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Exército afegão mobiliza tropas para contraofensiva dos talibãs do país

Agentes de segurança fazem buscas nas proximidades da Universidade de Cabul, no Afeganistão, no ano passado - Omar Sobhani/Reuters
Agentes de segurança fazem buscas nas proximidades da Universidade de Cabul, no Afeganistão, no ano passado Imagem: Omar Sobhani/Reuters

Da AFP, em Cabul

06/07/2021 09h11Atualizada em 06/07/2021 10h13

O governo do Afeganistão mobilizou nesta terça-feira (6) centenas de militares e milicianos pró-Cabul para contra-atacar uma vasta ofensiva dos talibãs no norte do país, que obrigou quase mil militares a buscar refúgio no Tadjiquistão.

Combates violentos são registrados em várias províncias afegãs, mas os insurgentes concentram os esforços no norte do país, onde tomaram o controle de dezenas de distritos nos últimos dois meses, desde que os Estados Unidos e Otan iniciaram a retirada de suas tropas.

Diante do avanço talibã inquietante na região, afastado de seus tradicionais redutos do sul, o governo decidiu agir e enviar tropas ao norte, com o objetivo de organizar uma contraofensiva.

"Temos a intenção de lançar uma grande ofensiva para recuperar territórios capturados pelo inimigo", afirmou à AFP Fawad Aman, porta-voz do ministério da Defesa. "Nossas forças estão se preparando na área para a operação", completou.

Centenas de soldados e milicianos que apoiam o governo estão sendo mobilizados nas províncias de Takhar e Badakhshan, onde os talibãs assumiram o controle de vastos territórios sem a necessidade de combate.

As duas províncias integravam os redutos das forças da Aliança do Norte, opositora na década de 1990 ao regime talibã, que não conseguiu tomar o controle no período.

Desta vez, a rapidez e facilidade com que os insurgentes assumiram o comando das províncias significa um duro golpe psicológico para o governo afegão.

Sem apoio aéreo

Autoridades militares afegãs reconheceram que não protegeram os distritos rurais remotos da ofensiva dos talibãs, mas se comprometeram a concentrar esforços para assegurar as principais cidades e estradas, assim como as localidades fronteiriças.

Na semana passada, tropas americanas e da Otan abandonaram a base aérea de Bagram, a maior do Afeganistão, que fica 50 km ao norte de Cabul e que era o centro de suas operações desde o início da intervenção militar provocada pelos atentados de 11 de setembro de 2001.

A saída de Bagram, uma das últimas etapas da retirada total após 20 anos de guerra, limita a maior parte do vital apoio aéreo fornecido até agora pelos Estados Unidos ao exército afegão, o que provoca o temor de que este último, cada vez mais desmoralizado, não tenha capacidade de frear a ofensiva dos talibãs.

De acordo com um especialista estrangeiro em segurança, que pediu anonimato, o ataque insurgente no norte busca "destruir alguns antigos inimigos", como o célebre chefe de guerra Abdul Rashid Dostum.

"No ano passado os talibãs executaram ataques contra Lashkar Gah e Kandahar (sul), mas foram repelidos pela Força Aérea americana (...) Desta vez tomaram o norte com sucesso, sem o apoio dos aviões americanos" na região, destacou o analista.

Na segunda-feira, quase mil soldados afegãos buscaram refúgio no Tadjiquistão após combates violentos com os insurgentes, depois que não receberam os reforços solicitados. Nas últimas semanas, outros 1.200 fizeram o mesmo.

Desde o fim de junho, os talibãs controlam o principal posto de fronteira com o Tadjiquistão e outros pontos de passagem, e os distritos próximos à grande cidade afegã de Kunduz, capital da província de mesmo nome, a 50 km da fronteira.

Neste contexto, o presidente tadjique Emomali Rajmon ordenou na segunda-feira a "mobilização de 20 mil reservistas para reforçar a fronteira".

A Rússia fechou o consulado em Mazar-i-Sharif, capital da província de Balkh, importante cidade afegã próxima da fronteira com o Uzbequistão.