tarefa espinhosa de elaborar uma proposta que provavelmente levaria ao "acordo final" de paz entre israelenses e palestinos.
Mas o plano nasceu "morto" para os palestinos e Abbas recusou nos últimos meses as ofertas de diálogo de Trump.
O primeiro-ministro palestino, Mohammed Shtayyeh, exortou nesta segunda as potências internacionais a boicotarem o plano que, segundo ele, foi projetado "para proteger Trump do impeachment e Netanyahu da prisão".
Trump enfrenta um julgamento político no Senado e Netanyahu luta contra um escândalo de corrupção crescente.
Faltando pouco mais de um mês para novas eleições em Israel, que se antecipam muito disputadas, Trump também recebeu na segunda-feira o principal adversário de Netanyahu, Benny Gantz.
- "Acordo do século" -Mas foi com "Bibi" que Trump escolheu aparecer diante das câmeras, e o primeiro-ministro de Israel, que viajará a Moscou na quarta-feira para informar o presidente russo, Vladimir Putin, sobre os detalhes do plano, não escondeu seu entusiasmo.
"Senhor presidente, seu acordo do século é a oportunidade do século", disse Netanyahu na Casa Branca.
Saeb Erekat, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), havia dito no domingo que se reservava o direito de se retirar dos acordos de Oslo, que enquadram suas relações com Israel.
Segundo o acordo provisório de Oslo II, de setembro de 1995, entre a OLP e Israel, a Cisjordânia tinha sido dividida em três zonas: A, sob controle civil e de segurança palestino; B, sob controle de segurança civil palestino e israelense, e C, sob controle civil e de segurança israelense. No entanto, o plano de Donald Trump "transformará a ocupação temporária em ocupação permanente", disse Saeb Erekat.
O projeto americano também foi recusado pelo Ha, movimento islamita controla a Faixa de Gaza, um enclave palestino de dois milhões de habitantes, separados geograficamente da Cisjordânia, onde a autoridade do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, é limitada.
O plano americano "não será aprovado" e inclusive poderá levar os palestinos a uma "nova etapa" de sua luta, advertiu Ismail Haniyeh, líder do Hamas.
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