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Quatro policiais envolvidos na morte de George Floyd responderão a acusações penais

Protesto nos Estados Unidos por pedido de justiça pela morte de George Floyd e contra a violência policial - PETER PARKS / AFP
Protesto nos Estados Unidos por pedido de justiça pela morte de George Floyd e contra a violência policial Imagem: PETER PARKS / AFP

De Minneapolis

04/06/2020 00h00

O promotor que investiga a morte de George Floyd endureceu as acusações contra o policial que o asfixiou e decidiu também processar os outros três agentes presentes no incidente, que gerou uma onda de protestos que continuava estremecendo os Estados Unidos nesta quarta-feira (3).

Era uma das demandas das manifestações multitudinárias contra o racismo e a violência policial, que se mantêm com força em várias cidades, desafiando toques de recolher, em meio à pandemia do novo coronavírus e a cinco meses das eleições nas quais o presidente Donald Trump tentará a reeleição.

Seu ex-secretário de Defesa, Jim Mattis, o criticou por tentar "dividir" o país em um momento em que o presidente elevou o tom em relação aos protestos, alguns dos quais terminaram em distúrbios.

Floyd, um homem negro de 46 anos, morreu asfixiado pelo policial Derek Chauvin, que pressionou o joelho contra seu pescoço durante nove minutos.

"Não consigo respirar", repetia a vítima, uma frase adotada pelos manifestantes como palavra de ordem.

Segundo os documentos judiciais, o agente Derek Chauvin, que na semana passada foi acusado de homicídio culposo, será processado também por homicídio sem premeditação, uma acusação que se soma às existentes e é punida com penas mais severas.

Além disso, o promotor acusará os outros três policiais que estavam no local - Tou Thao, de 34 anos; J. Alexander Kueng, de 26; e Thomas Lane, de 37 -, que responderão a acusações por ajudar e instigar um homicídio sem premeditação.

A família de Floyd, que havia pedido penas mais duras e que responsabilizou todos os policiais presentes no momento de sua morte, comemorou a decisão em um comunicado divulgado por seu advogado, Ben Crump: "Este é um passo importante rumo à justiça", reagiram em um comunicado, no qual também pediram aos americanos a continuar "erguendo as vozes pela mudança de forma pacífica".

As manifestações prosseguiram em várias cidades, de Nova York a Los Angeles, de Chicago a Seattle.

"É um bom começo", disse Brian Clark em um protesto em Manhattan sobre as acusações anunciadas, mas acrescentou que continuará exercendo seu "direito de protestar até que cada pessoa negra obtenha justiça".

Elijah B., que o acompanhava, considerou que "não é suficiente". "Isto poderia ter acontecido há uma semana, foi só depois que a gente começou a marchar e destruir coisas que começaram a prestar atenção".

Em Las Vegas, três ativistas de extrema direita foram detidos por uma unidade da polícia e acusados de incitar a violência durante protestos pacíficos pela morte de Floyd.

Segundo o procurador federal Nicholas Trutanich, os homens pertenciam ao movimento Bogaloo, que promove "uma guerra civil próxima e/ou o colapso da sociedade" e foram detidos com um coquetel molotov.

"Problema sistêmico"

O governador de Minnesota, Tim Walz, disse após o endurecimento das acusações e das novas detenções, que era preciso "voltar à questão que nos ocupa... O racismo sistêmico e a falta de responsabilidade" que levou à morte de Floyd.

"Esta é provavelmente nossa última oportunidade, como estado e como nação, de reparar este problema sistêmico", indicou.

Embora Trump tenha condenado a morte de Floyd, Trump também adotou uma postura crítica à "gente ruim" que diz haver nestas manifestações que ganharam uma proporção que não era vista desde a década de 1960, durante os protestos pelos direitos civis.

"Precisamos de lei e ordem", repetiu nesta quarta-feira. "É preciso ter uma força dominante".

"Ao longo da minha vida, Donald Trump é o primeiro presidente que não tenta unir os americanos, que nem sequer pretende tentá-lo", lamentou o ex-secretário da Defesa Jim Mattis.

"Ao contrário, está tentando nos dividir", disse o general reformado, que antes havia dito que seria inapropriado criticar um presidente em exercício, em um comunicado no site The Atlantic.

Trump chegou a considerar a possibilidade de invocar a Lei de Insurreição para mobilizar tropas em serviço para sufocar os distúrbios.

Mas o sucessor de Mattis, Mark Esper, disse que esta opção só devia ser utilizada como "um último recurso e só nas situações mais urgentes e graves", também afastando-se do presidente.

"O presidente quer proteger as ruas dos Estados Unidos", argumentou a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, assegurando que a lei era uma "ferramenta disponível".

"Não podemos ter igrejas em chamas. Não podemos ter oficiais de polícia em quem se atira. Não podemos ter negócios que sejam saqueados e destruídos", acrescentou.

A Guarda Nacional, que responde aos governadores, tem agido no controle de distúrbios em várias cidades.

"Somos melhores do que isso"

Trump também disse ser falsa a versão da imprensa de que ele teria sido levado a um búnquer da Casa Branca, enquanto era celebrado um protesto perto da residência presidencial.

Ele disse que visitou uma área segura, mas para uma inspeção por um "breve período de tempo".

A notícia sobre o refúgio de Trump provocou uma onda de piadas, que se acredita que tenha contribuído para a decisão de visitar uma igreja próxima perto da Presidência, que foi parcialmente danificada nas manifestações.

Para abrir seu caminho até o templo, onde posou para a muito criticada foto segurando uma bíblia, a polícia dispersou com violência uma manifestação pacífica que ocorria no local.

Os toques de recolher foram mantidos nesta quarta em cidades como Nova York, Los Angeles e Washington, embora tenham abrandado um pouco.

Em Minneapolis, epicentro dos protestos, a situação volta à calma progressivamente depois dos distúrbios do fim de semana.

O ex-presidente Barack Obama aplaudiu, por sua vez, a "mudança de mentalidade" que vê nos americanos, enquanto o também ex-presidente Jimmy Carter fez um apelo à "gente com poder, privilégios e consciência moral" para pôr fim à discriminação racial.

"Somos melhores do que isso", disse Carter, de 95 anos.