Topo

Esse conteúdo é antigo

Hotel de luxo se torna o foco central de investigação sobre ataque ao Capitólio

Apoiadores de Donald Trump invadem o Capitólio; à esquerda, homem exibe na mão tatuagem com símbolo de jogo de videogame, em sua mão esquerda - Saul Loeb/AFP
Apoiadores de Donald Trump invadem o Capitólio; à esquerda, homem exibe na mão tatuagem com símbolo de jogo de videogame, em sua mão esquerda Imagem: Saul Loeb/AFP

29/10/2021 14h33Atualizada em 29/10/2021 15h00

Uma "sala de situação" instalada em um luxuoso hotel de Washington por assessores do presidente Donald Trump se transformou no foco da investigação parlamentar sobre o violento ataque ao Capitólio dos Estados Unidos, no dia 6 de janeiro.

O estrategista político Steve Bannon e os assessores legais Rudy Giuliani e John Eastman trabalharam em suítes do Willard InterContinental, situado em frente à Casa Branca, durante os dias em torno do ataque, no qual seguidores do então mandatário invadiram o Congresso para evitar a confirmação da vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial.

Junto com outras pessoas, os indivíduos citados são suspeitos de terem organizado as comunicações entre a Casa Branca e os grupos envolvidos nos protestos que ficaram conhecidos como "Stop the Steal" ("Parem o Roubo", em tradução livre do inglês), de acordo com uma resolução parlamentar que acusa Bannon de ter incorrido em desacato na semana passada.

O polêmico estrategista, que desobedeceu a uma ordem para testemunhar na investigação dos fatos de 6 de janeiro, foi citado por seu "papel na elaboração da campanha 'Stop the Steal', que motivou o ataque" ao Capitólio e por "sua participação nos eventos daquele dia em uma 'sala de situação'" no Willard, segundo a resolução.

Centro de poder

No início deste ano, o investigador independente Seth Abramson documentou no site "Proof" ("Provas") que dezenas de pessoas envolvidas na tentativa de reverter a vitória de Biden nas eleições estiveram no hotel um pouco antes da invasão de 6 de janeiro.

Entre eles estavam o estrategista político de Trump, Roger Stone, o ex-porta-voz Jason Miller, o assessor de campanha Boris Epshteyn, e o ex-comissário de polícia de Nova York Bernard Kerik.

A comissão especial da Câmara dos Representantes que investiga a insurreição de 6 de janeiro está averiguando se pessoas próximas da Casa Branca, inclusive o próprio Trump, instigaram o ataque ao Capitólio.

A operação no hotel Willard também é citada no livro "Peril" ("Perigo"), dos jornalistas investigativos Bob Woodward e Robert Costa, do Washington Post, que relata as últimas semanas da Presidência de Trump.

De acordo com a publicação, Eastman desenvolveu uma estratégia legal para que o ex-vice-presidente Mike Pence bloqueasse a confirmação de Biden no Congresso alegando fraude, acusações que foram repetidas à exaustão pelo grupo de Trump, mas que não foram comprovadas.

Pontos de ataque

Em 5 de janeiro, Trump disse a seus seguidores que Pence tinha concordado em bloquear a confirmação de Biden no dia seguinte. Contudo, segundo Woodward e Costa, Pence rejeitou as pressões para fazê-lo em uma reunião noturna.

Após essa reunião, Trump fez pelo menos um telefonema ao Willard.

"Depois que as coisas não saíram bem para Trump, ele telefonou para a sala de situação no Willard [...] Coordenando um esforço para falar por" seu vice-presidente, disse Costa na segunda-feira (25) ao canal MSNBC.

Com quem Trump falou e o que foi dito é uma incógnita. A comissão de investigação busca registros de comunicações relacionados com o que aconteceu, e entrevistar outras pessoas que estiveram no hotel.

Bannon é uma figura-chave porque, de acordo com "Peril", ele encorajou Trump a usar as alegações infundadas de fraude eleitoral para desafiar a vitória de Biden e tentar impedir a confirmação em 6 de janeiro.

Sem sigilo

A operação no Willard, no entanto, não foi secreta. "Tínhamos uma sala de situação no Hotel Willard, coordenando praticamente todas as comunicações", disse Eastman ao radialista Peter Boyles em maio.

Seth Abramson também documentou um encontro-chave em outro hotel da capital, o Trump International, onde se reuniram, na véspera do ataque, os filhos de Trump, Giuliani, e vários assessores de primeiro nível e funcionários republicanos.

Em entrevista à MSNBC na segunda-feira, Woodward disse que as comunicações relacionadas com a Casa Branca e a operação Willard de 5 de janeiro serão cruciais para entender o que aconteceu no dia seguinte.

"Bannon e Trump se deram conta de que aquele era o ponto que tinham para fazer tudo explodir, e foi exatamente o que fizeram", disse.