Embora mais discreta, relação entre o Taleban e a Al-Qaeda se mantém forte
Os talebans foram expulsos do poder há 20 anos por permitirem que a Al-Qaeda organizasse os atentados de 11 de setembro. Agora, os insurgentes, de volta ao poder em Cabul, devem adotar mais prudência, embora seus vínculos com o grupo extremista possam continuar fortes.
Quando negociaram com Washington, os talebans prometeram que não protegeriam os combatentes da Al-Qaeda, fundada por Osama Bin Laden e responsável pelos mais graves atentados já executados contra os Estados Unidos. Mas esta promessa não convence ninguém.
"Os talebans nunca foram sinceros sobre a ruptura de suas relações com a Al-Qaeda e nunca deveríamos ter acreditado neles", afirmou Michael Rubin, ex-funcionário do Pentágono e pesquisador do conservador AEI (American Enterprise Institute).
"Não estamos falando de dois grupos militares que cortam suas relações, e sim de irmãos ou primos", disse.
"A presença dos Estados Unidos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) impediu que a Al-Qaeda utilizasse o Afeganistão como um santuário. Não podiam operar livremente. Agora, todas as apostas estão abertas", completou em uma entrevista à AFP.
As relações entre os dois braços do islamismo ultrarradical são muito próximas em vários aspectos.
Os pais de Sirajudin Haqani e do mulá Yaqubi, ambos altos dirigentes talebans, estavam vinculados a Bin Laden. O líder talebans Haibatullah Akhundzada foi elogiado como "emir dos fiéis" pelo líder da Al-Qaeda, Ayman al Zawahiri, quando foi nomeado em 2016.
Mas a natureza precisa de seus vínculos ainda deve ser definida. Os talebans não podem permitir-se cometer o mesmo erro que há 20 anos, sob risco de violentas represálias ocidentais, ou inclusive de isolamento da China ou Rússia, que muitos acreditam que reconhecerão rapidamente o novo regime.
O grupo fundado por Bin Laden também mudou profundamente nas últimas duas décadas. Com um funcionamento decentralizado, a Al-Qaeda chegou vários países do mundo, do continente africano ao sudeste da Ásia, passando pelo Oriente Médio.
E, apesar do enfraquecimento de seu órgão central, o grupo ganhou agilidade e resistência.
Uma presença mais clandestina
Sua presença no Afeganistão será mais clandestina, menos oficial, prevê Aymenn Jawad Al-Tamimi, pesquisador do programa sobre extremismo da Universidade George Washington.
"Não acredito que os talebans permitam que abram campos de treinamento que possam ser detectados a partir do exterior e bombardeados", afirmou.
Os novos governantes de Cabul podem tentar adotar uma política similar a que se acusa Teerã (Irã), ou seja, "manter os líderes da Al-Qaeda sob prisão domiciliar, enquanto possibilitam margem de manobra para que se comuniquem com seus afiliados no exterior".
No mínimo, a velocidade com que acabaram com o governo anterior demonstra sua força ante o regime, assim como os erros de interpretação dos países ocidentais a respeito dos acontecimentos.
"Observe o que a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA) ignorou: os talebans começaram a negociar com os líderes locais para conseguirem sua deserção e eles se mobilizaram por todo o país para se prepararem para ataques em cada capital de província", disse Michael Rubin.
Uma nova situação deve se impor em todo o país. O grupo responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001 pode sonhar, agora, com uma reconstituição.
"O que está acontecendo no Afeganistão é uma clara e contundente vitória da Al-Qaeda", afirmou Colin Clarke, diretor de pesquisas do Centro Soufan, com sede em Nova York (EUA).
"É um evento que poderá utilizar para atrair novos recrutas e criar um impulso que não consegue desde a morte de Bin Laden em 2011."
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