Médica de vídeo retuitado por Trump crê que 'reptilianos' governaram os EUA
A médica de Houston que elogiou a hidroxicloroquina com uma cura milagrosa para o novo coronavírus em um vídeo retuitado pelo presidente americano, Donald Trump, atribui problemas ginecológicos a sexo com espíritos malignos e acredita que "mentes reptilianas" governaram os Estados Unidos.
O vídeo de Stella Immanuel chamou atenção sobre um grupo pouco conhecido, que se autodenomina "Médicos da linha de frente dos Estados Unidos" (America's Frontline Doctors), cuja existência parece ter como fim a promoção do medicamento antimalária usado de forma controversa contra a covid-19.
"Ninguém precisa adoecer. Este vírus tem uma cura, se chama hidroxicloroquina", exclamou Immanuel ontem da escadaria da Suprema Corte de Washington, onde estava para uma "Cúpula de Capa Branca", que reuniu médicos de ideias afins.
No começo da pandemia, os cientistas se apressavam em descobrir se as propriedades antivirais da hidroxicloroquina a tornariam eficaz para tratar pacientes com SARS-CoV-2.
Até agora, no entanto, todos os principais ensaios clínicos que informaram suas descobertas sobre este tema não encontraram nenhum benefício e as principais autoridades nacionais de saúde decidiram restringir seu uso devido a possíveis danos cardíacos.
No entanto, Immanuel, que é médica de família, disse que os 350 pacientes que havia tratado com o medicamento, inclusive alguns com comorbidades graves, tinham sobrevivido e que a hidroxicloroquina era tão potente que torna desnecessárias as máscaras e o distanciamento social para conter o contágio da covid-19.
O vídeo foi retuitado por Trump e seu filho, Donald Trump Jr., que o descreveu como um "must watch" (algo que deve ser visto), mas nas últimas horas foi eliminado por Facebook, Twitter e YouTube por promover informação falsa.
Consultado hoje durante uma coletiva de imprensa sobre seu retuíte, o presidente disse: "pensei que o que dizia era importante, mas não sei nada dela".
A discussão sobre a hidroxicloroquina tem forte carga política, desde que líderes como Trump e outros conservadores americanos, bem como seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, passaram a incentivar fortemente seu uso.
E o curioso caso de Immanuel e seus colegas, sobre o qual o site americano The Daily Beast informou em profundidade, destaca quão longe estão dispostos a ir os defensores deste medicamento.
Grupo político de direita
O site do "Médicos da linha de frente dos Estados Unidos" foi registrado há apenas 11 dias, segundo um verificador de domínios da internet, mas foi retirado na tarde desta terça.
O "Tea Party Patriots", grupo político de direita apoiado por republicanos abastados, informou em seu site ser responsável por organizar a cúpula médica em Washington.
Uma pesquisa adicional no site de Immanuel, acessível agora apenas através de um visor arquivado da página, assim como de sua conta no YouTube, revela uma longa lista de crenças incomuns e pouco científicas.
Por exemplo, ela afirma que "espíritos atormentadores" costumam ter "sexo astral" com as mulheres, o que causa "problemas ginecológicos, sofrimento matrimonial, abortos espontâneos" e outras enfermidades.
Em um vídeo de 2015, Immanuel, que dirige um grupo religioso chamado "Fire Power Ministries" (Ministérios de poder de fogo), disse: "Há pessoas que governam esta nação que nem sequer são humanas", descrevendo-as como "espíritos reptilianos" que são "metade humanos, metade extraterrestres".
No mesmo vídeo, ela critica o uso de "DNA alienígena" para tratar pessoas doentes, o que, segundo disse, tinha levado os seres humanos a se misturar com demônios.
Também questiona o casamento entre pessoas de mesmo sexo que, segundo ela, resultaria no casamento de adultos com crianças.
Immanuel nasceu em 1965, recebeu o título de médica na Universidade de Calabar, na Nigéria, e tem licença válida para exercer a medicina, segundo o site da Junta Médica do Texas.
Depois de o Facebook suspender seu vídeo, a conta no Twitter @stella_immanuel advertiu que os servidores da empresa começariam a falhar até que voltassem a ativar a página.
"Se não reativarem com a minha página, o Facebook vai cair em nome de Jesus", disse.
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