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França vacina só 516 pessoas, e oposição critica lentidão do governo

Idoso de 92 anos toma a primeira dose da vacina na França - POOL/REUTERS
Idoso de 92 anos toma a primeira dose da vacina na França Imagem: POOL/REUTERS

04/01/2021 08h25Atualizada em 04/01/2021 11h04

Paris, 4 Jan 2021 (AFP) - O governo francês deseja acelerar o processo de vacinação contra a covid-19, depois de uma série de críticas pela lentidão da campanha na comparação com outros países europeus.

"Estão zombando de nós. Hoje é mais complicado se vacinar do que comprar um carro", criticou Jean Rottner, presidente da região Grande Leste, uma das mais afetadas pela pandemia.

"Estamos diante de um escândalo de Estado", completou Rottner, membro do partido de oposição de direita, Os Republicanos (LR). "As coisas devem acelerar", disse.

A França começou a vacinar em 27 de dezembro nas casas de repouso. Mas, até 1º de janeiro, apenas 516 pessoas haviam sido imunizadas, contra mais de 200 mil na Alemanha, no mesmo período, e quase um milhão no Reino Unido.

"Somos alvo de piada no mundo (...) É vergonhoso", criticou o vice-presidente do partido de extrema-direita RN, Jordan Bardella.

O eurodeputado ecologista Yannick Jadot disse que a estratégia de vacinação da França era um "fiasco" e que o presidente Emmanuel Macron é o único responsável.

Diante da polêmica, Macron convocou para esta segunda-feira uma reunião para analisar a campanha de vacinação com os principais membros de seu gabinete.

Segundo a publicação "Le Journal du Dimanche", o presidente expressou nos últimos dias o descontentamento com a lentidão da campanha de vacinação contra o vírus, que matou mais de 65 mil pessoas na França.

Sobre a vacinação contra a covid-19, "estamos a um ritmo de passeio em família, o que não está à altura nem do momento nem dos franceses", indicou a publicação, que citou palavras de Macron pronunciadas em reuniões privadas.

"Estou em guerra pela manhã, ao meio-dia, à tarde e à noite", disse o presidente francês, que se recuperou recentemente da covid-19. "Espero o mesmo compromisso de todos. Isto não é suficiente. Deve mudar rápida e fortemente", disse.

Embora o governo tenha assumido em um primeiro momento o início "prudente", o porta-voz do Executivo, Gabriel Attal, anunciou ontem uma aceleração com a chegada semanal de vacinas e a transferência das doses para as casas de repouso.

A França recebeu 560 mil doses da vacina Pfizer/BioNTech desde o fim de dezembro e, a partir desta semana, receberá meio milhão de doses por semana para seus quase 67 milhões de habitantes.

O governo decidiu antecipar a vacinação dos profissionais de saúde de mais de 50 anos, que estava prevista para fevereiro. Para muitos, porém, as mudanças continuam sendo insuficientes, e alguns pedem a abertura da vacinação para todos os voluntários.

Por que o atraso?

Além de ser um país tradicionalmente antivacinas, uma das explicações para o início lento da campanha se deve ao fato de o processo de vacinação na França ser composto por várias etapas.

Antes de tomar a vacina, os franceses devem comparecer a uma primeira consulta para detectar possíveis contraindicações e dar o consentimento.

Com o avanço da pandemia previsto após as festas de fim de ano e com a detecção de uma nova cepa do coronavírus, mais contagiosa que as anteriores, vários médicos e cientistas defendem, no entanto, a revisão da estratégia do governo.

"Não podemos continuar neste ritmo. Os cálculos sugerem que seriam necessários 3.000 anos para que estejamos todos vacinados", lamentou o diretor do CTI do Hospital Lariboisière, doutor Bruno Megarbane.