'Tenho mais medo do Lázaro do que da pandemia de covid', diz agricultor
A busca por um homem suspeito de vários assassinatos transformou uma pequena comunidade do Centro-Oeste do Brasil em cenário de uma operação que já dura duas semanas e mobiliza quase 300 policiais.
"Com qualquer barulho, entramos em pânico. Ficamos apavorados", diz Aurizênia Batista da Silva, moradora de Girassol, em Goiás, a 75 quilômetros de Brasília.
Nesta comunidade pacata, integrada ao município de Cocalzinho de Goiás, há quinze dias só se fala em Lázaro Barbosa, o fugitivo de 32 anos, que deixou um rastro de medo e mortes.
"Alguns dizem que esse homem é o próprio diabo", diz Silva, que confessa estar tomando remédios para controlar a ansiedade.
Para José Sivaldo, pequeno produtor rural da região próxima ao rio onde se concentra a busca por Barbosa, a presença do homem apelidado de "serial killer de Brasília" tem sido "pior que a pandemia de covid", porque o medo afastou seus filhos, netos e clientes.
Lázaro Barbosa, natural da Bahia, já havia sido preso em 2011 por roubo e estupro e fugiu da prisão em 2016. Foi recapturado e fugiu novamente, em 2018, de um presídio na cidade vizinha de Águas Lindas.
Repercussão
A atual caçada começou no dia 9 de junho, depois que uma família de uma área rural da região foi morta a facadas.
A polícia acredita que Barbosa cometeu os quatro crimes.
Desde então, são muitos os relatos de encontros com o fugitivo, de tentativas de sequestro, tiroteios, roubos, invasões de propriedades e tomada de reféns.
A dificuldade da polícia em prendê-lo alimentou mitos sobre as proezas de Barbosa, além de memes e piadas nas redes sociais.
"Meu dinheiro é como o Lazaro, difícil de encontrar", escreveu um usuário no Twitter.
"A polícia atrás de Lázaro sou eu quando perco algo em casa", disse outro na terça-feira.
A gigantesca operação policial conta com drones, helicópteros e cães farejadores.
Intolerância religiosa
Os agentes são vistos em todos os cantos da cidade, embora para alguns a operação tenha se tornado uma fonte de medo e revelado outras tensões.
Tata Ngunzetala, da casa de candomblé Angola-Kongo em Águas Lindas, afirma que, depois que a imagem de Barbosa foi indevidamente associada às religiões de matrizes africanas, uma dezena de locais de culto na região foram alvo de batidas policiais.
"Aqui, mais de 40 homens pularam o muro, verificaram meu telefone e meu computador sem mandado, apontaram fuzis para mim e nos acusaram de encobrir Lazaro", disse Ngunzetala à AFP.
"Nossas tradições não estão relacionadas a atos criminosos. (...) Mas eles nos atacam de forma vil e racista, sob o falso pretexto de servir de abrigo para os fugitivos", denunciou um comunicado de representantes de religiões de origem africana lançado em 19 de junho.
A secretaria de segurança goiana garante que o foco da operação é "a captura do criminoso e o restabelecimento da paz à população".
Para Aurizênia da Silva, a paz é um conceito distante agora: "Nossa cidade é calma e de repente tudo isso acontece. Não temos paz para dormir nem para sair de casa".
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