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Trump tenta ofuscar convenção democrata com turnê pelos EUA

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em entrevista coletiva na Casa Branca - Brendan Smialowski/AFP
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em entrevista coletiva na Casa Branca Imagem: Brendan Smialowski/AFP

17/08/2020 09h35

Os olhos dos eleitores americanos estarão voltados esta semana para o candidato à presidência Joe Biden, sua companheira de chapa, Kamala Harris, e para a convenção democrata, a menos que sejam distraídos pelo presidente, Donald Trump.

A convenção democrata, que terminará na quinta-feira com a aceitação por Biden da indicação para enfrentar Trump em 3 de novembro, representa para os democratas o verdadeiro ponto de partida da campanha presidencial.

O presidente, porém, adora roubar a cena. Portanto, quando o evento democrata começar hoje, já discreto devido às precauções contra o coronavírus, Trump iniciará uma turnê de campanha na qual tem comícios planejados nos estados de Wisconsin e Minnesota.

Trump retornará ao Air Force Onde na terça-feira para falar no Arizona. E na quinta-feira, o momento mais importante da vida política de Biden, Trump fará o seu melhor para ofuscar o rival com um discurso perto de Scranton, Pensilvânia, a cidade operária onde Biden cresceu e que ele ainda se refere como seu lar espiritual.

De acordo com a equipe de campanha de Trump, o tema da turnê desta semana será "destacar o histórico de fracassos de Joe Biden".

Trump acredita que dá o melhor de si na frente do público.

Embora também tenha cancelado a grande convenção republicana por causa do coronavírus, ele pretende fazer um discurso diante de convidados na Casa Branca em duas semanas.

Mas sair em turnê acarreta riscos. A última tentativa de Trump de organizar um comício, um evento em Oklahoma em junho, foi um fracasso devido à baixa participação.

E nesta semana terá a competição das estrelas democratas, ansiosas por deixar o presidente sem um segundo mandato.

Entre elas estarão Michelle Obama e Bernie Sanders nesta segunda, depois Barack Obama e Kamala Harris na quarta-feira.

E se Trump acabar dando asas a seus oponentes?

"O maior problema para o presidente Trump agora é que quanto mais ele fala, pior ele faz", disse Julian Zelizer, professor de Política da Universidade de Princeton, à CNN.

"Não tenho certeza de que uma maior presença do presidente Trump nos próximos dias prejudicará necessariamente os democratas. Pode ser exatamente o que eles precisam".

Dificuldades

Veterano de reality shows e uma espécie de gênio da autopromoção, Trump entrou na política com a capacidade de identificar as fraquezas dos adversários e transformá-las em temas centrais de campanha.

Em 2016, o apelido "Hillary trapaceira" fisgou os eleitores. Trump protagonizou cenas sem precedentes e desagradáveis, encorajando a multidão a gritar "prendam-na".

Os mais tradicionais ficaram horrorizados, mas o republicano aproveitou a desconfiança generalizada do nome Clinton e seus ataques feriram a oponente.

Durante as primárias democratas, Trump também deu apelidos ofensivos, mas cativantes, para aqueles que muitos pensavam ser os candidatos mais fortes: chamou Sanders de "Crazy Bernie" e Elizabeth Warren de "Pocahontas".

Contra Biden e Harris, no entanto, o presidente parece menos seguro de si.

A dupla é do centro do Partido Democrata, o que os torna alvos muito mais evasivos. E, em particular, Harris parece preocupar o presidente.

Como ex-promotora, a companheira de chapa de Biden não se encaixa na mensagem central de sua campanha sobre a alegada fraqueza dos democratas no combate ao crime. Os adjetivos que ele dedicou a ela, como "desagradável" e "desrespeitosa", não parecem ecoar entre o eleitorado feminino.

Uma pesquisa da ABC e do Washington Post no domingo revelou que 54% dos americanos aprovam Harris e apenas 29% não.

Trump também parece hesitar sobre como abordar Biden.

Por meses, promoveu a opinião de que o ex-vice-presidente de Obama, a quem chama de "Joe sonolento", é senil e não está apto para o cargo. No entanto, as pesquisas continuam mostrando o democrata com a vantagem nos estados indecisos e até mesmo ameaça prevalecer em redutos republicanos.

Refletindo sua frustração, Trump se dirigiu a uma multidão de apoiadores do Departamento de Polícia de Nova York na sexta-feira em busca de ajuda e perguntou sobre o apelido de seu rival.

"Qual é melhor, 'Joe sonolento' ou 'Joe lento'?", perguntou. Os gritos de "Joe sonolento" foram mais altos e o presidente assentiu. "É o que eu pensei", disse.