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Noruega lembra 10 anos de atentados que deixaram 77 mortos

"O ódio não pode ficar sem resposta", afirmou a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, durante a primeira homenagem do dia - Geir Olsen/NTB/AFP
"O ódio não pode ficar sem resposta", afirmou a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, durante a primeira homenagem do dia Imagem: Geir Olsen/NTB/AFP

Em Oslo

22/07/2021 08h17

A Noruega se comprometeu a lutar unida contra o ódio hoje, dia do 10º aniversário dos atentados executados pelo extremista de direita A. B. B., que deixaram 77 mortos em 2011.

"O ódio não pode ficar sem resposta", afirmou a primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, durante a primeira homenagem do dia, que aconteceu perto da sede de governo em Oslo.

Foi nesta área em que B. iniciou o massacre, ao detonar uma bomba de 950 quilos que deixou oito mortos. Depois, disfarçado de policial, ele abriu fogo na pequena ilha de Utøya contra uma reunião da Liga Trabalhista Juvenil (AUF). Neste ataque, morreram 69 pessoas, a maioria adolescentes.

Várias cerimônias estão previstas para recordar os ataques mais violentos na Noruega desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Solberg, que conversou com sobreviventes e parentes das vítimas, destacou que o país avançou muito em dez anos na preparação das forças de segurança em sua luta contra todas as formas de extremismo.

"O muro de contenção mais importante é o que temos que construir em cada um de nós", disse a chefe de Governo conservadora. "Para reforçar o muro contra a intolerância e os discursos de ódio", completou.

Muitos sobreviventes do massacre da ilha de Utøya consideram que, dez anos depois, a Noruega ainda não estabeleceu um processo contra a ideologia de extrema-direita que está por trás dos ataques.

"O racismo e o extremismo mortal de direita continuam presentes entre nós", destacou Astrid Eide Hoem, uma sobrevivente que hoje dirige a AUF.

"Estão na Internet, na mesa durante a refeição, em muitas pessoas que são muito ouvidas", completou. "É agora, de uma vez por todas, que temos que afirmar que não aceitamos mais o racismo, que não aceitamos o ódio".

Pouco depois dos atentados ocorridos durante seu mandato, Jens Stoltenberg, então primeiro-ministro e atual secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), prometeu responder com "mais democracia e mais humanidade".

Ao meio-dia, todos os sinos do país tocaram. A jornada terminará com um concerto e com um discurso do rei Harald.

Seguidores

Em 2012, o extremista foi condenado a 21 anos de prisão, uma pena que pode ser prolongada por tempo indefinido. Ele provavelmente passará o resto da vida atrás das grades.

B. continua, no entanto, a ter seguidores: sua sombra envolve diversos atentados, incluindo os ataques contra mesquitas, como o de Christchurch (Nova Zelândia), que deixou 51 mortos.

"As ideias de extrema-direita que inspiraram o ataque continuam sendo uma força motriz para os extremistas de direita no país e no exterior e inspiraram vários ataques terroristas na última década", advertiu esta semana o Serviço de Inteligência Norueguês (PST).

Na terça-feira (20), dois dias antes do aniversário, um monumento em homenagem à primeira vítima de racismo na Noruega, Benjamin Hermansen, assassinado por neonazistas em 2001, foi alvo de vandalismo com a frase "B. tinha razão".

O monumento nacional que homenageia as vítimas de B., à margem do lago Tyrifjorden, onde fica Utøya, ainda não foi concluído. A causa é a covid-19, mas também as repetidas disputas com os moradores.

Sequelas

Apesar da passagem do tempo, as feridas seguem abertas.

Um estudo publicado recentemente pelo Centro Nacional sobre o Estresse e a Violência Traumática (NKVTS) mostrou que um terço dos sobreviventes de Utøya prosseguiam no ano passado com transtornos importantes como estresse pós-traumático, ansiedade, depressão, ou dores de cabeça.

"Está claro que, quando você passa por algo assim, não volta a ser a pessoa que era antes", afirma Astrid Eide Hoem. "Tenho problemas para dormir, tenho medo. E acredito que terei que viver com isso pelo resto da minha vida".

Para piorar as coisas, muitos sobreviventes continuam recebendo ameaças e mensagens de ódio.

"Sei que alguém tentou me matar por causa das minhas crenças", disse uma das vítimas, Elin L'Estrange. "Então, se hoje alguém me diz que quer me ver morta, eu levo muito a sério, mesmo que não seja necessariamente assim".