Reino Unido e UE admitem que superar diferenças em diálogo pós-Brexit 'será muito difícil'
Bruxelas, 17 dez 2020 (AFP) - As negociações entre a União Europeia e o Reino Unido para chegar a um acordo sobre a relação pós-Brexit estiveram à beira do colapso nesta quinta-feira (17), a tal ponto que os principais líderes alertaram que superar as diferenças "será muito difícil" e que o fracasso do diálogo será "muito provável".
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, mantiveram uma nova conversa telefônica nesta quinta-feira à noite, na qual admitiram as dificuldades.
"Estamos satisfeitos com o progresso substancial feito em muitas questões", mas "grandes diferenças ainda precisam ser superadas, particularmente na matéria de pesca" e "superá-las será muito difícil", afirmou Von der Leyen em nota oficial.
Enquanto isso, em um comunicado, o escritório de Johnson disse que "parece altamente provável que um acordo não seja alcançado a menos que o posicionamento da UE mude substancialmente".
Segundo o governo britânico, a posição da UE sobre a pesca "simplesmente não é razoável" e, para chegar a um acordo, Bruxelas teria de mudar "significativamente" a sua abordagem.
Em matéria de pesca, Londres "não pode aceitar uma situação em que seria o único país soberano do mundo sem controle sobre o acesso às suas próprias águas", ressaltou o governo.
Portanto, acrescentou, as negociações estavam em uma "situação muito grave".
Apesar do pessimismo generalizado, Von der Leyen e Johnson concordaram que as negociações seriam retomadas na sexta-feira.
Antes do contato telefônico, fontes dos dois lados do Canal da Mancha indicaram que dificilmente tentariam repassar as discussões, mas um funcionário europeu confidenciou à AFP que a solução para a questão da pesca "é realmente muito difícil, e disso depende um acordo".
"Difícil, mas possível"
Em reunião com legisladores, o principal negociador da UE, o francês Michel Barnier, considerou que era "difícil, mas possível" alcançar um acordo nesta quinta, um dia em que todo o processo está sob pressão do Parlamento Europeu.
Em documento conjunto, os blocos políticos no Parlamento anunciaram que estão dispostos a permanecer prontos para analisar o eventual acordo até 31 de dezembro, mas somente se o entendimento for alcançado até o fim de domingo.
Barnier realizou uma reunião a portas fechadas com a Conferência de Presidentes do Parlamento Europeu, órgão que reúne o titular do legislativo e os chefes das bancadas políticas, a quem apresentou o estado atual das negociações.
Segundo garantiram fontes legislativas à AFP, nesse encontro Barnier admitiu a possibilidade de chegar a um acordo nesta sexta-feira. "É difícil, mas possível", disse Barnier, de acordo com três fontes consultadas.
"Acredito que ainda há possibilidades nos próximos dias, mas claramente ainda não chegamos a esse ponto. Não sejam impacientes, ainda há algum tempo", declarou Barnier aos legisladores.
Discussão com prazo
Na reunião, o negociador europeu garantiu aos legisladores que a equipe britânica havia aceitado uma cláusula que permitiria a Bruxelas responder caso as normas ambientais e trabalhistas divergissem a ponto de afetar a concorrência entre as empresas.
A questão dos direitos de pesca, no entanto, seguia sendo motivo de desacordo, embora Bruxelas tenha aceitado explicitamente que o Reino Unido tem direitos soberanos sobre suas águas territoriais.
Logo após essa conversa com os legisladores, Barnier se encontrou novamente com o negociador britânico David Frost.
Em qualquer cenário, todo o processo se dá sob forte pressão do Parlamento Europeu, que deveria ratificar um eventual acordo antes de 31 de dezembro, já que no dia seguinte o Reino Unido estará fora do mercado único europeu e da união aduaneira.
Em nota oficial, os dirigentes dos blocos políticos indicaram que estão dispostos a convocar uma sessão extraordinária do Parlamento para aprovar o eventual acordo, mas apenas "se for alcançado um acordo até a meia-noite de domingo", para dar tempo de analisar seu conteúdo.
Tal cenário sugere a convocação de uma sessão extraordinária do Parlamento Europeu nos dias 28 e 29 de dezembro para ratificar o tratado.
O líder do bloco centrista Renew, Dacien Ciolos, disse que "a incerteza sobre os cidadãos e empresas europeias como resultado de uma decisão britânica é intolerável".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.