Raúl Castro se despede e encerra longo capítulo da história de Cuba
Em poucos dias, Cuba não terá nenhum Castro no poder: o congresso do Partido Comunista, que começa hoje (16), encerrará mais de seis décadas de governo dos irmãos Fidel e Raúl Castro, dando lugar a uma nova geração.
Após a morte de Fidel em 2016, a aposentadoria de Raúl - que está perto de completar 90 anos - e a substituição por Miguel Díaz-Canel (60), viram uma página histórica da ilha. A maioria de seus habitantes não conheceu outra família governante além da dos revolucionários.
"Raúl não vai estar no comando do Partido, mas (para) qualquer problema estará ali. Raúl não morreu", comenta Ramón Blande, um militante comunista de 84 anos, equipado com uma máscara para se proteger do coronavírus.
E certamente, frisa, Díaz-Canel ainda é "bastante jovem", mas "enfrenta sérios problemas".
A partir das 9h0 (10h de Brasília), várias centenas de delegados do partido único, de toda a ilha, se reunirão durante quatro dias no Palacio de las Convenciones de Havana, para debater as questões centrais do país.
Este conclave a portas fechadas, que se inicia 60 anos depois de Fidel Castro ter proclamado o caráter socialista da revolução, será transmitido, pelo menos parcialmente, pela televisão.
A nomeação de Díaz-Canel como novo primeiro secretário, cargo mais importante de Cuba, poderá ocorrer em sua última sessão, na segunda-feira.
Agitação social
Junto com Raúl Castro, grandes nomes da geração histórica - aquela que fez a revolução de 1959 - devem se aposentar, entre eles o número dois do Partido, José Ramón Machado Ventura, de 90 anos, e o comandante Ramiro Valdés, de 88.
Nas ruas de Havana, sem turistas devido à pandemia, os cubanos parecem mais preocupados com a escassez de alimentos, as longas filas nos supermercados e a espiral inflacionária desencadeada pela recente unificação das duas moedas que o país tinha.
"Tenho esperança de que com o congresso melhore isso, porque os preços estão muito altos, os salários subiram (...), mas (...) no final as contas não fecham", lamenta María Martínez, aposentada de 68 anos.
Para Norman McKay, analista da The Economist, "a saída de (Raúl) Castro é um acontecimento histórico não só porque marca o fim de uma dinastia que já dura mais de 50 anos, mas também porque ocorre em um período de perturbações e dificuldades econômicas significativas".
"Isso não significa necessariamente que haverá uma mudança abrupta no estilo do partido comunista", mas "a internet vai facilitar uma maior demanda por responsabilidade e liberdades, colocando desafios ao governo que serão difíceis para o Partido Comunista ignorar", acrescenta.
Nos últimos meses, Cuba passou por uma agitação social sem precedentes, impulsionada pela recente chegada da internet móvel, com manifestações de artistas, protestos de dissidentes e mobilizações de outros setores da sociedade civil, como os defensores dos animais.
As redes sociais também ecoam a reivindicação dos jovens por mais liberdade política e de expressão.
"Revezamento"
"O fato de Raúl Castro ceder a liderança do Partido Comunista em Cuba não é uma mudança real", escreveu na terça-feira no Twitter o senador americano de origem cubana Marco Rubio. "Mas uma mudança real já está acontecendo", observou ele, referindo-se à atual agitação social.
Para o analista político Harold Cárdenas, "existe um sentimento de grande cansaço na sociedade, cansaço que é uma mistura da política do governo Trump em relação a Cuba da mais alta expressão, com a falta de confiança nos projetos e nas promessas das lideranças cubanas".
Isso é o que "a oposição do país está tentando capitalizar", disse Cárdenas.
As sanções de Donald Trump fizeram desaparecer em 2019 os navios de cruzeiro lotados de turistas americanos, e um ano depois o mesmo aconteceu com as agências da empresa Western Union, por meio da qual os cubanos recebiam remessas de familiares e amigos no exterior.
Os ilhéus também estão angustiados com a ascensão dos mercados que operam em dólares, moeda à qual a maioria deles não tem acesso.
Na presidência do país desde 2018, Díaz-Canel será o primeiro civil a comandar o partido, no qual desenvolveu toda a sua carreira.
Raúl "deve ser o último (Castro) a ocupar esse cargo", diz o professor Villanis Vargas, de 47 anos. "Mas bem, há o revezamento, ele é capacitado e acredito que nosso país vai seguir em frente com isso".
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