Trump diz que número de infectados na China por covid-19 é 'muito maior'
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira (17) que o número real de casos do novo coronavírus na China é "muito maior" do que o relatado, mesmo depois de a cidade de Wuhan, onde a pandemia surgiu, revisar seu balanço de diagnósticos positivos.
Críticas internacionais crescem contra a maneira como o governo chinês gerenciou a crise do novo coronavírus, que matou mais de 150.000 pessoas em todo o mundo e já afeta a economia global desde que apareceu em Wuhan, capital da província chinesa de Hubei em dezembro do ano passado.
Mais da metade da humanidade está confinada em suas casas, enquanto os governos tentam conter a propagação do vírus mortal.
Os líderes mundiais estão tentando descobrir quando - e como - relaxam as medidas de contenção para reativar a economia devastada.
Trump está ansioso para liberar a retomada da atividade econômica, enquanto outros países europeus também afetados pelo vírus estão lentamente se movendo em direção à normalidade, com a reabertura de algumas lojas e escolas.
China nega acusações
O presidente americano anunciou nesta semana uma "reabertura" por etapas dos Estados Unidos, mas na sexta-feira ele voltou à questão do número de mortos na China, depois que a cidade de Wuhan adicionou 1.290 mortes ao total de falecimentos pelo novo coronavírus.
Com esses novos dados, que correspondem apenas a Wuhan, o balanço total de óbitos - devido a "atrasos" e "omissões" nos registros - passou a 4.632 neste país de quase 1,4 bilhão de habitantes.
"A China acaba de anunciar uma duplicação no número de mortes pelo Inimigo Invisível. É muito maior que isso e muito maior que o dos Estados Unidos, nem chega perto!", escreveu no Twitter o presidente americano.
Atualmente, os Estados Unidos são o país com mais mortes relatadas pelo vírus, com 36.773 óbitos, sendo 3.856 informados nas últimas 24 horas, segundo a Universidade John Hopkins.
Líderes na França e no Reino Unido também criticaram a forma como a China lidou com a crise, e o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que seria "ingênuo" pensar que Pequim lidou bem com a pandemia.
Até agora, acredita-se que o coronavírus tenha aparecido em um mercado popular em Wuhan, onde certas espécies de animais exóticos são vendidas para consumo humano.
O novo coronavírus teria origem animal, semelhante a um patógeno presente em morcegos, e teria se espalhado para o homem e sofrido mutação.
Mas a imprensa americana abriu uma nova hipótese. Segundo o The Washington Post, a embaixada dos Estados Unidos em Pequim alertou há dois anos sobre medidas de segurança ruins em um laboratório que estuda coronavírus de morcego.
Pequim, sob críticas internas e externas por supostamente ter subestimado a situação e favorecido a disseminação do vírus, respondeu nesta sexta-feira às acusações.
"Nunca ocultamos nada e nunca autorizamos ocultação", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian.
Baque econômico
Desde dezembro, o novo coronavírus infectou mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo e deixou dezenas de milhões de desempregados, 22 milhões nos Estados Unidos.
Nesta sexta-feira a China anunciou que seu PIB caiu 6,8% no ritmo anual no primeiro trimestre do ano.
O gigante asiático não experimenta uma contração no seu PIB anual desde 1976.
Nos Estados Unidos, a economia passará por um processo semelhante. Para evitar isso, Trump estimou na quinta-feira que os estados menos afetados podem retomar suas atividades econômicas mesmo antes da data mencionada em 1º de maio.
Este anúncio provocou euforia nos mercados asiáticos e europeus nesta sexta-feira.
No Japão, cada morador receberá 850 euros (930 dólares) como medida para conter o colapso da terceira maior economia do mundo, anunciou o primeiro-ministro, Shinzo Abe.
A Europa, onde o mercado de automóveis despencou 55,1% em março, está dividida entre as demandas de saúde e a necessidade de minimizar seu custo financeiro.
Países como Espanha e Itália começam a suspender as restrições de circulação e decidem quais medidas de segurança aplicar para evitar um novo surto fatal.
A Alemanha, principal economia da Europa, por sua vez, divulgou que a epidemia está "sob controle e gerenciável".
Segundo dados oficiais, a taxa de infecção pessoa a pessoa caiu para 0,7%, o que abre as portas para relaxar o confinamento.
O país abrirá lojas de menos de 800 metros quadrados na segunda-feira e algumas escolas começarão as aulas em 4 de maio.
A suspensão do confinamento também está em andamento na Dinamarca, que reabriu suas escolas na quarta-feira; na Áustria, que deseja abrir algumas lojas não essenciais; ou na Suíça, que anunciou uma saída "lenta" e "progressiva" a partir de 27 de abril - um movimento que a Organização Mundial da Saúde "observa com cautela".
Especialistas alertam que a margem é muito estreita. "Não passaremos de preto para branco, mas de preto para cinza escuro", disse o médico francês Jean-François Delfraissy, principal consultor do governo.
Depois de controlar inicialmente a epidemia, Cingapura agora está registrando uma segunda onda de infecções, desta vez forçando o governo a tomar medidas mais severas, como fechar a maioria dos locais de trabalho.
"Provavelmente, por um longo período, é preciso liberar um pouco, limitar novamente, liberar, limitar", explicou Delfraissy.
Para o fim gradual do confinamento, testes diagnósticos maciços serão essenciais.
Mas, além da China, outros países como a Espanha ainda não aperfeiçoaram seu sistema de contagem: Madri corrigiu seu número de mortes devido a discrepâncias regionais, divulgando um total de 19.478 vítimas fatais.
Nesta sexta, o Reino Unido registrou 847 novas mortes, com 14.576 no total e 108.692 infecções. O governo prolongou o confinamento na quinta-feira "por pelo menos três semanas".
Na Rússia, 32.008 casos foram registrados até o momento, e o presidente Vladimir Putin alertou que o país está correndo "riscos muito altos".
O governo russo decidiu autorizar o tratamento com hidroxicloroquina, cuja eficácia é objeto de debate mundial.
Década perdida na América Latina
Na América Latina, a pandemia causou mais de 4.000 mortes e 85.000 infecções.
A situação é especialmente grave no Brasil, onde são registradas 2.141 mortes e mais de 33.000 infecções, embora o número real de infecções possa ser 15 vezes maior, segundo os pesquisadores.
O presidente Jair Bolsonaro demitiu na quinta-feira o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defensor das medidas de isolamento social.
No Equador, outro dos mais afetados da região, com 8.450 infectados e mais de 400 mortes, o Presidente Lenín Moreno reconheceu que seu país não estava preparado para essa emergência.
As previsões sobre o impacto do coronavírus na economia da América Latina não são otimistas.
A pandemia pode desencadear outra "década perdida", entre 2015 e 2025, alertou quinta-feira Alejandro Werner, diretor do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na África, enquanto isso, a pandemia chegou à marca dos mil mortos por coronavírus, três quartos dos quais em Argélia, Egito, Marrocos e África do Sul, segundo um balanço da AFP.
Nesta sexta-feira, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, alertou que a pandemia poderia apagar o progresso feito nos últimos anos por países pobres, muitos deles na América Latina, África e Ásia.
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