Topo

Esse conteúdo é antigo

Manifestantes explicam por que protestam pela morte de George Floyd

Pessoas participam de um protesto contra a morte de George Floyd em frente ao Trump International Hotel  - EDUARDO MUNOZ/REUTERS
Pessoas participam de um protesto contra a morte de George Floyd em frente ao Trump International Hotel Imagem: EDUARDO MUNOZ/REUTERS

03/06/2020 13h15

Há uma semana, os Estados Unidos são abalados por protestos, após a morte de George Floyd, um homem negro, nas mãos de um policial branco em Minneapolis.

Dezenas de milhares de pessoas de todos os grupos étnicos e demográficos foram às ruas em todo país para exigir o fim da brutalidade policial.

Aqui, alguns deles explicam com suas próprias palavras por que estão protestando e o que esperam alcançar nos maiores protestos civis nos Estados Unidos em muitos anos.

Estudante de joelhos

Kayla Junaye Johnson é uma estudante de direito penal de 21 anos na Universidade Grambling State, de Louisiana.

Ela se sentiu "enjoada" quando viu o vídeo da morte de Floyd, depois que o policial Derek Chauvin pressionou seu pescoço com o joelho por quase nove minutos, e se juntou aos protestos em Minneapolis.

"Vimos um assassinato ao vivo, não há retorno. É perturbador. É horrível, e todos os agentes [envolvidos] devem ser indiciados com as mais altas acusações", disse.

"No primeiro protesto, cheguei de joelhos até a frente, gritando 'Mãos para o alto, não atirem'. Eu pulei e desviei de pelo menos duas bombas de efeito moral. Foi assustador", contou.

"Quando não vi uma dessas bombas chegar, ela me atingiu no braço. Acabei com uma queimadura de segundo grau do Departamento de Polícia de Minneapolis".

"Pessoalmente, não me sinto à vontade com os policiais. Detesto dizer isso, mas eles têm tanto poder no mundo agora que é assustador, tudo pode acontecer".

"Nunca esperei que isso acontecesse esta semana, mas não estou surpresa. Ser negro nos Estados Unidos causa isso. É assim que isso nos afeta. É triste, mas é assim".

A mãe que educa os filhos

Michelle Evans, uma mulher branca de 40 anos que trabalha com marketing, levou seus filhos de dois e quatro anos ao local da morte de Floyd e os abraçou no meio de um mar de flores.

Temendo que os protestos, que se tornaram violentos, fossem "muito perigosos", expressou sua solidariedade e raiva no local que se tornou um memorial a Floyd.

"Meus filhos, apenas porque são quem são, precisam saber que têm privilégios e que precisam fazer parte da solução quando crescerem", disse ela à AFP.

Chorando, denunciou o racismo "estrutural" nos Estados Unidos.

"Foi assim que nosso país foi fundado e precisa ser destruído e reconstruído de maneira a trazer igualdade e inclusão para todos".

- O músico que não será silenciado -Tyqaun White, um estudante de música de 20 anos do Brooklyn, manifestou-se nas ruas de Nova York.

"Chegamos a um ponto em que os negros pedem para não serem mortos. É ridículo (...) Isso tem que parar", disse ele.

"Estamos nos tempos modernos, mas temos uma mentalidade enraizada na escravidão", acrescentou.

"Estamos com raiva. As pessoas aqui estão morrendo e vivendo na pobreza todos os dias. E querem nos matar e depois nos dizem para ficarmos quietos? Não! Temos que sair", explicou.

"Entendo por que as pessoas podem quebrar o toque de recolher e protestar da maneira que querem protestar".

Procuram "nos domar e nos controlar, porque somos propriedade deles". Somos "tratados como animais, é assim que as pessoas negras são tratadas há anos e anos".

"Acredito que esse protesto continuará para o resto da minha vida (...) Precisamos protestar para sempre, até que este sistema seja totalmente revertido, alterado e construído com base na igualdade e na liberdade. Continuarei lutando o quanto for necessário".

Privilegiados nos subúrbios

Jeff Austin, antropólogo cultural de 62 anos, e sua filha Lily Henry-Austin, de 17, protestaram em Bethesda, um rico subúrbio de Washington, D.C.

Grandes protestos são raros neste bairro predominantemente branco, um dos mais ricos do país e onde vivem altos funcionários do governo.

"Consideramos que basta e que realmente temos que trabalhar para mudar nossas políticas. Precisamos mudar a atitude da nossa sociedade em relação à raça", afirmou Jeff.

"Tivemos séculos para consertar isso. Ainda não chegamos nem perto, mas continuaremos tentando".

"Quanto mais pessoas se envolverem na tentativa de combater as atuais atitudes racistas do país, melhor. Cada um tem um papel a desempenhar", disse ele.

"Como mulher branca, tenho uma imensa quantidade de privilégios", disse Lily.

"Dói-me muito ver pessoas que são humanas não serem tratadas como seres humanos. Eu simplesmente não podia ficar em casa e não fazer nada. Ficarei aqui até que algo mude. Não vou embora".

O ex-marine latino

Hipólito Arriaga, um porto-riquenho de 36 anos que cresceu no Bronx e foi fuzileiro naval pelos EUA no Iraque, conversou com a AFP durante uma marcha em Miami.

"Enquanto servia nas Forças Armadas, pensei que fomos enviados para o exterior para proteger a liberdade das pessoas daqui, mas enquanto isso a polícia aqui está nos tratando como se estivéssemos em uma zona de guerra", afirmou.

"Você é treinado para ver pessoas no Iraque, no Afeganistão, como se fossem animais, como se fossem selvagens".

"Da mesma forma, agora aqui neste país, somos chamados de criminosos. O presidente quer nos rotular como terroristas por acessar nosso direito de falar, um direito humano fundamental que é nosso", afirmou.

"Eles esquecem que o país foi fundado com uma revolução".