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Talibãs e militares do Afeganistão se enfrentam no noroeste do país

7.jul.2021 - Seguranças afegãs montam guarda em meio a luta entre as forças de segurança afegãs e combatentes do Talibã na cidade ocidental de Qala-i-Naw, no Afeganistão - AFP
7.jul.2021 - Seguranças afegãs montam guarda em meio a luta entre as forças de segurança afegãs e combatentes do Talibã na cidade ocidental de Qala-i-Naw, no Afeganistão Imagem: AFP

Da AFP, no Afeganistão

08/07/2021 06h05Atualizada em 08/07/2021 08h00

Os talibãs e as forças militares afegãs se enfrentavam nesta quinta-feira (8) na cidade de Qala-i-Naw (noroeste), a primeira capital provincial do Afeganistão a ser atacada pelos insurgentes desde o início da retirada das tropas norte-americanas.

"Os talibãs estão na cidade (...) Nós os vemos indo e vindo com suas motos", relatou Aziz Tawakoli, morador de Qala-i-Naw, capital da província de Badghis.

"As lojas estão fechadas. Quase não tem ninguém nas ruas, e quase metade dos moradores fugiu", acrescentou.

Na quarta-feira (7), algumas poucas horas depois de o Exército americano anunciar ter completado "mais de 90%" de sua retirada do Afeganistão, os talibãs entraram nesta cidade de cerca de 75 mil habitantes.

Desde maio, quando começou a saída definitiva das tropas estrangeiras, os talibãs vêm tomando amplas áreas rurais do país e se aproximando de grandes cidades. Até agora, porém, não haviam entrado em zonas urbanas.

O Exército afegão lançou uma contraofensiva para retomar a cidade.

"Ninguém conseguiu dormir ontem à noite por causa dos bombardeios", relatou Parisila Herawai, também moradora de Qala-i-Naw.

"Como mulheres, estamos muito preocupadas (...) Se os talibãs ficarem na cidade, não poderemos trabalhar e perderemos todos os avanços em matéria de direitos das mulheres dos últimos 20 anos", disse ela.

Zia Gul Habibi, membro do conselho provincial de Badghis, afirmou que "a situação não mudou realmente" desde quarta-feira, com combates "esporádicos" na cidade.

"Alguns membros das forças de segurança que se uniram aos talibãs ajudam-nos e orientam", completou.

Na quarta-feira, os insurgentes libertaram centenas de detidos da prisão municipal e assumiram o controle da delegacia.

No Twitter, o porta-voz do Ministério da Defesa, Fawad Aman, afirmou que "novos comandos chegaram a Badghis na noite passada e iniciarão uma operação de grande envergadura".

- Avanço implacável -Segundo uma autoridade de segurança que pediu para não ser identificada, a ofensiva "afetou as províncias vizinhas", incluindo Herat, limítrofe com o Irã, onde os insurgentes tomaram um distrito que faz fronteira com Badghis.

"Isso espalhou um pouco de medo por toda parte", afirmou ele.

De acordo com fontes do governo local e dos talibãs, dois distritos de Herat foram tomados durante a noite, enquanto os insurgentes se aproximam do centro da província.

O encarregado de negócios da embaixada americana, Ross Wilson, criticou a ofensiva em Badghis que, segundo ele, "viola os direitos humanos" e "dificulta ainda mais a vida dos civis afegãos que já lutam contra a seca, a pobreza e o coronavírus".

Conforme relato da Human Rights Watch, os talibãs expulsaram as pessoas de suas casas e saquearam, ou incendiaram, casas no norte do Afeganistão.

Em junho, os insurgentes tentaram brevemente atacar Kunduz, capital da província homônima também no norte do país.

Enquanto isso, a retirada das tropas americanas continua, apesar do avanço implacável dos talibãs e dos golpes sofridos pelas forças afegãs, que não contam mais com o crucial apoio aéreo dos americanos.

Na última semana, as forças estrangeiras abandonaram várias posições, incluindo a base aérea de Bagram, perto de Cabul.

Bagram foi a instalação militar mais importante da coalizão internacional no Afeganistão e centro nevrálgico de suas operações neste país desde a invasão americana na esteira do 11 de Setembro.

A Casa Branca garante que a retirada de suas tropas será concluída até o final de agosto. Isso porá um ponto final a 20 anos de presença americana no Afeganistão, a guerra mais longa dos Estados Unidos em sua história.