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Trump pede a eleitores da Geórgia que "salvem" país em eleição para o Senado

4.jan.2021 - O presidente dos EUA, Donald Trump, durante um comício em apoio candidatos republicanos na eleição para o Senado em Dalton, na Geórgia - Mandel Ngan/AFP
4.jan.2021 - O presidente dos EUA, Donald Trump, durante um comício em apoio candidatos republicanos na eleição para o Senado em Dalton, na Geórgia Imagem: Mandel Ngan/AFP

Em Dalton (EUA)

05/01/2021 05h59

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu ontem aos habitantes do estado da Geórgia que votem nos candidatos republicanos na crucial eleição para o Senado, que terá um impacto decisivo para o governo do presidente eleito democrata Joe Biden.

"Nosso país depende de vocês. O mundo inteiro está de olho na Geórgia", afirmou em Dalton o republicano, que dois meses depois das eleições presidenciais continua sem admitir a derrota, apesar de auditorias, recontagens e várias decisões judiciais apontarem o contrário.

As duas eleições de hoje podem ser "a sua última oportunidade de salvar os Estados Unidos que amamos", declarou às pessoas que compareceram ao evento nesta comunidade rural e conservadora do noroeste da Geórgia.

O estado do sul do país não elege um democrata para o Senado há 20 anos. Mas se Raphael Warnock, pastor afro-americano de 51 anos, e Jon Ossoff, produtor audiovisual de 33, conseguirem essa façanha, darão ao partido o controle da Câmara Alta, além da Câmara dos Representantes, de maioria democrata.

Se isso acontecer, o Senado ficaria com 50 cadeiras para cada força, motivo pelo qual a futura vice-presidente, Kamala Harris, teria o voto decisivo, fazendo com que a balança pendesse para o seu lado nessa câmara, atualmente de maioria republicana.

Trump, que ainda tenta reverter a derrota eleitoral, viajou à Geórgia em meio a um novo escândalo por suas tentativas de pressionar funcionários de governos estaduais para que anulem a votação e atribuam a vitória a sua candidatura.

"É impossível que eu tenha perdido na Geórgia", repetiu o presidente.

"Não vão tomar esta Casa Branca", disse para os democratas. "Vamos lutar como nunca!"

"Não quer trabalhar"

Cartazes eleitorais, ônibus de candidatos e reuniões: dois meses após as eleições presidenciais, a Geórgia recuperou o clima de campanha nacional.

Joe Biden, que assume a presidência em 20 de janeiro, também visitou o estado e participou em um evento mais reservado em Atlanta.

"O poder está nas suas mãos. Um só estado pode mudar o rumo não apenas nos próximos quatro anos, mas também para a próxima geração", declarou Biden.

O presidente eleito criticou a falta de ação de Trump ao citar o começo caótico da campanha de vacinação contra a covid-19. "Não entendo por que ele quer tanto manter o cargo, quando já não quer trabalhar."

Durante a campanha na Geórgia, os cartazes "Trump 2020" continuam sendo numerosos. Estão mais presentes do que os dos senadores que o presidente apoia: os ex-empresários Kelly Loeffler, 50, e David Perdue, 71.

Randy Stelly, 68 anos, diz que viajou do Texas para Dalton para mostrar que a luta em favor de Trump "não para" e que não se deve "nunca, nunca admitir a derrota".

Mal-estar no campo republicano

As pesquisas mostram os candidatos empatados: Ossoff desafia Perdue, enquanto Warnock tentará desbancar Loeffler.

Os republicanos partem como favoritos no estado conservador. Os democratas contam, porém, com a vitória de Biden em 3 de novembro, a primeira de um democrata na Geórgia desde 1992.

Todos esses elementos contribuem para uma situação "realmente muito apertada para fazer uma previsão", comentou Trey Hood, professor da Universidade da Geórgia.

Se sua base eleitoral permanecer fiel a Trump, suas declarações contra eleições supostamente irregulares podem desmobilizar os eleitores.

O comício na Geórgia aconteceu um dia depois do jornal Washington Post ter divulgado uma surpreendente gravação de uma ligação do presidente a um funcionário responsável por supervisionar as eleições neste estado.

Repetindo suas acusações de fraude, sem provas, Trump disse ao secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, que a eleição foi "roubada". Ele pediu ao funcionário que "encontrasse" as cédulas necessárias para anular sua derrota neste estado-chave.

Apesar das ameaças veladas, o funcionário, um republicano, não cedeu. "Achamos que nossos números são bons", respondeu Raffensperger ao presidente em final de mandato.

A vice-presidente eleita Kamala Harris classificou o episódio no domingo como um "flagrante abuso de poder".

Muitos congressistas do Partido Republicano preferiram não comentar o caso na véspera de uma votação de alto risco.

Após as eleições parciais Congresso se reunirá na quarta-feira para certificar formalmente a votação do Colégio Eleitoral em favor de Biden (306 contra 232).

O resultado dessa obrigação constitucional, que costuma ser uma mera formalidade, não está em dúvida, mas a resistência de Trump, que se nega de forma obstinada a aceitar o resultado das urnas, dará a esse dia um tom especial.

Muitos congressistas prometeram expressar suas objeções e fazer ecoar as acusações de fraude. Dezenas de executivos americanos, por sua vez, pediram em carta endereçada ao Congresso hoje que certifique Biden como novo presidente: "É hora de o país avançar."

Trump citou o papel protocolar que o vice-presidente Mike Pence terá ao presidir a sessão do Congresso na quarta-feira, que vai declarar Biden como vencedor.

"Espero que nosso grande vice-presidente nos apoie", disse.

"Se ele não fizer isto, não gostarei tanto dele", completou.