Morre John Lewis, emblemático ativista dos direitos civis nos EUA
John Lewis, o pacifista defensor dos direitos civis dos negros que marchou com Martin Luther King Jr e foi congressista durante décadas, morreu aos 80 anos, na sexta-feira (17).
Este ícone afro-americano travou uma batalha ao longo da vida contra a discriminação racial e a injustiça, sendo espancado pela polícia e preso repetidamente durante protestos contra genocídios e leis sobre a imigração.
"Hoje, os Estados Unidos choram a perda de um dos maiores heróis de sua história", declarou a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, em nota.
Pelosi descreveu Lewis, que não resistiu a um câncer de pâncreas, como "um titã do movimento dos direitos civis, cuja bondade, fé e valentia transformaram nossa nação".
Filho de meeiros, Lewis foi um dos mais jovens integrantes dos "Passageiros da Liberdade", que lutaram contra a segregação racial no sistema de transporte público dos Estados Unidos no início dos anos 1960, e se tornou uma das vozes mais poderosas da defesa da justiça e da igualdade.
Também confrontou o presidente Donald Trump, boicotando sua posse e ressaltando a interferência russa nas eleições de 2016 para questionar sua legitimidade.
Lewis nasceu em Troy, Alabama, em 1940. Era o quarto de dez irmãos de uma família de camponeses e cresceu em uma comunidade totalmente negra, onde rapidamente sentiu a segregação pela cor de sua pele.
Tinha apenas 21 anos quando se tornou um dos fundadores dos Passageiros da Liberdade.
Também foi o líder mais jovem da manifestação de 1963 em Washington, na qual Luther King proferiu seu histórico discurso "I have a dream" ("Eu tenho um sonho").
Dois anos depois, quase morreu em uma manifestação antirracista pacífica em Selma, Alabama, quando teve um crânio fraturado pela polícia.
Aquele dia ficou conhecido como "Domingo Sangrento" e, exatamente meio século depois, caminhou de mãos dadas com Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, até o local do protesto emblemático.
"A grande mudança está chegando"
Lewis entrou no Congresso em 1986 e logo se tornou uma autoridade moral.
Pelosi o considerava "a consciência do Congresso".
Depois que sua morte foi tornada pública, as homenagens de democratas e republicanos não pararam.
O chefe republicano do Senado, Mitch McConnell, observou que Lewis "não hesitou em arriscar sua vida para combater o racismo, promover direitos iguais e aproximar nossa nação dos princípios que a fundaram".
O presidente francês, Emmanuel Macron, também saudou, neste sábado, a memória do ativista. "Uma vida de combate pelos direitos civis. Uma vida de belas lutas, para lutar por um mundo mais justo. Muito progresso foi feito graças a ele. John Lewis era um herói", tuitou.
Lewis se afastou de seus deveres legislativos nos últimos meses para se concentrar no tratamento do câncer, mas no início de junho voltou a Washington em meio aos protestos pela morte de George Floyd, um afro-americano sufocado por um policial branco.
Ele participou de um ato perto da Casa Branca que, após a morte de Floyd, se tornou epicentro dos protesto do movimento "Black Lives Matter".
"O vento está soprando, a grande mudança está chegando", disse Lewis em uma discussão com congressistas sobre o racismo.
"Poucos de nós vivemos para ver nosso próprio legado se desdobrar de maneira tão significativa e notável. John Lewis conseguiu", escreveu no Twitter Barack Obama, que em 2011 lhe concedeu a Medalha da Liberdade, a maior distinção civil dos Estados Unidos.
Outra figura icônica na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, o reverendo CT Vivian, faleceu na sexta-feira aos 95 anos.
CT Vivian organizou protestos contra a segregação na década de 1940 e foi um dos primeiros conselheiros de Martin Luther King.
Bernice King, a filha mais nova de Martin Luther King, tuitou fotos dos dois falecidos com a menção "Dois de nossos maiores e agora de nossos ancestrais. Aleluia".
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